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John Mack e as abduções em um capítulo de "Sequestros, Encontros Com Extraterrestres"



John Edward Mack (1929-2004) foi um conceituado médico psiquiatra, escritor e professor da Universidade de Medicina de Harvard, que dedicou um longo período da sua vida e da sua carreira ao minucioso estudo e análise das abduções alienígenas. O seu livro 'Sequestro' mereceu o prêmio Pulitzer de 1994 e constituiu um marco na ovnilogia.

Um autor que se lança num empreendimento tão manifestamente inovador como este tem inevitavelmente de interrogar-se acerca das possíveis ligações com o seu trabalho anterior. Para mim, a ligação reside no tema da identidade — quem somos nós, no sentido mais profundo e mais lato.

Em retrospectiva, este tema tem estado comigo desde o início, dominando as minhas abordagens clínicas dos sonhos, dos pesadelos e do suicídio de adolescentes e as minhas pesquisas biográficas, bem como os estudos relativos à geração das armas nucleares e aos conflitos etnológicos e, mais recentemente, a psicologia trans pessoal, com a qual tenho estado envolvido. Segundo entendi, o fenômeno dos sequestros obriga-nos, se nos permitirmos toma-lo a sério, a reexaminar a nossa percepção da identidade humana — a olhar para o que somos, de uma perspectiva cósmica.

Este livro não é apenas sobre OVNI ou sequestradores alienígenas. É sobre o modo como estes fenômenos, simultaneamente traumáticos e transformadores, podem alargar a nossa compreensão de nós mesmos e a nossa percepção da realidade e revelar o nosso potencial oculto como exploradores de um universo rico em mistérios, significados e inteligência.

Quando exploramos fenômenos que existem à margem da realidade aceite, as palavras existentes tornam-se imprecisas ou necessitam que lhes seja dado um novo significado. Termos como «sequestro», «alienígena», «acontecimento» e mesmo «realidade» necessitam de ser redefinidos, sob pena de se perderem distinções subtis. Neste contexto, classificar demasiado literalmente as recordações como «verdadeiras» ou «falsas», pode limitar o que poderíamos aprender sobre a consciência humana, a partir das experiências de sequestros relatadas nas páginas que se seguem.

CAPÍTULO 1 (SEQUESTRADOS POR OVNI): INTRODUÇÃO


No Outono de 1989, quando uma colega me perguntou se queria conhecer Budd Hopkins, repliquei:

— Quem é ele?


Ela disse-me, então, que era um artista que vivia em Nova Iorque e trabalhava com pessoas que diziam ter sido levadas por seres alienígenas para naves espaciais. Na altura, comentei qualquer coisa no sentido de que ele devia ser doido e todos os outros também. Porém, ela negou insistentemente, dizendo que se tratava de um assunto real e muito sério. Em breve chegou um dia em que tive de ir a Nova Iorque por qualquer outra razão — foi a 10 de Janeiro de 1990, uma dessas datas que não esquecemos porque marcam uma mudança decisiva na nossa vida — e ela levou-me a conhecer Budd.

Nada nos meus então quase quarenta anos de experiência no campo da psiquiatria me tinha preparado para o que Hopkins tinha a dizer. Fiquei impressionado pelo seu calor, a sua sinceridade, a sua inteligência e o seu interesse pelas pessoas com quem tinha trabalhado. Mas mais importantes ainda foram as histórias que ele me contou, de pessoas vindas de todos os pontos dos Estados Unidos que tinham aparecido para lhe relatar as suas experiências, depois de terem lido um dos seus livros ou artigos, ou de o terem ouvido na televisão. Estas histórias correspondiam, algumas até ao mínimo pormenor, às contadas por outros «sequestrados» ou «sujeitos de experiência», como são designados.

A maior parte das informações específicas que os sequestrados fornecem sobre os meios de transporte de e para as naves espaciais, as descrições do interior das próprias naves e o procedimento dos alienígenas durante os sequestros nunca foram veiculadas, quer em livro, quer por intermédio dos meios de comunicação social. Além disso, estes indivíduos eram provenientes de várias partes do país e não tinham comunicado uns com os outros. Noutros aspectos, pareciam bastante sensatos, tinham-se revelado relutantemente, temendo o descrédito ou a completa ridicularização das suas histórias, com que se haviam já defrontado no passado. Tinham vindo visita Hopkins à sua própria custa e, salvo raras excepções, nada tinham a lucrar materialmente com o facto de relatarem as suas histórias.

