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Missão New Horizons compartilha novos detalhes sobre o objeto espacial mais distante já explorado



Por George Dvorsky

Cientistas da missão New Horizons reuniram-se nesta semana, no Texas, para discutir as últimas descobertas sobre o MU69, o objeto espacial mais distante já explorado. Este objeto do Cinturão de Kuiper — que tem uma semelhança impressionante com um boneco de neve achatado — está se tornando ainda mais estranho do que imaginávamos.

Depois que a New Horizons, da NASA, passou por Plutão em 14 de julho de 2015, os planejadores de missão enviaram a espaçonave em uma trajetória até o 2014 MU69, um objeto transnetuniano distante (TNO, na sigla em inglês). Além de sua localização no Cinturão de Kuiper e de uma tonalidade claramente avermelhada, praticamente nada se sabia sobre o objeto, que foi visto pela primeira vez pelo telescópio espacial Hubble há apenas cinco anos.

A New Horizons voou rapidamente pelo MU69 no dia de Ano Novo de 2019, a velocidades próximas de 53.000 km/h e a uma distância mínima de 3.500 km. Nos dias que se seguiram ao voo, e à medida que as fotos do encontro próximo foram lentamente chegando à Terra, rapidamente se tornou evidente que a NASA acertou em cheio ao escolher visitar esse TNO em particular.


Slide da reunião de ontem mostrando o objeto “de forma notável” do Cinturão de Kuiper. Imagem: NASA/Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins/Southwest Research Institute

Na segunda-feira, durante a 50ª Conferência de Ciência Lunar e Planetária em Woodlands, no Texas, os cientistas da New Horizons se reuniram para discutir as últimas descobertas, abordando tópicos como a forma, a geologia e a composição do objeto e para discutir novas ideias sobre a sua formação.

De fato, o MU69, que está localizado a 6,6 bilhões de quilômetros da Terra, é diferente de tudo o que já vimos antes. Sua estranha forma está forçando uma grande reavaliação sobre TNOs distantes e como os planetas do Sistema Solar se formaram a partir de pedaços menores de poeira e rocha. O MU69 é como uma máquina do tempo, proporcionando uma visão sem precedentes da história inicial do nosso Sistema Solar — a fase em que os planetas estavam se formando a partir de blocos de construção conhecidos como planetesimais.

A pesquisa apresentada por William McKinnon, membro da equipe da New Horizons da Universidade de Washington em St. Louis, descreveu o MU69 como um objeto do Cinturão de Kuiper “puro”, com um comunicado de imprensa da NASA acrescentando que o objeto é um “binário de contato primordial inquestionável”. Medindo cerca de 35 quilômetros de comprimento, o objeto consiste em duas seções distintas: um lóbulo grande chamado Ultima e um menor chamado Thule, em homenagem ao apelido um tanto controverso da rocha. Após as primeiras imagens terem chegado, a equipe da New Horizons presumiu, razoavelmente, que os lóbulos tinham forma de bola, mas as imagens seguintes apontaram para uma disposição mais achatada.

Uma possível teoria sobre a formação do MU69 é que dois TNOs ficaram presos em uma órbita lenta ao redor um do outro, acabando por tocar em um primeiro beijo suave que deixou os dois notavelmente intactos. Modelos matemáticos produzidos pela equipe de McKinnon sugerem que os dois objetos não estavam se movendo mais rápido do que alguns metros por segundo — uma caminhada lenta. Com o tempo, essa intimidade cresceu, formando um binário de contato no qual os dois objetos se tornaram um.


Novo mapa geológico do Ultima Thule, mostrando como os dois lóbulos são compostos por componentes menores. Imagem: NASA/Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins/Southwest Research Institute/Agência Espacial Europeia

“Isso se encaixa com as ideias gerais do início do nosso Sistema Solar”, disse McKinnon em um comunicado de imprensa da NASA. “Grande parte do impulso orbital do binário Ultima Thule deve ter sido drenado para que eles se unissem assim. Mas ainda não sabemos quais foram os processos mais importantes para que isso acontecesse.”

Uma possibilidade relacionada é que os lóbulos em si já foram formados por rochas de pequeno e médio porte. Essas rochas se encaixaram lentamente como um gigantesco quebra-cabeça, formando um disco giratório. Na reunião de segunda-feira, o cientista planetário da NASA Jeff Moore disse que essa rotação poderia ter feito com que o lóbulo achatasse, e a rotação pode explicar “porque temos a forma de hambúrguer”, disse ele, de acordo com o Science News.

A mecânica por trás desse processo de formação celestial é agora uma importante via de estudo. Os cientistas da New Horizons estão à procura de sinais desse encontro inicial na superfície. Uma possível pista pode ser encontrada na seção “pescoço” ou “colarinho” que liga os dois lóbulos. O pescoço, como o comunicado de imprensa da NASA apontou, aparece deformado — um sinal de forças de cisalhamento potenciais à medida que os dois lóbulos se moldam lentamente um no outro.


Pontos brilhantes estranhos e zonas escuras na Ultima Thule. Imagem: NASA/Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins/Southwest Research Institute

Outras pesquisas apresentadas na segunda-feira abordaram características enigmáticas da superfície, como manchas e linhas brilhantes, incluindo uma faixa brilhante vista ao longo do pescoço, e algumas zonas excepcionalmente escuras. Os cientistas da missão também estão olhando para várias colinas, crateras e fossos vistos no TNO. O maior buraco no MU69, apelidado de Maryland, mede oito quilômetros de largura, e sua causa não é conhecida. Pode ser uma cratera de impacto ou uma cratera de subsidência — uma formação geológica causada pelo afundamento de material através de rachaduras ou por meio dos processos de sublimação, quando o gelo se transforma diretamente em gás.


Vista colorida do Ultima Thule mostrando sua verdadeira tonalidade avermelhada. Imagem: NASA/Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins/Southwest Research Institute

Como sugeriram dados anteriores do Hubble, o MU69 tem uma aparência avermelhada. Mas o sobrevoo da New Horizons mostrou que ele era ainda mais avermelhado que Plutão.

“Essa é a primeira vez que um desses objetos ‘ultravermelhos’ é explorado, e as nossas observações abrem uma série de novas questões”, disse no comunicado Carly Howett, membro da equipe científica da New Horizonsa no Southwest Research Institute. “A imagem a cores revela até mesmo diferenças sutis na coloração em toda a superfície, e queremos muito saber o motivo.”

Durante o encontro de segunda-feira, os pesquisadores também disseram que detectaram possíveis sinais de metanol, gelo de água e moléculas orgânicas na superfície, embora mais observações sejam necessárias para ter certeza. Nesse sentido, a grande quantidade de dados recolhidos pela New Horizons durante o sobrevoo do Ultima Thule continua chegando à Terra num processo que durará até ao final do verão norte-americano de 2020.

Isso significa que ainda há muitos dados para estudar, e novas surpresas podem estar a caminho. Por ora, devemos ser gratos de que a espaçonave voou perto de um objeto tão extraordinário — um objeto que está fazendo os cientistas planetárias voltarem para as suas pranchetas.

[NASA, NASA New Horizons, Science News]

FONTE: GIZMODO BRASIL

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