História emocionante da pequena Luna foi concebida por três animadores digitais talentosos que deixaram a Disney para perseguir o sonho de montar o próprio estúdio de animação - LUNA EM ONE SMALL STEP (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Quando um curta-metragem consegue transmitir em sete minutos mais sentimentos que muito filme de duas horas por aí, ele merece ser assistido. Se a história for bem contada a ponto de tirar lágrimas dos olhos em tão pouco tempo, e ainda introduzir inovações artísticas ao campo da animação digital, é digna de concorrer ao Oscar.
Indicado à categoria de Melhor Curta-Metragem na premiação de 2019, One Small Step (Um Pequeno Passo) foi lançado na internet e nos festivais de cinema em setembro do ano passado. A obra conta a comovente história de Luna, uma garotinha que tem o sonho de se tornar astronauta quando crescer. Ela vive na cidade grande com o pai, um humilde sapateiro que faz tudo ao seu alcance para apoiar a filha.
Mas uma série de dificuldades se impõem pelo caminho. "Nos propusemos a contar uma história que celebra as pessoas que apoiam umas às outras em busca de seus sonhos", disse à GALILEU o animador digital Shaofu Zhang, produtor do curta. "É sobre ir atrás dos seus objetivos com paixão e tentar alcançá-los apesar dos obstáculos", conta o fundador e CEO do Taiko Studios, cujo primeiro projeto de peso foi One Small Step.
Ele abriu seu estúdio em 2017 com a meta ambiciosa de criar uma ponte entre o Ocidente e o Oriente através da animação. No passado, sua família emigrou de Wuhan, na China, para Raleigh, na Carolina do Norte, e ali abriu uma alfaiataria. Anos mais tarde, ele se formou na Academy of Art University, em São Francisco, e foi trabalhar como animador na Walt Disney Studios, onde participou da produção de filmes como Moana e Zootopia.
Na Disney, conheceu os colegas Andrew Chesworth e Bobby Pontillas, que seriam escalados para a direção de desenvolvimento e de arte, respectivamente, no Taiko Studios. Juntos, os três passaram os últimos dois anos montando um time criativo empenhado em contar histórias envolventes e universais, com apelo global, expandindo as fronteiras da animação.
Em muitos aspectos, o roteiro de One Small Step reflete as histórias de vida dos produtores. Zhang relata que o avô de Chesworth reconheceu desde cedo o talento do neto para a animação, desdobrando-se para encorajá-lo em sua trajetória. Já a mãe de Pontillas saiu com o filho das Filipinas e o criou sozinha nos Estados Unidos. "Nós três dividíamos o sonho de virar animadores da Disney assim como Luna sonhava se tornar astronauta", conta Zhang. "Família, trabalho duro e gratidão estão no centro de nossas jornadas."
O processo criativo por trás do curta foi colaborativo, com cada um cavando fundo nas próprias experiências para tecerem juntos a narrativa. Esse caráter profundamente pessoal do roteiro, unido à ousadia estética da animação, tiveram um resultado brilhante: um estilo artístico que dá a sensação de arte conceitual em movimento em vez do visual moderno de computação gráfica.
"Queria combinar as melhores partes da ilustração digital e da moderna animação 3D indo de encontro a uma direção totalmente nova", afirma Pontillas. One Small Step é uma obra envolvente e complexa que evolui conforme as emoções da personagem, tornando-se às vezes sombria, às vezes luminosa. Cada nota da trilha sonora composta por Steve Horner desde o início da produção é essencial para criar a atmosfera. "Tem sido um projeto dos sonhos para mim", diz Horner, que inspirou as composições na relação com a própria filha.
CENA DO CURTA ONE SMALL STEP (FOTO: DIVULGAÇÃO)
Repercussão
Depois de rodar o mundo nas telas de festivais e colecionar dezenas de prêmio, a primeira empreitada do Taiko Studios é um sucesso de público e de crítica. Zhang ressalta que as plateias se identificaram com a história da pequena Luna, que as lembrava de seus próprios sonhos, quer fosse atuar na medicina, na música e, claro, ser astronauta. "Ir ao espaço foi o veículo para contar a jornada de Luna, mas realmente poderia ter sido qualquer coisa", diz.
One Small Step ganha ainda mais significado por vir à tona poucos meses antes do aniversário de 50 anos do primeiro pouso lunar da história. Ao refletir sobre o programa espacial da China, que tem protagonizado feitos incríveis nos últimos anos, Zhang vê semelhanças com o passado dos Estados Unidos no espaço. "Acho que a energia e ambição de hoje é um espelho da NASA na década de 1960", compara. As missões da agência espacial chinesa (CNSA) foram as principais referências para o curta.
Sobre a missão Apollo 11 e os programas espaciais em geral, ele destaca que, apesar dos aspectos nacionais, a exploração do Universo é um empreendimento humano. "Todos encaravam o pouso na Lua como uma conquista da humanidade, não só de um país", afirma. Também buscaram inspiração nas pioneiras da exploração espacial: Liu Yang, primeira chinesa no espaço, a russa Valentina Tereshkova, primeira mulher no espaço e também a mais jovem (com apenas 26 anos) e Sally Ride, primeira norte-americana no espaço.
Às garotas que sonham em seguir os passos de Luna e das inspiradoras taikonautas, cosmonautas e astronautas, Zhang aconselha que trabalhem duro para alcançar seus objetivos, sejam resilientes e, ao mesmo tempo, gentis com as pessoas ao redor. "Agora mesmo, existem jovens pelo mundo que estão sendo inspiradas a se tornar a próxima geração de viajantes espaciais", diz. "Talvez algumas delas estejam lendo esta matéria."
CURTA SOBRE SONHO DE SE TORNAR ASTRONAUTA FOI INDICADO AO OSCAR (FOTO: DIVULGAÇÃO)
FONTE: REVISTA GALILEU
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