Esta imagem melhorada da Grande Mancha Vermelha de Júpiter foi criada pelo cientista-cidadão Jason Major usando dados da câmara JunoCam a bordo da nave Juno da NASA.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS/Jason Major
Apesar de já ter sido colossal o suficiente para engolir três Terras, com espaço de sobra, a Grande Mancha Vermelha de Júpiter tem vindo a diminuir de tamanho há século e meio. Ninguém tem a certeza por quanto mais tempo a tempestade continuará a contrair ou se desaparecerá completamente.
No entanto, um novo estudo sugere que nem sempre tem sido assim. A tempestade parece ter aumentado em área pelo menos uma vez e está a crescer em altura à medida que fica mais pequena.
"As tempestades são dinâmicas, e é isso que vemos com a Grande Mancha Vermelha. Está constantemente a mudar de tamanho e de forma, e os seus ventos mudam também," comenta Amy Simon, especialista em atmosferas planetárias do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland, autora principal do novo artigo publicado na revista The Astronomical Journal.
Há séculos que observamos Júpiter, mas o primeiro avistamento confirmado da Grande Mancha Vermelha ocorreu em 1831 (os investigadores não têm a certeza se observadores anteriores que viram uma mancha vermelha em Júpiter estavam a olhar para a mesma tempestade).
Observadores interessados têm sido capazes de medir o tamanho e a deriva da Grande Mancha Vermelha acoplando aos seus telescópios oculares com miras. O registo contínuo de pelo menos uma observação deste género, por ano, remonta até 1878.
Simon e colegas aproveitaram este rico arquivo de observações históricas e combinaram-nos com dados de missões da NASA, começando com as duas Voyager em 1979. Em particular, o grupo baseou-se numa série de observações anuais de Júpiter que membros da equipa têm levado a cabo com o Telescópio Espacial Hubble da NASA como parte do projeto OPAL (Outer Planets Atmospheres Legacy). Os cientistas da equipa OPAL pertencem a Goddard, à Universidade da Califórnia em Berkeley e ao JPL da NASA em Pasadena, Califórnia.
A equipe rastreou a evolução da Grande Mancha Vermelha, analisando o seu tamanho, forma, cor e taxa de deriva. Também analisaram as velocidades dos ventos internos da tempestade, quando essa informação estava disponível nos dados das missões.
As novas descobertas indicam que a Grande Mancha Vermelha recentemente começou a dirigir-se para oeste mais depressa do que antes. A tempestade tem permanecido sempre à mesma latitude, mantida ali por correntes de jato a norte e a sul, mas circunda o globo na direção oposta à rotação do planeta (para leste). Historicamente, temos assumido que esta deriva é mais ou menos constante, mas em observações recentes a equipa descobriu que a mancha se desloca muito mais depressa.
O estudo confirma que a tempestade tem vindo a diminuir de tamanho desde 1878 e é grande o suficiente para acomodar, neste ponto, pouco mais que uma Terra. Mas o registo histórico indica que a área cresceu temporariamente na década de 1920.
"Existem evidências nas observações de arquivo de que a Grande Mancha Vermelha cresceu e diminuiu de tamanho ao longo do tempo," afirma Reta Beebe, professora emérita da Universidade Estatal do Novo México em Las Cruces. "No entanto, a tempestade é agora bastante pequena, há muito tempo que cresceu pela última vez."
Tendo em conta que a tempestade tem vindo a contrair-se, os investigadores esperavam que os ventos internos, já bastante potentes, ficassem ainda mais fortes, como uma patinadora no gelo que gira mais rápido quando coloca os braços junto ao corpo.
Em vez de girar mais depressa, a tempestade parece ser forçada a esticar-se. É quase como barro a ser moldado numa roda de oleiro. À medida que a roda gira, o artista pode transformar um pequeno bloco redondo num vaso fino empurrando para dentro com as suas mãos. Quanto mais pequena torna a base, mais alto o vaso fica.
No caso da Grande Mancha Vermelha, a mudança em altura é pequena em relação à área que a tempestade cobre, mas é ainda visível.
A cor da Grande Mancha Vermelha também tem vindo a ficar mais escura, tornando-se intensamente alaranjada desde 2014. Os cientistas não sabem porque é que isso está a acontecer, mas é possível que as substâncias químicas que dão cor à tempestade estejam a ser levadas para mais alto na atmosfera, à medida que a mancha também fica mais esticada. A maiores altitudes, as substâncias químicas são submetidas a mais radiação UV e assumem uma cor mais escura.
De certa forma, o mistério da Grande Mancha Vermelha só parece aprofundar-se à medida que a tempestade icônica se contrai. Os investigadores não sabem se a mancha vai continuar a ficar mais pequena e depois estabilizar, ou se se dissipa completamente.
"Se as tendências que vemos na Grande Mancha Vermelha continuarem, os próximos 5-10 anos podem ser muito interessantes do ponto de vista dinâmico," comenta o coautor Rick Cosentino de Goddard. "Podemos ver mudanças rápidas na aparência física e no comportamento da tempestade, e talvez a mancha vermelha acabe, afinal de contas, por deixar de ser grande."
FONTE: ASTRONOMIA ONLINE
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