Megálito foi construído por índios em Calçoene (Foto: Mariana Cabral/Iepa)
Monumento semelhante a megálito inglês foi erguido no meio da selva.
Usado para funerais, local é objeto de pesquisas arqueológicas.
Um conjunto de grandes rochas fincadas no solo no meio da selva amazônica virou um mistério para pesquisadores amapaenses. Os estudos sobre a função do monumento construído por povos milenares em Calçoene, a 374 quilômetros de Macapá, iniciaram em 2005 e ainda não se mostraram totalmente conclusivos.
Apesar de as pesquisas ainda tentarem encontrar informações que cercam o megálito - monumento formado por pedras - no meio da floresta, arqueólogos que se dedicam ao caso no Instituto Estadual de Pesquisas do Amapá (Iepa), já conseguem afirmar que ele é bastante antigo, tendo sido erguido há pelo menos 1.000 anos depois de Cristo.
A utilização dele pelos povos da região teria sido por pouco mais de 500 anos até os primeiros contatos com os europeus.
As estruturas de pedra em Calçoene estão dentro de uma área de 120 hectares que abrange um megálito maior em formato circular com outros cinco menores ao redor, e acabaram sendo chamadas de 'Stonehenge da Amazônia' em comparação ao semelhante famoso monumento megalítico inglês.
"Como pesquisadores, não gostamos muito de chamar de Stonehenge porque dá a impressão de que é uma imitação, sendo que é uma criação autêntica do povo da Amazônia", destacou o arqueólogo do Iepa João Saldanha.
'Stonehenge da Amazônia' é comparado ao da Inglaterra (Foto: Mariana Cabral/Iepa; Tahiane Stochero/G1)
A área foi descoberta pelos pesquisadores em 2005. À época, o monumento chamou a atenção e fez o governo do Amapá comprar os hectares para serem objeto de estudo de arqueólogos a fim de tornar a região uma atração turística.
Atualmente, no entanto, existe apenas uma casa próximo ao sítio que abriga os arqueólogos em pesquisa de campo e um funcionário do Iepa que faz a segurança do parque, distante 30 quilômetros da sede de Calçoene.
Urnas funerárias foram encontradas no sítio de
Calçoene (Foto: Mariana Cabral/Iepa)
Durante os anos de estudos, arqueólogos descobriram que a área tem urnas funerárias enterradas com restos mortais de índios. As características das esculturas feitas em cerâmica indicaram que a região foi habitada pelo povo Arawak, que tem como descendentes os indígenas da etnia Palikur, que atualmente ocupam a fronteira entre o Amapá e a Guiana Francesa.
As urnas também indicaram que o local era usado para funerais de maneira diferente como habitualmente ocorre atualmente. Os índios tratavam o ato como uma cerimônia festiva. Itens usados para fazer cerveja artesanal estavam entre os vestígios que indicaram a tese.
"Eles [índios] passaram por todo um processo pela colonização europeia e hoje em dia não tem mais esse tipo de ritual, com urnas funerárias e construção desses centros de cerimônia. Pelo que vimos nos vestígios encontrados, o cerimonial era uma festa. Constatamos vestígios de cerâmica, que provavelmente era usada para cerveja de mandioca ou milho, além de pratos, que devem ter sido utilizados para servir alimentos", explicou João Saldanha.
João Saldanha, pesquisador do Iepa
(Foto: Mariana Cabral/Iepa)
Devido a posição das pedras e buracos no meio das rochas, arqueólogos também apontam para a possibilidade de o monumento ainda ter sido usado para acompanhamento de mudanças do período de estiagem para o chuvoso, duas únicas estações meteorológicas no Amapá em razão da linha do Equador.
Os estudos no 'Stonehenge da Amazônia' não pararam e pretendem descobrir respostas a questões que ainda cercam o monumento, a exemplo de como ocorreu a construção do sítio a partir do transporte de rochas e posicionamento preciso no solo em meio ao tamanho e peso gigantesco delas, além de como funcionava o trabalho braçal dos povos indígenas milenares para a criação do lugar.
Enquanto os pesquisadores buscam responder às perguntas pelo meio científico, a recente descoberta de urnas funerárias na área acabou virando um motivo a mais para lendas de moradores da região, que dizem perceber vultos e ouvir vozes supostamente indígenas.
"Existem lendas, como fantasmas, luzes, mas passamos muito tempo por lá e nunca vimos nada. Um sítio desse tipo chama muita atenção e as pessoas acabam interpretando de maneira um pouco exagerada", comentou o arqueólogo João Saldanha.
Lugar seria usado para rituais funerais em Calçoene (Foto: Mariana Cabral/Iepa)
Pesquisas em sítio de Calçoene continuam (Foto: Mariana Cabral/Iepa)
FONTE: G1.COM
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