QUASE GÊMEOS (FOTO: ILUSTRAÇÃO: OTÁVIO SILVEIRA)
O antigo programa lunar e o novo, batizados como os deuses irmãos da mitologia grega, até têm semelhanças, mas seus objetivos na essência são muito diferentes
POR A. J. OLIVEIRA | EDIÇÃO GIULIANA DE TOLEDO
Se Apollo foi o homenageado no programa dos anos 60, agora é sua irmã gêmea na mitologia grega, Artemis, quem dá nome ao projeto da Nasa para retornar à Lua em 2024 — com uma mulher na tripulação. Começam aí as diferenças, apesar do destino comum.
O contexto político em que cada programa foi criado também acentua as mudanças. Apollo é fruto da Guerra Fria e da corrida espacial. “Aquelas missões iniciais para a Lua tinham um único objetivo primário: sermos os primeiros a pousar na Lua”, afirma Sean Potter, do escritório de comunicações da Nasa. Ou seja, mais que um projeto de exploração científica ou de colonização lunar, Apollo era uma campanha para demonstrar a superioridade dos EUA em relação à União Soviética.
Com Artemis é diferente. “Nossa meta é estabelecer uma presença humana sustentável para toda a humanidade, então as espaçonaves de hoje também serão construídas segundo padrões internacionalmente reconhecidos, para acomodar diferentes sistemas”, explica Potter. Dessa vez, a ideia não é lançar expedições solitárias para pousar na Lua, ficar alguns dias e voltar. A Nasa quer liderar esforços que envolvem empresas e outras agências para construir uma estação espacial internacional na órbita lunar: o Gateway.
As missões Apollo nos deram acesso a regiões limitadas da Lua. “Queremos explorar toda a superfície, o Gateway nos permitirá pousar em qualquer lugar”, ele diz. É um novo programa pensado para ter um legado mais duradouro, com a promessa de ser a primeira etapa de nossa expansão pelo Sistema Solar.
Mesmo com sua imensa importância, Apollo foi um acampamento de fim de semana no terreno perto de casa. Artemis será o alicerce de uma segunda casa nesse terreno — e essa nova base vai facilitar, e muito, a dobrarmos a esquina para explorar o resto do bairro.
Quando o Olimpo vai à Lua
Entenda como figuras da mitologia grega inspiraram os nomes dos dois programas lunares tripulados dos EUA
Em um fim de tarde em 1960, enquanto folheava um livro de histórias mitológicas em sua casa, o diretor de programas de voo espacial da Nasa impressionou-se com uma figura. Ela mostrava um dos deuses mais reverenciados da Grécia Antiga em todo o seu esplendor. “Apolo conduzindo sua carruagem através do Sol era apropriado à grandeza da escala do programa proposto”, explicou futuramente Abe Silverstein. Foi ele quem abriu o precedente de dar nomes de deuses e heróis aos projetos espaciais tripulados, com o pioneiro programa Mercury, de 1958.
Apolo era o deus do arco e flecha, da profecia dos oráculos, da poesia e da música, da dança, do conhecimento, da cura e, acima de tudo, da luz e do Sol. Todos os dias ele montava em sua carruagem dourada e puxava o Sol em seu caminho pelo céu.
Mas por que, afinal, o nome das primeiras missões tripuladas à Lua foi inspirado pelo deus do Sol? É que, quando pensou no nome, Silverstein ainda não sabia que o destino do programa seria a superfície lunar. Até então, trabalhava com a ideia de uma continuidade aos voos espaciais com astronautas. Não sabia ao certo para onde.
Já para o grande retorno da Nasa à Lua no século 21, a escolha do nome, Artemis, foi mais intuitiva. Filha do rei dos deuses, Zeus, com a titã Leto, a gêmea de Apolo era associada à natureza selvagem, às florestas e colinas, ao arco e flecha. Era a deusa da caça, dos animais silvestres, da gravidez e dos partos, da castidade e — adivinhe só? — da Lua. Artemis surge naturalmente como símbolo dos novos tempos, principalmente, para destacar a promessa de fazer a primeira mulher pisar na Lua em 2024.
Despesas da deusa
Conheça alguns dos gastos previstos no orçamento da Nasa para realizar a Artemis
A CHEGADA DO HOMEM À LUA TEVE ALGUMAS PARTES DESCONFORTÁVEIS, COMO A FALTA DE BANHEIRO (FOTO: WIKIMEDIA COMMONS)
US$ 1 BILHÃO
Para desenvolver sistemas comerciais de pouso lunar tripulado três anos antes do previsto. A ideia é criar uma espaçonave reutilizável que parta do Gateway para a órbita baixa, libere um módulo de pouso e, na volta, um módulo de ascensão.
US$ 651 MILHÕES
Para concluir o desenvolvimento do sistema de transporte espacial SLS/Orion. A Nasa precisa terminar a construção do SLS, maior foguete de todos os tempos, e da moderna cápsula Orion, para levar astronautas ao Gateway e retorná-los à Terra.
US$ 132 MILHÕES
Para acelerar tecnologias que ajudem os astronautas a viver tanto na superfície lunar quanto no espaço profundo. Isso inclui estudos para melhorar o método de propulsão elétrica solar e para converter o gelo polar da Lua em água.
US$ 90 MILHÕES
Para a ciência, para incrementar a exploração robótica do polo sul lunar, onde os astronautas devem pisar em 2024, com pesquisas sobre a composição de substâncias voláteis e a geologia da maior cratera de impacto do Sistema Solar.
FONTE: REVISTA GALILEU
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