Num caso, uma mulher ficou espantadíssima quando Hopkins lhe mostrou o desenho de um ser alienígena. Perguntou-lhe como conseguira retratar o que ela vira, quando apenas tinham começado a falar. Quando ele explicou que o desenho tinha sido feito por outra pessoa, oriunda de outra região do país, ficou muito preocupada, porque, deste modo, a experiência que ela quisera acreditar tratar-se apenas de um sonho, parecia agora assumir foros de realidade.

A minha reação foi, em alguns aspectos, semelhante à desta mulher. O que Hopkins tinha, sobretudo, encontrado nos mais de duzentos casos de sequestro, que estudara ao longo de um período de catorze anos, eram relatos de experiências que apresentavam características de acontecimentos reais: narrativas altamente pormenorizadas, que não apresentavam padrões simbólicos óbvios, choques traumáticos, emocionais e físicos, por vezes deixando pequenas lesões nos corpos dos sujeitos da experiência, e grande coerência das histórias, até aos mínimos pormenores. Mas se estas experiências eram, em algum sentido, «reais», então estavam em aberto uma série de novas questões.

Qual a frequência destes acontecimentos? Se existia um grande número de casos destes, quem ajudava estes indivíduos a lidar com tais experiências e qual o tipo de apoio ou tratamento mais adequado? Qual a resposta dos especialistas em saúde mental? E, mais basicamente, qual a origem destes encontros? Estas e muitas outras questões serão abordadas neste livro.

Em resposta ao meu interesse óbvio, embora algo confuso, Hopkins perguntou-me se eu próprio gostaria de conhecer alguns destes sujeitos de experiências. Concordei, com uma curiosidade mesclada de ligeira ansiedade. Um mês mais tarde, Hopkins marcou-me encontro, em sua casa, com quatro sequestrados, um home e três mulheres. Todos eles contaram histórias semelhantes dos seus encontros com seres alienígenas e das experiências de sequestro.

Nenhum deles parecia psiquicamente perturbado, excepto num sentido secundário, isto é, no sentido de se mostrarem perturbados em consequência de algo que, aparentemente, lhes acontecera. Nada sugeria que as suas histórias fossem ilusórias, fruto de má interpreta ção de sonhos ou produto da fantasia. Nenhum deles parecia o tipo de pessoa capaz de inventar uma história estranha para atingir qualquer objectivo pessoal. Sentindo o meu óbvio interesse, Hopkin perguntou-me se queria que me passasse os casos da área de Boston, onde já tinha conhecimento de bastantes. Mais uma vez, concordei e, na Primavera de 1990, comecei eu próprio a receber sequestrados na minha casa e em hospitais.

Nos mais de três anos e meio em que tenho trabalhado com sequestrados, falei com mais de cem indivíduos, indicados para avaliação de sequestros ou outras experiências «anômalas». Destes, setenta e seis (de idades compreendidas entre os dois e os cinquenta e sete anos, sendo 47 mulheres e 39 homens, incluindo três rapazes com menos de oito anos) satisfazem os meus critérios, bastante restritos, para casos de sequestro: recordação consciente, ou sob hipnose, de ter sido levado por seres alienígenas para uma nave estranha, relatada com a emoção adequada à experiência descrita e sem qualquer perturbação mental aparente, à qual a história pudesse ser atribuída. Realizei entre uma e oito sessões de hipnose diferentes, com a duração de várias horas, com quarenta e nove destes indivíduos, e desenvolvi uma terapêutica de aproximação, que explicarei resumidamente.

Embora me sinta em dívida e tenha um grande respeito pelos pioneiros neste domínio, como Budd Hopkins, que tiveram a coragem de investigar e comunicar informações que chocavam frontalmente com a realidade consensual da nossa cultura, este livro baseia-se largamente na minha própria experiência clínica. Dado que este tema é tão controverso, não existe, virtualmente, qualquer autoridade científica aceite que eu-possa citar em apoio dos meus argumentos e conclusões. Portanto, vou relatar o que aprendi diretamente dos meus próprios casos e, em seguida, farei interpretações e tirarei conclusões com base nestas informações.

