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Bebês pensam de forma lógica mesmo antes de falarem


Novo estudo mostra que linguagem não é pré-requisito para raciocínio básico

A comunicação simbólica, estruturada na forma de linguagem, é a base da nossa habilidade única de raciocínio - pelo menos, é o que acredita o senso comum. Um novo estudo publicado hoje (16) na revista Science, no entanto, sugere que a nossa capacidade de raciocinar de forma lógica pode não depender da linguagem, ou pelo menos não completamente. As descobertas mostram que bebês novos demais para falar, usam a razão e fazem deduções racionais.

Os autores — uma equipe formada a partir de várias instituições europeias — estudaram crianças com idade de 12 a 19 meses. Nessa idade, o aprendizado da linguagem e a produção da fala já começaram, mas seu domínio complexo ainda não foi atingido. As crianças deveriam contemplar repetidamente itens distintos, como um dinossauro e uma flor. Os itens, inicialmente, estavam escondidos atrás de uma parede preta. Em uma série de experimentos, uma animação mostrava um copo bloqueando um dinossauro. Na metade do experimento, a barreira era removida e revelava, como o esperado, a flor restante. No resto das circunstâncias no entanto, a parede desaparecia e se revelaria um segundo dinossauro.

A partir destas ocorrências, as crianças deduziam que algo não estava completamente certo, mesmo que não conseguissem articular em palavras o que estava errado. O rastreamento ocular — uma técnica comum usada para medir habilidades mentais em crianças que ainda não falam e em primatas — mostrou que os bebês fixavam o olhar por um tempo relativamente longo nas cenas em que os objetos não esperados apareciam atrás da barreira, sugerindo que eles estavam confusos com a revelação. “Os resultados indicam que a aquisição de vocabulário lógico pode não ser a fonte dos elementos lógicos mais fundamentais da mente”, diz o autor líder do estudo, Nicoló Cesaja-Arlotti, um pós-doutorando do Departamento de Psicologia e Ciências do Cérebro na Universidade Johns Hopkins. Um componente majoritário na lógica humana, ele nota, se relaciona com o pensar sobre possibilidades alternativas e eliminar aquelas que são inconsistentes: Quem está por detrás da barreira é o dinossauro ou a flor? Em uma lógica formal isso é chamado de silogismo disjuntivo: A ou B; se não for A, portanto é B. (o silogismo é uma conclusão derivadas de duas premissas distintas.)

Como parte de seu estudo, Cesana-Arlotti e seus colegas também relataram que as pupilas dos bebês ficavam dilatadas quando assistiam a animações com resultados ilógicos. Sabe-se que isso ocorre com adultos quando encarregados de problemas ilógicos. Isso fornece mais evidências de que os bebês têm consciência da forma como as coisas “deveriam” ser. “Essa abordagem, que utiliza vários tipos de testes, é muito forte”, diz o psicólogo e pesquisador sobre a razão da Universidade John Hopkings Justin Halberda, que não estava envolvido no estudo mas escreveu na revista Science uma análise que acompa o novo artigo. “Acredito que muitas pessoas diriam que a maior parte de sua razão se manifesta quando elas estão falando consigo mesmas, em sua mente. O que esse novo estudo revela é que a mente das crianças pré-verbais,também funciona através desse mesmo tipo de raciocínio em série, e elas dominam essa lógica antes de desenvolverem habilidades linguísticas.”

Cesana-Arlotti reconhece que suas descobertas não negam a importância da linguagem e da comunicação simbólica para o desenvolvimento do cérebro humano e para a nossa evolução como espécie. Ainda assim, a nova pesquisa sugere que talvez a linguagem não seja absolutamente imprescindível para articular as capacidades de raciocínio lógico do cérebro. Futuramente ele planeja investigar como a lógica pré-verbal pode se diferenciar das capacidades de raciocínio que emergem a partir da aquisição da linguagem, uma vez que a linguagem pode proporcionar capacidades de raciocínio adicionais que não estão disponíveis ao cérebro que não a possui. Ele também espera explorar mais profundamente o desenvolvimento mental dos bebês. “Nossa pesquisa quer investigar as bases iniciais para o raciocínio lógico”, diz, “um fundamento importante para aprendizado, criatividade e flexibilidade na mente humana”.

“Até onde sabemos, ninguém antes documentou diretamente a razão lógica em crianças de 12 meses”, adiciona. “A exploração do estado inicial da lógica na mente é uma tarefa animadora.”

Bret Stetka

FONTE: SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL

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