Por Patrícia Gnipper
Agências espaciais estatais, como a NASA, a europeia ESA, a chinesa CNSA e a russa Roscosmos, estão protagonizando uma nova Corrida Espacial pelo domínio do espaço, com o foco no momento sendo direcionado para a Lua. Todas essas agências têm seus planos de se estabelecer no espaço entre Terra e Lua de maneira permanente, seja com a criação de uma estação lunar orbital por parte da NASA, com bases lunares fixas por parte da ESA e da CNSA, ou com a criação da nova estação espacial chinesa na órbita da Terra. Mas as empresas privadas também estão de olho nessa empreitada, com a Gateway Foundation tendo planos ambiciosos de criar uma gigantesca estação espacial rotativa na órbita da Terra, que poderia abrigar 30 mil pessoas por ano.
A estação espacial rotativa tem sua concepção baseada em projetos propostos pelo cientista espacial alemão Werner von Braun, que foram publicados na revista Collier's nos anos 1950 em matérias prevendo a conquista do espaço pela humanidade. Por isso, a Gateway nomeou o projeto de "The Von Braun Rotating Space Statio n". Vale lembrar que a ideia de von Braun foi usada como inspiração para a criação da estação espacial que aparece em 2001: Uma Odisseia no Espaço, filme de Stanley Kubrick e co-escrito pelo autor de ficção científica Arthur C. Clarke.
E, agora, a Gateway quer tirar as ideias de von Braun do papel e também fazê-las saírem do ambiente da ficção, transformando-as em realidade. Tal estação garantiria a presença permanente de humanos no espaço, e seria capaz de fornecer gravidade artificial para seus habitantes — o que é importante, pois já sabemos que a exposição a longo prazo à microgravidade afeta o organismo humano de diversas maneiras prejudiciais, como perda de massa muscular e densidade óssea.
E, para John Blincow, CEO da Gateway, construir essa estação espacial com gravidade artificial não somente resolverá este problema, como também servirá como palco de estudos práticos para descobrirmos o quanto a gravidade de Marte pode ser benéfica ou prejudicial ao se considerar as futuras missões que levarão pessoas para lá.
A estrutura da estação consiste em dois anéis internos concêntricos fixados por quatro raios em um anel externo, com os dois anéis internos fazendo parte da área de gravidade, com a rotação fornecendo uma força gravitacional igual à da superfície da Lua. Já o anel externo é onde os módulos de habitação serão colocados, onde turistas passarão um tempo e de onde poderão observar o espaço ao seu redor, incluindo assistir às naves chegando à estação. Mas pelo menos um ambiente de baixa gravidade está previsto para existir ali, onde os visitantes poderão experimentar a microgravidade e se divertir com isso. Ainda, o anel externo pode experimentar uma rotação mais rápida, por estar mais distante do núcleo, o que resultará em uma força gravitacional artificial similar à de Marte. Essa área terá 4 ou 5 pavimentos e ali estarão localizados os grandes módulos com as acomodações permanentes.
Blincow explica que "a estação espacial de Von Braun será rotativa, projetada para produzir níveis variáveis de gravidade artificial, aumentando ou diminuindo a taxa de rotação", e "a estação será projetada desde o início para acomodar pesquisas de baixa gravidade e turistas espaciais que queiram experimentar a sensação de microgravidade com o conforto de um bom hotel", com quartos privados de luxo, restaurantes e até mesmo escritórios. Um espaço para acomodar tripulações de agências espaciais também está no planejamento.
O resultado, portanto, será um empreendimento privado que combina tudo o que acontece na Estação Espacial Internacional com o turismo espacial, em uma só estação gigantesca e ainda por cima equipada com gravidade artificial. Blincow não revelou ainda quanto custará a construção de um empreendimento tão ambicioso, mas antecipou que a empresa pretende contar com os foguetes reutilizáveis da SpaceX para reduzir os custos de lançamentos individuais durante a construção da estação, que seria montada por partes no espaço.
E quanto a financiamentos para viabilizar o projeto, o CEO da Gateway indica que a empresa espera conseguir parcerias com agências espaciais ao redor do mundo, e também com outras empresas aeroespaciais, além de arrecadar dinheiro através de vendas antecipadas de ingressos turísticos e também com a venda de módulos habitacionais para pessoas realmente muito ricas, interessadas em comprar um "apartamento" no espaço.
E, além da construção da estação espacial, a Gateway também pretende criar uma frota de veículos trans-atmosféricos capazes de transportar pessoas da Terra para a estação, e também fazer o trajeto de volta de lá para cá. Ainda, uma "ponte lunar" está prevista para permitir viagens regulares entre a Terra e a Lua, como se fosse uma via expressa de turismo espacial entre nosso planeta e seu satélite natural.
Com tudo isso em mente, podemos dizer que os planos da Gateway Foundation são dignos de uma boa ficção científica, e caso a empresa realmente consiga os investimentos e parcerias necessárias, em um futuro não muito distante estaremos vivendo em um mundo que, hoje, só vislumbramos nos livros, filmes e séries de sci-fi. Resta agora continuar acompanhando a empreitada fantástica para ver se a coisa vai mesmo sair do papel, ou se a Gateway poderá ter o mesmo destino da Mars One, startup que pretendia levar colonizadores a Marte e transmitir o dia a dia deles aqui na Terra como se fosse um reality show, mas que declarou falência recentemente.
Abaixo, você confere algumas imagens conceituais de como será a estação espacial inspirada na ideia de von Braun:
A sala de controle da estação que parece ter saído de um filme de Hollywood (Imagem: Gateway Foundation)
Este seria um restaurante na estação espacial (Imagem: Gateway Foundation)
Projeto da sala de observação da estação, em que turistas poderiam observar a Terra do espaço e assistir nas telinhas às naves chegando em tempo real (Imagem: Gateway Foundation)
FONTE: Uniserse Today, Gateway Foundation via canaltech.com.br
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