Pular para o conteúdo principal

A hipersensibilidade eletromagnética é uma doença real?



Por: Alison Nastasi

A National Radio Quiet Zone (NRQZ) é uma área de 33 mil quilômetros quadrados na Virgínia Ocidental, Virgínia e parte de Maryland que restringe fortemente transmissões de rádio e outras radiações eletromagnéticas no mesmo espectro. Desde 1958, a proibição minimiza a interferência com o Observatório Nacional de Astronomia de Rádio, que abriga o maior telescópio de rádio totalmente orientável do mundo.

Nos últimos anos, no entanto, a NRQZ tem sido um refúgio seguro para pacientes com hipersensibilidade eletromagnética (HE), que atualmente não é reconhecida como um diagnóstico médico, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. As pessoas que afirmam sofrer de HE relatam uma variedade de sintomas, que incluem problemas dermatológicos, como vermelhidão ou sensações de queimação, e outros sintomas, como fadiga, palpitações cardíacas e náuseas.

Os fãs da série de televisão Better Call Saul viram a estranha e desesperadora doença por meio da história de Chuck McGill, interpretado por Michael McKean – um advogado duro e ex-estrela de sua profissão que se cobriu com cobertores espaciais, iluminava sua casa com lanternas e fazia seus visitantes deixarem seus celulares do lado de fora da casa.

Até agora, os resultados dos estudos de HE foram inconsistentes. Na verdade, os pacientes experimentaram os sintomas, independentemente de serem ou não expostos a campos eletromagnéticos reais. Experiências duplamente cegas (onde nem o sujeito nem o pesquisador sabem se o sujeito está sendo exposto a campos eletromagnéticos reais ou simulados) não mostraram evidência de HE de sintomas causados por campos eletromagnéticos.

No Giz Asks desta semana, falamos com médicos, pesquisadores e trabalhadores médicos de campo com uma grande variedade de opiniões, de comuns a experimentais. A HE é um diagnóstico médico válido? Importa se o HE é uma doença real ou não, já que as pessoas dizem sentir dor? É possível superar a HE se você perceber que não tem um problema e é apenas o resultado de alguma obsessão ou paranoia?

Dr. Jonathan Pham

Médico e pesquisador médico que trabalha no COSMOS (um estudo internacional que investiga se as tecnologias de telefonia móvel e RF-EMF a longo prazo causam resultados adversos para a saúde), Departamento de Epidemiologia e Bioestatística (uma unidade especializada em pesquisa EMF ambiental) no Imperial College de Londres

Na última década, o uso de celulares e outras tecnologias sem fio tornou-se presente em nossas vidas cotidianas, não só em nossas casas, mas também em locais de trabalho e escolas. Essas tecnologias emitem campos eletromagnéticos (EMF) na faixa de radiofrequência.

Um pequeno número de indivíduos relatou uma série de sintomas que eles atribuem à exposição aos campos magnéticos MF. Isso foi chamado de hipersensibilidade eletromagnética (HE). Para alguns indivíduos, esses sintomas podem ser leves, e para outros, severamente incapacitantes, impedindo-os de trabalhar ou fazer tarefas diárias simples, como cozinhar ou cuidar de si mesmo.

Infelizmente, muito pouco se sabe sobre os mecanismos fisiológicos pelos quais a HE causa os sintomas. Apesar de seu nome, um número de estudos mostrou não haver correlação entre os sintomas do HE e a exposição RF-EMF.

Dada a falta de evidências que ligam a exposição aos campos eletromagnéticos e a HS, outros gatilhos dessa doença foram propostos. Estes incluem outros fatores ambientais, como o ruído e a iluminação, bem como fatores psicológicos, como estresse e doença mental. Os estudos a esse respeito são, infelizmente, limitados.

Quanto à questão de saber se essa é uma doença real: apesar da relação improvável entre campos eletromagnéticos e sintomas de HS, eu diria que indivíduos que sofrem desse subconjunto de sintomas precisam de cuidados médicos e alívio do desconforto, assim como indivíduos que sofrem de qualquer outra condição. O que torna isso difícil é a nossa atual falta de compreensão dessa condição: seja ela uma condição ou uma coleção, quais são os gatilhos reais e se é de natureza fisiológica, ambiental ou psicológica. Portanto, pesquisas adicionais são necessárias nesse campo, o que será essencial para orientar o atendimento médico de qualidade para esses indivíduos.