A experiência de trabalhar com sequestrados afetou-me profundamente. A intensidade das energias e emoções envolvidas, à medida que os sequestrados revivem as suas experiências, não tem paralelo em nenhum outro dos meus trabalhos clínicos. O imediatismo da presença, do apoio e da compreensão necessárias influenciaram a forma como encaro a psicoterapia em geral. Além disso, acabei por compreender que os fenômemos de sequestro têm significativas implicações filosóficas, espirituais e sociais. Sobretudo, mais do que qualquer outra pesquisa que tenha levado a cabo, este trabalho obrigou-me a desafiar a visão prevalecente do mundo ou a realidade consensual, na qual cresci acreditando e que sempre apliquei nos meus estudos clínico-científicos.

De acordo com esta visão — diversamente apodada de paradigma científico ocidental, newtoniano / cartesiano ou materialista/dualista — a realidade baseia-se fundamentalmente no mundo material ou naquilo que pode ser apreendido pelos sentidos físicos. Nesta óptica, a inteligência é sobretudo um fenômeno do cérebro humano ou de outras espécies evoluídas.

Se, pelo contrário, a inteligência for entendida como característica do próprio cosmos, a percepção constitui um exemplo de «subjectivismo» ou uma projeção dos nossos processos mentais. Aquilo que os fenômenos de sequestro me levaram a entender (diria, agora, que inevitavelmente) é que participamos num universo, ou universos, cheios de inteligências, das quais nos separamos, tendo perdido os sentidos através dos quais poderíamos conhecê-las. Tornou-se também evidente para mim que a nossa restrita visão do mundo, ou paradigma, se encontra por detrás da maior parte dos grandes padrões destrutivos que ameaçam o futuro da humanidade — cobiça negligente dos grandes grupos de empresas,que perpetua as diferenças entre ricos e pobres e contribui para a fome e a doença, violência étnica e nacionalista, que dá origem a mortes em massa e poderá resultar num holocausto nuclear, e destruição ecológica a uma escala que ameaça a sobrevivência dos ecossistemas terrestres.

Existem, evidentemente, outros fenômenos que levaram a questionar a visão materialista/dualista prevalecente. Entre estes incluem-se as experiências de quase morte, as práticas de meditação, o uso de substâncias psicadélicas, as viagens dos xamãs, as danças de êxtase, os rituais religiosos e outras práticas, susceptíveis de abrir a nossa mente àquilo a que, no Ocidente, chamamos estados de consciência anormais. Mas, segundo penso, nenhuma destas práticas nos fala na linguagem que melhor conhecemos, isto é, a linguagem do mundo físico. Porque os fenômenos de sequestro nos atingem, por assim dizer, no local onde vivemos. Entram abruptamente no mundo físico, quer sejam ou não deste mundo. Portanto, o seu poder de alcançar e alterar a nossa consciência é imenso. Todos estes problemas serão mais largamente discutidos nos exemplos de casos clínicos, que constituem o corpo do livro, e, especialmente, no capítulo final.
Uma das questões mais importantes no âmbito da investigação dos sequestros tem sido saber se o fenômeno é fundamentalmente recente — relacionado com as visões de «discos voadores» e outros objetos voadores não identificados (OVNI) nos anos 40 e com a descoberta, em 1960, de que estas naves tinham ocupantes — ou se é apenas o capítulo moderno de uma longa história de relacionamento da humanidade com veículos e criaturas vindos do céu, que remonta à antiguidade.

SERES VINDOS DO ESPAÇO OU DE OUTROS DOMÍNIOS AO LONGO DA HISTÓRIA H
A ligação entre seres humanos e seres oriundos de outras dimensões tem sido ilustrada, desde há milênios, por mitos e histórias de várias culturas. Contrariamente à metafísica pós- renascentista, predominante nas sociedades ocidentais, e que coloca o homem no centro da criação, acima e separado das outras formas de vida, existem outros povos em todo o mundo que comunicam, frequentemente e por vários meios, com inteligências não humanas e espíritos. Esta comunicação e os mitos por ela criados são parte integrante das cosmologia de muitas culturas não ocidentais, constituindo para elas uma espécie de esqueleto ontológico, do qual depende o equilíbrio da cultura, dos costumes e do estilo de vida.

Ao longo da história, muitas sociedades entenderam a consciência como algo mais potente do que nós, ocidentais, a consideramos — como uma peneira ou um receptor/transmissor de comunicação com forças, nem sempre visíveis, além de nós mesmos. O dogma contemporâneo ocidental de que estamos sós no universo, relacionados apenas connosco próprios, é, na realidade, uma perspectiva minoritária, uma anomalia.

