Com uma inigualável precisão para detectar e analisar as características dos exoplanetas, o Espresso – um poderoso espectrógrafo instalado no Observatório de Paranal, no norte do Chile – será o melhor aliado dos astrônomos para buscar vida extraterrestre.
Quando começar a funcionar em outubro próximo, este sofisticado instrumento trabalhará para ampliar o alcance e a potência dos quatro enormes telescópios VLT (Very Large Telescope) instalados em Paranal, sob a tutela do Observatório Europeu Austral (ESO), em pleno deserto do Atacama.
Essa região tem um dos céus mais limpos do planeta, com características favoráveis para a observação do espaço. Por esse motivo, é lá que estão os maiores observatórios. Estima-se que 70% da infraestrutura astronômica do mundo esteja concentrada no Chile até 2020.
O Espresso (Echelle Spectrograph for Rocky Exoplanet and Stable Spectroscopic Observations, ou Espectrógrafo para Exoplanetas Rochosos e Observações Espectroscópicas Estáveis) é um projeto sem precedentes que ajudará a lançar mais luz sobre os exoplanetas.
De acordo com o astrônomo do ESO e um dos líderes desse projeto, italiano Gaspare Lo Curto, “o Espresso estará disponível nos quatro telescópios ao mesmo tempo, algo nunca antes realizado, motivo pelo qual as probabilidades de encontrar planetas similares à Terra em massa e em tamanho, ou em condições para vida, são maiores”.
O trabalho desse instrumento consistirá em reunir toda luz que os telescópios VLT coletam de alguma estrela orbitada pelo exoplaneta, o que permitirá medir o deslocamento de ambos os corpos. Este método é conhecido como “velocidade radial”.
Por meio dele, os cientistas obterão dados do exoplaneta, como sua atmosfera, se conta com oxigênio, nitrogênio, dióxido de carbono, ou mesmo água, elementos vitais para a vida.
A luz que os telescópios recebem viaja por túneis que atravessam a superfície e chega mediante lentes ópticas até o Espresso, onde a informação da luz chega por cabos de fibra óptica. O Espresso será operado da sala de controle do Observatório Paranal.
– Um salto de rapidez e qualidade –
Desde 1995, quando os astrônomos suíços Michel Mayor e Didier Queloz descobriram o primeiro exoplaneta (planetas que se encontram fora do Sistema Solar), os especialistas assumiram a tarefa de esquadrinhar os confins do Universo para estudar esses corpos celestes. Ainda não conseguiram determinar, porém, se algum deles tem condições parecidas com as da Terra.
Até hoje o espectrógrafo mais preciso instalado no Observatório La Silla –também no deserto do Atacama -, o Harps se verá superado pelo Espresso, em função de sua maior precisão para medir exoplanetas.
“O Espresso terá uma precisão dez vezes maior do que o instrumento mais preciso que existe no mundo, que é o Harps, e ainda vai ter uma flexibilidade, porque poderá ser usado por cada um dos telescópios de Paranal”, afirmou Lo Curto.
O espectrógrafo também aproveitará os 8,2 metros de diâmetro dos espelhos dos telescópios de Paranal, superior aos 3,6 metros do instrumento de La Silla.
Todas essas potencialidades permitirão ao Espresso ser capaz de detectar planetas menores, parecidos em tamanho e massa à Terra.
“É uma grande oportunidade ter um instrumento tão avançado quanto o Espresso. Por suas capacidades, vai-nos ajudará a responder a uma das grandes perguntas que temos na Astronomia, que é analisar e entender planetas extrassolares”, declarou à AFP o astrônomo chileno Rodrigo Herrera Camus, do Instituto Max Planck, da Alemanha.
Este novo instrumento astronômico foi instalado no início do ano passado a cerca de quatro metros de profundidade da plataforma, na qual se encontram os telescópios VLT, no monte Paranal, a 2.600 metros de altitude.
O Espresso, que hoje está em fase de testes, foi colocado dentro de um contêiner metálico como proteção, já que conta com sofisticados e delicados instrumentos ópticos, e porque deve estar a uma temperatura média de 150ºC abaixo de zero.
Inaugurado em 1998, o Observatório óptico Paranal é catalogado como o mais complexo de sua classe por seus diferentes instrumentos e telescópios que permitem aos astrônomos uma ampla gama de pesquisas em áreas limitadas para os outros observatórios.
Vista de um VLT em Paranal, 1.150 km ao norte de Santiago, no Chile, em 6 de fevereiro de 2018 - AFP
FONTE: REVISTA ISTOÉ
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