MAPA DA LUA DE 1961 DA ENTIDADE U.S. GEOLOGICAL SURVEY, DOS EUA (FOTO: HACKMAN, R. & MASON, A., ENGINEER SPECIAL STUDY OF THE SURFACE OF THE MOON, 1961 (2ND EDITION)/WIKIMEDIA COMMONS)
Sistema foi essencial para que as missões Apollo, da Nasa, chegassem ao satélite natural da Terra na década de 1960
POR TIMOTHY SWINDLE
Em uma reunião da União Astronômica Internacional em 1955, o astrônomo Gerard Kuiper pediu sugestões e colaboradores para mapear a Lua. Naquela época, os melhores atlas lunares possuíam imagens desenhadas à mão, e ele queria usar telescópios de última geração para criar um mapa fotográfico. No entanto, apenas uma pessoa respondeu.
Isso foi indicativo de como a comunidade astronômica agia em relação à Lua. Afinal, os telescópios foram projetados para observar objetos distantes, e a Lua é bastante próxima e tediosa, visto que sua aparência não muda. Além disso, Kuiper queria fazer um mapa, e esse é o tipo de coisa que os geólogos, não os astrônomos, fazem.
Kuiper prosseguiu com a ideia e, em 1960, mudou sua pequena operação para a Universidade do Arizona em Tucson, nos Estados Unidos. Lá, ele poderia aproveitar os picos das montanhas, os céus limpos da região e a disposição da faculdade para apostar em um campo de estudo que desafiava os departamentos tradicionais.
No ano seguinte, o presidente dos EUA, John F. Kennedy, anunciou que a meta nacional para a década era enviar um homem à Lua. De repente, a busca por mapas lunares se tornou uma prioridade.
Nos anos seguintes, o Laboratório Lunar e Planetário de Kuiper produziu imagens progressivamente melhores da Lua, usando telescópios construídos para esse fim. Mais tarde, foram usadas imagens de uma espaçonave robótica para produzir uma série de atlas cada vez mais sofisticados.
Olhando para a Lua
Os primeiros atlas lunares do laboratório consistiam nas melhores imagens de um telescópio. Mas os cientistas perceberam que poderiam fazer melhor. A Lua sempre mantém a mesma face em direção à Terra. Ainda assim, as áreas afastadas do centro sempre aparecem distorcidas.
Para corrigir isso, os pesquisadores desenvolveram um globo branco com um metro de diâmetro e projetaram uma imagem telescópica de alta qualidade a partir do corredor do laboratório. Movendo-se ao redor do globo, as características da superfície apareceram como se fossem de cima. Perto das bordas da porção visível da Lua, as formas mudaram, com ovais se tornando círculos e linhas onduladas se tornando estruturas detalhadas. Embora a ideia tenha sido sugerida antes, o “Atlas Lunar Retificado” foi provavelmente o melhor uso já feito da técnica.
ESTUDANTE DO LABORATÓRIO PLANETÁRIO E LUNA,R WILLIAM HARTMANN, TIRA UMA DAS IMAGENS PARA O ATLAS LUNAR RETIFICADO, QUE USOU UMA IMAGEM PROJETADA EM UM GLOBO BRANCO PARA REMOVER A DISTORÇÃO DA LUA (FOTO: LPL/UNIVERSITY OF ARIZONA)
Além disso, o processo produziu visões cientificamente valiosas. O estudante de pós-graduação William Hartmann, enquanto andava ao redor do globo para tirar as imagens “retificadas”, notou que em uma extremidade da Lua havia uma característica – agora conhecida como Mare Orientale – semelhante a bacias já conhecidas dos observadores de telescópios. Mas havia diferenças cruciais.
Por um lado, tinha menos crateras de impactos posteriores, sugerindo que eram mais jovens e preservadas. Além disso, tinha uma aparência distinta, com locais montanhosos concêntricas formando anéis.
Hartmann percebeu que isso poderia ter sido o que todas aquelas bacias tinham antes de serem crateras de impacto e fluxos de lava. Essa ideia levou Hartmann e outros cientistas a sugerirem que a Lua se formou como resultado de um impacto gigante na Terra – teoria que ainda é a base para a origem da Lua.
Pouso pontual
Um dos feitos mais impressionantes de converter essas imagens telescópicas em informações para as missões Apollo veio de Ewen Whitaker, britânico despretensioso que foi o único a responder à solicitação de Kuiper em 1955. Ele foi para os EUA para se juntar ao grupo de Kuiper.
Quando a sonda robótica Surveyor 1 tornou-se a primeira missão norte-americana a fazer uma aterrissagem suave na Lua, em 1966, os astrônomos analisaram as fotografias e relataram onde achavam que ela havia pousado. Mas eles erraram.
Whitaker usou a melhor imagem telescópica e comparou as montanhas que deveriam estar visíveis em certas direções e sugeriu a localização correta a alguns quilômetros de distância.
Depois que a Apollo 11 fez o primeiro pouso humano bem-sucedido na Lua, a Nasa quis usar a Apollo 12 para provar que era possível direcionar precisamente um local específico, baseado apenas em latitude e longitude – mas seria preciso conhecer esses dados com precisão.
IMAGEM TELESCÓPICA DA CRATERA DE COPÉRNICO NA LUA, TOMADA COMO PARTE DE UM PROJETO DO ATLAS LUNAR, USANDO UM TELESCÓPIO CONSTRUÍDO NAS MONTANHAS DO ARIZONA POR GERARD KUIPE (FOTO: LUNAR AND PLANETARY LABORATORY / UNIVERSITY OF ARIZONA)
A Nasa encarregou Whitaker de descobrir exatamente onde outra missão topográfica não tripulada, a Surveyor 3, havia pousado. Whitaker deu sua melhor estimativa, e a Apollo 12 apontou para o local. Os astronautas não puderam ver o Surveyor 3 no caminho, porque ele estava na sombra. Quando olharam em volta depois que pousaram, descobriram que estavam a uma curta distância do destino.
Os mapas da Lua que foram criados no Laboratório Lunar e Planetário já foram superados há muito tempo, e as melhores fotografias da superfície lunar não são tão boas quanto as tomadas pelos equipamentos mais recentes. Mas a organização que Kuiper começou continua a operar.
Por mais de uma década, naves espaciais que aterrissaram em Marte utilizaram imagens tiradas da órbita por HiRISE (High-Resolution Imaging Science Experiment), operadas a partir do laboratório para selecionar seus locais de pouso. A espaçonave robótica OSIRIS-REx está perto do asteroide Bennu fazendo mapas em busca de um lugar para pegar uma amostra – depois da coleta, os cientistas farão pesquisas por décadas, assim como ainda analisam fragmentos lunares trazidos pelas missões Apollo. São amostras de que nos lembramos, mas são os mapas que vêm em primeiro lugar.
* Timothy Swindle é professor de ciências planetárias e geociências, Universidade do Arizona, nos EUA. Este artigo foi escrito em inglês e originalmente publicado no The Conversation.
FONTE: REVISTA GALILEU
Comentários
Postar um comentário