(*) Dominique Cailimanopulos investigou e escreveu a maior parte desta seção c da seguinte.

Através de várias épocas, os homens relataram os seus contatos com uma multiplicidade de deuses, espíritos, anjos, fadas, demônios, gnomos, vampiros e monstros marinhos. De todos eles se disse que vieram para ensinar, comandar, perturbar ou fazer amizade com os humanos, com diferentes disposições, motivos e objetivos. Enquanto muitos destes seres pareciam estar em casa na Terra, a maioria vinha visitar-nos vinda de outros habitais ou dimensões. O céu, em especial, tem sido escolhido como abrigo dos seres não humanos e tornou-se o símbolo da dimensionalidade extraterrestre, especialmente quando, recentemente, as fronteiras da Terra pareceram encolher. Como notou Ralph Noyes, «costumávamos povoar a Terra de espíritos e deuses. Agora, eles foram expulsos e o céu é o seu porto de abrigo» (Noyes, 1990).

Em Truk, nas ilhas Marshall, o povo acredita tradicionalmente num mundo exterior que corresponde em alguns aspectos à moderna concepção de espaço exterior. É um mundo de mistério e de poder, um mundo ao qual os seres deste mundo devem a sua própria existência. Além do mais, existia um constante diálogo entre os seres deste mundo e os habitantes do mundo exterior dos espíritos (Goodenough 1986, pág. 558). Da mesma forma, os Índios americanos da Tribo Hopi eram, segundo a tradição, educados pêlos Kachinas, seres espirituais vindos de outros planetas, que lhes ensinaram técnicas agrícolas e lhes deram as directrizes morais e filosóficas que enformaram a Cultura Hopi (Clark e Coleman 1975, pág. 215). O povo da Irlanda acreditava que as fadas ou os elfos não eram terrenos, mas sim originários de outros planetas. Frequentemente, as fadas viajam pelos céus em naves aéreas em forma de nuvem, chamadas «barcos de fada» ou «navios fantasma» (Rojcewic 1991, pág. 481).

Mircea Eliade, o famoso mitólogo, documentou amplamente o significado simbólico da distinção entre céu e terra, como ilustrativa, quer da separação, quer da ligação entre o mundo dos humanos e o mundo dos espíritos. Segundo Eliade, «os mitos arcaicos de todo o mundo falam da existência primordial de uma extrema proximidade entre o Céu e a Terra. In illo tempore, os deuses desceram à Terra e misturaram-se com os homens, e estes, por seu lado, podiam ascender ao Céu, subindo uma montanha, uma árvore trepadeira ou uma escada, ou mesmo sendo levados por pássaros» (Eliadel957.pag.59).
Estes mitos de ascensão, afirma Eliade, estas imagens de uma qualquer ligação entre a terra e os céus, encontram-se em muitas tribos (incluindo tribos australianas, de pigmeus e do Árctico) e foram elaborados tanto por culturas nômades, como por culturas sedentárias, e transmitidos diretamente às grandes culturas urbanas orientais da antiguidade. Quando o Céu foi bruscamente separado da Terra, quando a árvore da Liana que ligava o Céu à Terra foi cortada, ou quando a montanha que tocava o céu foi aplanada, então o estado paradisíaco terminou e os humanos entraram no estádio atual (Eliadel957.pag.59).

«Com efeito, todos estes mitos nos mostram o homem primitivo gozando de uma beatitude, espontaneidade e liberdade que, infelizmente, perdeu em consequência do pecado original — ou seja, daquilo que se seguiu à causa mítica que originou a ruptura entre o Céu e a Terra… Imoralidade, espontaneidade e liberdade, a possibilidade de ascender ao Céu e encontrar-se com os deuses, a amizade com os animais e o conhecimento da sua linguagem. Estas liberdades e capacidades foram perdidas em consequência de um acontecimento primordial: o pecado do homem, expresso como uma mutação ontológica da sua própria condição, bem como um cisma cósmico» (Eliade 1957, pág. 61).

Só membros especiais de cada cultura, como os xamãs, puderam continuar a movimentar-se entre o Céu e a Terra, entre os homens e o mundo dos espíritos. Os Koryaks da Sibéria recordam a era mítica do seu Grande Corvo, quando os humanos podiam subir ao Céu sem dificuldade: nos nossos dias, acrescentam, só os xamãs podem fazê-lo. Os Baikiri do Brasil pensam que, para os xamãs, o Céu não é mais alto do que uma casa, de forma que conseguem alcançá-lo num piscar de olhos (Eliadel957.pag.65).

