TODOS OS CAMINHOS LEVAM À LUA (FOTO: ILUSTRAÇÃO: OTÁVIO SILVEIRA)
O programa Apollo começou como uma missão impossível para os EUA, mas em somente oito anos a promessa de levar humanos à Lua virou realidade
POR A. J. OLIVEIRA | EDIÇÃO GIULIANA DE TOLEDO | ILUSTRAÇÃO OTÁVIO SILVEIRA | DESIGN FEU
Quando o então presidente dos Estados Unidos propôs, em maio de 1961, que seu país se comprometesse a mandar astronautas à Lua até o final daquela década, talvez não imaginasse o tamanho do desafio que colocava nas mãos da Nasa. Era uma missão impossível.
Na época do famoso discurso de Kennedy, os EUA não tinham um foguete capaz de levar humanos até nosso satélite natural, não tinham computadores compactos para guiar a espaçonave, sequer tinham trajes para os astronautas vestirem ou um meio de se comunicarem durante a viagem. Para falar a verdade, nem mesmo sabiam como chegariam lá.
No primeiro ano do programa Apollo, a Nasa gastou US$ 1 milhão com o projeto — quantia que seria consumida pela agência a cada três horas cinco anos mais tarde. Foi graças ao esforço de centenas de milhares de cientistas, engenheiros, técnicos e tantos outros profissionais que todos esses problemas, e muitos mais, foram resolvidos. Entre maio de 1961 e julho de 1969, o quebra-cabeça mais complicado da história foi montado.
Neil Armstrong, o comandante, Buzz Aldrin, o piloto do módulo lunar, e Michael Co-
llins, o piloto do módulo de comando, partiram da Terra em 16 de julho de 1969 no topo do lendário foguete Saturn V sem saber se voltariam vivos. “Havia numerosas incertezas, por isso todo mundo envolvido só podia considerar a missão um sucesso quando ela terminasse”, afirmou a Nasa à GALILEU por meio de sua assessoria de comunicação.
Mas deu tudo certo e, há exatos 50 anos, em 20 de julho de 1969, o módulo Eagle pousou na Base Tranquilidade. Armstrong e Aldrin deixaram uma placa que reforçava que haviam ido em paz, por toda a humanidade.
DÁDIVAS DE APOLLO
Conheça alguns dos principais avanços trazidos pelo programa
(ILUSTRAÇÃO: OTÁVIO SILVEIRA)
1. Terra
É irônico, mas os primeiros beneficiados pelo programa foram os geocientistas. Apollo 7 (1968) e Apollo 9 (1969) tiraram fotos da Terra em vários comprimentos de onda, revelando elementos até então invisíveis.
2. Engenharia
Equipamentos das cápsulas Apollo foram usados na Skylab, primeira estação espacial dos EUA, lançada em 1973. Lições da Apollo também ajudaram a projetar ônibus espaciais mais resistentes, leves e seguros.
3. Amostras
Astronautas trouxeram 382 quilos de rochas lunares, que geram descobertas até hoje — elas nos ensinam sobre Lua, Terra e Sistema Solar. Em 2015, saíram mais de 2,5 mil papers com dados da Apollo.
4. Diplomacia
As relações internacionais se beneficiaram muito. Em 1975, a última cápsula do programa acoplou-se em órbita com uma Soyuz soviética — a semente que culminou na Estação Espacial Internacional.
UM SALTO GIGANTESCO PARA A CIÊNCIA
Descobertas resultantes das missões da Nasa na década de 60 revolucionaram conhecimento sobre os planetas
Mesmo com o viés político que ofuscava os objetivos científicos do programa, as missões Apollo se tornaram um dos momentos mais prolíficos na história da ciência. Não é exagero dizer que quase tudo o que sabemos sobre o Sistema Solar foi descoberto graças a essas expedições.
Nossa visão da Lua mudou profundamente. Se antes ela era tida como um objeto primordial de origem e estrutura incertas, passou a ser vista como um mundo complexo, não tão diferente da Terra em vários pontos. Dona de um passado geológico bastante ativo (entre 4,6 e 4,4 bilhões de anos atrás, era coberta por um profundo oceano de magma), seu material rochoso já foi derretido, entrou em erupção através de vulcões e foi esmagado por impactos de meteorito repetidas vezes.
Como evoluiu sob a influência gravitacional terrestre, tornou-se um pouco assimétrica. Sua superfície é coberta por uma grossa camada de poeira e fragmentos de pedra: o regolito lunar. Ele preserva um registro químico único de 4 bilhões de anos de radiação solar — importante para entender mudanças climáticas na Terra.
Ao estudar a Lua, os cientistas se sentem como paleontólogos espaciais: as rochas lunares mais jovens têm a mesma idade que as terrestres mais velhas. Aqui, a tectônica de placas e a erosão estão sempre modificando as superfícies mais antigas. Na Lua, elas permanecem intocadas. Estudos sobre as rochas de lá e de cá também deixaram claro que as composições são bem parecidas. Portanto, a Terra e seu satélite natural têm uma origem comum.
Mas há um ponto em que são muito diferentes: muito já se testou à procura de sinais de vida, passada ou presente, nas amostras lunares — e nada foi encontrado.
FONTE: REVISTA GALILEU
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