James Hamblin, Médico

Apresentador da série de vídeos If Our Bodies Could Talk, editor sênior da The Atlantic

Eu adoro Better Call Saul e achei que fizeram um bom trabalho mostrando a complexidade de uma desordem como essa. Não seria apropriado dizer que não é real. Eu acho que isso é bem claramente algo que existe na vida, não negue a realidade do sofrimento de outras pessoas.

A questão é: os sintomas são causados ​​por campos eletromagnéticos e em que sentido? É aí que fica complicado, em termos de pessoas argumentando se isso é verdade ou não. Eu penso nisso como algo análogo a uma fobia, e eu sei que isso não é uma comparação perfeita, mas pense em um “medo de alturas” muito extremo, a acrofobia. Se você levar alguém que sofre disso para um arranha-céu e fizer essa pessoa olhar para baixo, mesmo que ela esteja atrás do vidro ou qualquer outra barreira que lhe torne impossível de cair e ela souber que não pode cair, ela ainda pode ter todos os sintomas, batimento cardíaco acelerado, pressão sanguínea elevada, bombeamento de hormônios de estresse. Se ela já sofreu com uma doença cardiovascular, poderia até mesmo ter um ataque cardíaco, e isso poderia ser fatal. Você matou essa pessoa. E se você for lá e gritar “falso!”, isso não é insensível, é ignorante, e possivelmente complicado legalmente. Então, isso existe. O mecanismo da reação funciona através da percepção de altura, não a altura em si. E acho que pode ser útil pensar em “hipersensibilidade” eletromagnética da mesma maneira.

Não temos nenhum motivo, a meu ver, de acreditar que a radiação eletromagnética de uma lâmpada pode causar diretamente uma reação severa da mesma forma que o amendoim pode colocar em risco uma pessoa alérgica. O mecanismo é diferente e precisa ser tratado de acordo, mas não há razão para pensar um como real e outro não, ou comparar o quão válido é o sofrimento de qualquer pessoa.

Jeffrey Mogil, Ph.D.

Líder do Pain Genetics Lab na McGill University, E.P. Taylor Professor de Estudos da Dor, Canada Research Chair em Genetics of Pain (Tier I), diretor do Alan Edwards Centre for Research on Pain

Não acho que as pessoas consigam criar dor nas suas mentes. Doenças reais produzem dor real, e só porque a HS não possui explicação médica atual não significa que não seja real. Imaginavam que a fibromialgia não era “real”, até que os estudos de imagem mostraram ativação cortical nas mesmas áreas cerebrais que a dor “real”, e agora sabemos que alguma porcentagem razoável de pessoas com fibromialgia realmente possui polineuropatia de fibra pequena, que só é diagnosticável com coloração especializada em biópsia.

Dito isso, está longe de ser credível que a radiação eletromagnética das freqüências e intensidades nos produtos de uso atual possa produzir qualquer patologia real, então permaneço extremamente cético em relação a essa “doença” em particular.

Harriet A. Hall, Médica

Médica de família aposentada e ex-cirurgiã da Força Aérea, colunista da revista Skeptic, editora colaboradora da Skeptic e do Skeptical Inquirer, conselheira médica e autora do Quackwatch

Não é real. Quando os pacientes foram testados, eles não conseguiram saber se os dispositivos eletrônicos estavam ou não ligados. Eles estão realmente sofrendo, e culpar seus sintomas no HS só distrai a busca da causa real de seus sintomas para ajudá-los. Claro que importa se é real ou não: o contato com a realidade é muito mais eficaz do que as crenças imaginárias na resolução de problemas.

David O. Carpenter, Médico

Diretor do Institute for Health and the Environment, um Centro Colaborador da Organização Mundial de Saúde da Universidade de Albany

A hipersensibilidade eletromagnética é uma doença real. E importa se é real ou não. Claramente, algumas pessoas sofrem de doenças crônicas e gostariam de culpar as ondas eletromagnéticas, quando na verdade não são eletrossensíveis. Provavelmente há mais pessoas eletrossensíveis, mas não identificaram ainda a causa de seus sintomas. A razão pela qual importa se alguém é realmente sensível às ondas eletromagnéticas é que você pode reduzir seus sintomas ao evitar exposição excessiva. Isso é especialmente importante para aqueles que são eletrossensíveis, mas não identificaram a causa. Existem também outras causas de sintomas semelhantes não específicos, tais como exposições químicas, de modo que nem todos os sintomas daqueles que não são eletrossensíveis são devidos a problemas psicológicos, mesmo que alguns sejam.

