Por Ryan F. Mandelbaum
A missão Hayabusa2, da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), divulgou sua primeira leva de resultados científicos sobre o asteroide Ryugu — e revelou uma série de surpresas sobre essa pequena rocha.
A Hayabusa2 é uma das duas missões que atualmente estão visitando e tentando coletar amostras de asteroides perto da Terra. Suas observações iniciais já revelaram um Ryugu diferente das expectativas: ao invés de uma massa úmida de rochas de formas diferentes, ele é uma pilha giratória de entulho uniforme com menos água do que o esperado. Essas novas descobertas ajudarão os cientistas a escrever a história deste objeto, que agora parece incluir um período de rotação rápida e um nascimento potencialmente caótico a partir de um corpo progenitor.
A Hayabusa2 foi lançada em dezembro de 2014 e chegou ao asteroide Ryugu, de 900 metros de largura, no verão passado do hemisfério norte. Desde então, ele captou imagens incríveis e, no mês passado, aterrissou com sucesso (mas rapidamente) para coletar uma amostra, disparando uma bala de tântalo no asteroide e recolhendo os detritos que saltaram como resultado do impacto do projétil. Em breve, ele lançará um explosivo sobre o Ryugu para coletar amostras abaixo da superfície do asteroide. Enquanto isso, a Hayabusa2 tem registrado dados enquanto passa ao redor da rocha, usando um espectrômetro que mede os diferentes comprimentos de onda de radiação infravermelha que o asteroide reflete, uma câmera de navegação, uma câmera infravermelha, um telescópio e um dispositivo laser de medição de altitude.
O asteroide, exibindo uma crista (amarela) e um canal (azul claro), com uma seta vermelha apontando para uma região clara. Imagem: S. Sugita et al/Science (2019)
Cientistas divulgaram resultados que apresentam a história mais abrangente do Ryugu já apresentados até hoje na 50ª Conferência de Ciência Lunar e Planetária, no Texas, e os publicaram em três artigos na Science. O mais surpreendente foi o fato de que o Ryugu mostra sinais de relativamente pouca água em todo o asteroide em comparação com o asteroide Bennu, disse ao Gizmodo Kohei Kitazato, professor associado da Universidade de Aizu, no Japão, que trabalha no espectrômetro de infravermelho próximo da Hayabusa2. Esses resultados implicam que o Ryugu é mais preto que carvão e se parece muito com os condritos carbonáceos encontrados aqui na Terra, meteoritos relativamente raros contendo carbono cuja estrutura interna foi alterada por calor ou choque. Os resultados também sugerem que o interior do Ryugu contém majoritariamente rochas do mesmo tamanho, potencialmente fragmentos que caíram de um corpo maior com relativamente pouca água durante um impacto.
Temperatura do Ryugu (o azul é -23 ºC, o vermelho é 126 ºC. Gráfico: S. Sugita et al/Science (2019)
Observações da superfície e da forma do asteroide revelam parte da sua história mais recente. A sua baixa densidade, um pouco superior à da água ou em torno da mesma que a do carvão, sugere que se trata de uma pilha de entulho poroso. A sua forma de pião e o material que parece estar espalhado à volta da sua superfície sugerem que ele sofreu um período de rotação rápida no seu passado. Sua superfície também está repleta de pedras de tamanhos variados, de até 20 metros de diâmetro ou maior, de cores variadas.
Os resultados implicam que qualquer corpo do qual o Ryugu tenha se separado passou por algum tipo de aquecimento interno. Talvez esse aquecimento ajude os cientistas a entender o quão próximo do Sistema Solar ele se formou, ou qual natureza desse corpo maior. Os resultados até agora também ajudarão os cientistas da Hayabusa2 a escolher um local para a coleta de mais amostras ao longo da crista equatorial do asteroide.
Esses são resultados iniciais, e é por isso que você está vendo tantos “sugere” e “talvez”. Mas eles trazem questões animadoras. O Ryugu poderia dizer aos cientistas como os minerais são entregues do cinturão de asteroides para a Terra, disse Sei-ichiro Watanabe, autor principal de um dos artigos e professor da Universidade de Nagoya no Japão, em entrevista ao Gizmodo. O asteroide poderia nos dizer mais sobre a história do Sistema Solar.
O fato é que há muita coisa que não sabemos sobre asteroides atualmente. E, se a missão for bem sucedida, ela trará de volta um pedaço do Ryugu para um estudo mais aprofundado aqui na Terra — não seria a primeira vez, mas esperamos que seja uma quantidade maior de amostra do que a primeira missão Hayabusa, que retornou à Terra com 1500 grãos de poeira do asteroide Itokawa depois de enfrentar alguns problemas.
“A Hayabusa2 trará amostras do Ryugu para a Terra em 2020”, disse Kitazato. “Estamos esperando conseguir a resposta para essa questão a partir da análise das amostras do Ryugu.”
FONTE: GIZMODO BRASIL
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