VIA LÁCTEA, EM FOTO TIRADA NO ANO DE 2009 (FOTO: NASA)
Movimentos estelares podem facilitar que civilizações se espalhem por galáxias; embora ainda desconfiemos que estamos sozinhos
É fácil se perder olhando para o céu noturno. Principalmente porque ele é o símbolo mais explícito que temos da vastidão do universo. Para se ter uma ideia, em uma noite de céu aberto, podemos ver até 2,500 estrelas, o que corresponde a apenas um centésimo de milionésimo do total delas em nossa galáxia. Em relação a nós, quase todas estão a uma distância que corresponde a somente 1% do diâmetro da Via Láctea (pouco menos de mil-anos luz).
Diante da imensidão e de nossa pequenitude, não é a toa que o físico Enrico Fermi, em 1950, foi o primeiro a se perguntar: “onde está todo mundo?”. Ele apresentou o que ficou conhecido como o Paradoxo de Fermi, que é a contradição entre a grandeza do universo e o fato do ser humano ainda não ter encontrado vida avançada em nenhum lugar além da terra.
Já houve muita especulação para solucionar tal paradoxo. Mas um novo estudo liderado pelo astrônomo Jonathan Carroll-Nellenback, da Universidade de Rochester, e revisado pelo The Astrophysical Journal, refutou teorias anteriores de alguns estudiosos sobre o assunto. De acordo com a descoberta, seria possível povoar uma galáxia mais rapidamente do que se pensava. Isso se aconteceria através dos movimentos estelares, que serviriam como distribuidores de vida.
Além disso, segundo a pesquisa, a nossa solidão não seria tão paradoxal assim: experimentos determinaram que há uma variabilidade natural. Isso significa que as galáxias às vezes podem ser dominadas, e outras vezes, não – o que acabaria de vez com as dúvidas a respeito do Paradoxo de Fermi.
Em busca de respostas
Os pesquisadores fizeram simulações com diferentes densidades de estrelas, civilizações em estado inicial, velocidades de naves e outras variáveis. Assim, determinaram que há um meio termo entre aquelas galáxias que são silenciosas, vazias ou que estão cheias de vida.
NGC 595, NEBULOSA DA GALÁXIA DO TRIÂNGULO (FOTO: NASA, ESA, AND M. DURBIN, J. DALCANTON, AND B. F. WILLIAMS (UNIVERSITY OF WASHINGTON))
Para eles, é possível que a Via Láctea seja parcialmente – ou totalmente – povoada. Há até mesmo a possibilidade de alguns exploradores extraterrestres terem visitado a galáxia no passado; porém, eles já teriam sido dizimados e nós não teríamos registros deles. Nosso Sistema Solar também pode estar entre vários outros sistemas já visitados, mesmo que nos últimos milhões de anos não tenhamos recebido nenhuma visita comprovadamente registrada.
Foi considerada pelos estudiosos a velocidade de um hipotético povoado avançado via sondas de velocidade finita – isso para determinar se uma galáxia poderia se tornar cenário para explorações espaciais em escalas de tempo menores do que a própria idade dela. Os cientistas também incluiram o efeito de movimentos estelares sobre o comportamento a longo prazo do povoado.
Refutando Carl Sagan e William Newman
Uma das teorias mais famosas a refutar o Paradoxo de Fermi foi a de Carl Sagan e William Newman, do ano de 1981. Eles escreveram um relatório defendendo que a humanidade precisaria de paciência: ninguém teria nos visitado, pois qualquer forma de vida estaria muito longe. E levaria muito tempo para que uma espécie inteligentemente suficiente evoluísse a ponto de construir naves espaciais.
Newman e Sagan estariam errados, de acordo com o novo estudo liderado por Jonathan Carroll-Nellenback, já que, ao contrário do que a dupla de cientistas pensou, não levaria tanto tempo para que civilizações com capacidade de realizar viagens espaciais atravessassem uma galáxia. Os movimentos estelares também são capazes de distribuir vida – e em escalas bem menos demoradas do que a idade de uma galáxia. Um exemplo de viagem estelar seria o da estrela central do nosso Sistema Solar. “O Sol já atravessou a Via Láctea 50 vezes”, contou Carroll-Nellenback.
GALÁXIA ESPIRAL M100 (FOTO: NASA)
Civilizações muito avançadas têm maior probabilidade de crescer devagar, segundo Newman e Sagan. Por isso, muitas sociedades provavelmente teriam desaparecido antes mesmo de atingir as estrelas. “Essa ideia confunde a expansão das espécies como um todo com a sustentabilidade de alguns povoados individuais”, discordou Jason Wright.
Discordando de Michael Hart
Outros pesquisadores, por sua vez, teorizaram que espécies tecnologicamente evoluídas, quando se destacam, facilmente se autodestroem. Logo, alienígenas poderiam ter nos visitado no passado; ou, talvez, estariam nos evitando de propósito, desconfiados dos seres terrestres.
Em um relatório de sua pesquisa de 1975, o astrofísico da NASA Michael Hart ainda duvidou da existência de quaisquer alienígenas, o que explicaria a ausência de qualquer visita por parte deles.
Hart calculou que levaria alguns milhões de anos para que uma única espécie com capacidade de viajar pelo espaço conseguisse povoar uma galáxia. Esse tempo poderia ser estimado em, no mínimo, 650.000 anos. Logo, a ausência das espécies que não foram descobertas (o que Hart chamava de “Fato A”) significaria apenas que elas não existem.
Jason Wright e Carroll-Nellenback, dizem, por outro lado, que somente o fato de que ainda não recebemos visitantes interestelares não permite que concluamos a inexistência deles. Para eles, algumas civilizações se expandem e tornam-se interestelares; mas elas não duram para sempre. Além disso, nem todos os planetas são habitáveis e algumas estrelas não seriam a melhor escolha para um destino.
Povoações do futuro
Adam Frank, da Universidade de Rochester, que também contribuiu com o estudo de Carroll-Nellenback, fala ainda do “Efeito Aurora”, no qual os “colonizadores” chegam a habitar um planeta, mas não sobrevivem às suas condições.
Frank defende que precisamos procurar cada vez mais por sinais de alienígenas. Eles poderiam se tornar mais visíveis nas próximas décadas, à medida que telescópios descobrem cada vez mais exoplanetas e começam a espiar as atmosferas deles. “Estamos entrando em uma era na qual haverá reais dados acerca da vida em outros planetas”, defendeu Frank. “Nesse momento em que vivemos, isso não poderia ser mais relevante”.
FONTE: Revista Galileu - Ciência Todo Dia
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