Wendell Wallach

Estudioso do Centro Interdisciplinar de Bioética da Universidade de Yale e consultor sênior do The Hastings Center, autor de “A Dangerous Master: How to Keep Technology from Slipping Beyond Our Control”

Deve ser feita uma distinção entre a sensibilidade eletromagnética e os sintomas que a identificam como tal. Os pesquisadores falharam em provar que quem diz sofrer de sensibilidade eletromagnética pode determinar com precisão a presença de um campo eletromagnético forte. No entanto, os sintomas percebidos são reais para o paciente e devem ser tratados como tal, ou até que possa ser demonstrado que eles são psicossomáticos ou possuem alguma outra fonte física. Muitas pessoas que meditam, por exemplo, percebem movimentos de energia em seu corpo e aprendem a trabalhar com eles. Mas uma segunda distinção deve ser feita entre aqueles que trabalham com sucesso com estados psicológicos incomuns e aqueles que os acham debilitantes. Para o segundo, medicamentos ou prática meditativa podem ou não ser úteis. Superar, desativar ou sublimar estados mentais debilitantes nunca é fácil.

Ilustração do topo: Angelica Alzona/Gizmodo

FONTE: GIZMODO BRASIL

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Uma Nova Etapa!

Passados dez anos, Ufos Wilson trocou de nome e plataforma! Agora nos chamamos Banco de Dados Ufológicos e Científicos (BDUC). Nosso conteúdo segue o mesmo, levando informações sérias com foco principal na Ufologia Científica, porém divulgando e abrangendo todas as disciplinas científicas! A seguir o link do site, compartilhem e divulguem: https://bancodedadosufologicosecientificos.wordpress.com/

Arquivo Ovni: Caso Jardinópolis

Jardinópolis esta distante 335 km da capital paulista, localizada na região de Ribeirão Preto foi palco de um acontecimento insólito na noite de 27 de dezembro de 2008, onde um grupo de adolescentes na época teriam presenciado a descida de luzes vermelhas e azuis num terreno baldio próximo de onde estavam, um dos garotos tomou uma imagem com seu celular, porém de baixa resolução. A seguir trecho extraído do blog feito por membros dos familiares dos jovens, contendo relatos e frame do vídeo feito. Relato dos envolvidos: "Por Luciene [AVISTAMENTO DE MEU FILHO] Sábado 27/12/2008, meu filho de 15 anos chega assustado em casa aproximadamente umas 23:45. Meu filho faz parte de um grupo de jovens da igreja católica, e acabando a missa, ele e seus amigos foram para uma pracinha. Essa pracinha fica em um bairro novo. E próximo daquele lugar tem uns terrenos baldios cheios de mato. Eles estavam conversando quando avistaram de longe luzes vermelhas e azuis no céu e logo essa luz

O caso Roswell nordestino: Queda de UFO na Bahia, em Janeiro de 1995

Por Ufo Bahia: Nessa data, as 09:00 horas, uma in­formante do G-PAZ, "M" da TV BAHIA me ligou contando uma mirabolante his­tória de queda de um UFO em Feira deSantana(BA) a 112 Km de Salvador. Umfazendeiro de apelido Beto, tinha ligadopara TV SUBAÉ daquela cidade oferecen­do – em troca de dinheiro – um furo dereportagem; um disco voador tinha caído na sua fazenda e ele tinha provas e ima­gens do fato! Apenas depois do meio dia, conse­gui – por fim – falar com Beto, que apóssua proposta de negócio, ante minha (apa­rente) frieza, me contou com bastante de­talhes o acontecido. Soube que tambémtentara vender suas provas a TV BAHIA,onde procurou o repórter José Raimundo: "Ontem pela madrugada caiu algu­ma coisa na minha fazenda, dentro de umalagoa. Era do tamanho de um fusca; aqui­lo ficou boiando parcialmente submerso,perto da beirada. Tentei puxar como pude,trazendo para perto de mim, com uma vara.Aquilo parecia um parto... (quando seabriu uma porta) começou primeiro a s