Existem inúmeros mitos, contos e lendas relacionados com seres humanos ou sobre-humanos, que voam para o Céu e viajam livremente entre a Terra e o Céu. Ainda segundo Eliade, «as razões do voo e ascensão são comprovadas a todos os níveis das culturas arcaicas, tanto nos rituais e mitologias dos xamãs e dos extáticos, como nos mitos e folclore dos outros membros da sociedade, que não pretendem distinguir-se pela intensidade das suas experiências religiosas. Muitos símbolos e significados relacionados com a vida espiritual e, sobretudo, com o poder da inteligência, estão associados às imagens de «voo» e «asas». Todos eles exprimem uma ruptura com o universo da experiência quotidiana… tanto a transcendência como a liberdade são obtidas por meio do voo» (Eliade 1957, pág. 105).
Poderia parecer que os atuais sequestrados por OVNI são os continuadores de uma tradição vastamente documentada de ascensões e comunicações alienígenas. Porém, os sequestros por alienígenas e os seus efeitos nos sequestrados possuem uma singularidade própria. Peter Rojcewicz, especialista em folclore, comparou a experiência dos sequestrados ou sujeitos de experiência de hoje com outros fenómenos aéreos e de sequestro e alude à possibilidade de existência de uma inteligência, um espírito, uma energia, uma consciência, que preside às experiências OVNI e de encontros extraordinários de todos os tipos, cuja forma e aspecto se adaptam ao ambiente das épocas (Rojcewicz 1991).
Rojcewicz cita a longa história das visões de fenômenos aéreos invulgares e de seres ou objetos luminosos. Nos tempos antigos, eram visões de «carros celestiais, carroças que voavam para o céu, palácios voadores que brilhavam e se moviam pelos céus… Existem também muitas descrições diferentes de escudos flamejantes no céu, como triângulos. Cruzes flamejantes foram também avistadas nos céus da Europa ocidental.» O mesmo autor nota também a presença de nuvens ou de luzes nebulosas em torno de objetos invulgares , incluindo OVNI, bem como o aparecimento espontâneo de imagens religiosas luminosas no céu, frequentemente testemunhado por milhares de pessoas. Nos Estados Unidos, ainda no século passado, os americanos testemunharam o aparecimento de navios — escunas e barcos — a navegar no céu (Rojcewicz 1992). Jerome Clark, após uma cuidadosa investigação das naves avistadas nos anos 1890, concluiu que os veículos espaciais observados frequentemente nos Estados Unidos poderiam estar relacionados com os OVNI contemporâneos, mas interpretados de acordo com a tecnologia e mitologia da época (Clark 1991).
Segundo Mário Pazzaglini, um psicólogo que, desde há alguns anos, se tem interessado pelas experiências de sequestro, nos últimos dez mil anos foram registadas manifestações de natureza «relacionada
com OVNI», começando com uma gravura de Ezequiel no Antigo Testamento, que representa uma visão que inclui anjos, rodas, luz e nuvens (Pazzaglini 1992).
Fenômenos celestes invulgares foram igualmente registados pelos Romanos, pelos Gregos do século IV e na Idade Média. Manifestando-se por vezes sob a forma de estrelas, fogos no céu, cruzes, luzes ou raios de luz, era frequente as aparições desaparecerem simplesmente ou deixarem uma marca. Muitas destas visões foram observadas por milhares de pessoas e interpretadas como milagres religiosos. Muitas vezes, estes fenômenos enquadram-se perfeitamente nas crenças espirituais já existentes dos próprios observadores.
O fenômeno de seres humanos sendo transportados para outras dimensões tem também uma longa história na maioria das culturas.
Os tibetanos desde há muito que acreditam que os homens podem separar-se do seu corpo astral e viajar «sem corpo» durante horas ou dias seguidos. «Têm experiências em lugares diferentes e depois
regressam.» Os tibetanos distinguem vários graus de subtileza ou grossura, ou de densidade dos seres. «A mente ou a consciência produzida pela matéria mais densa não pode comunicar com estas coisas subtis. Em alguns, é possível observar o nível mais denso da mente sendo dominado e a mente mais subtil tornando-se mais ativa. Então surge uma oportunidade, uma hipótese de comunicar ou mesmo de ver um outro ser, mais subtil do que a nossa mente ou o nosso corpo». (Dalai Lama 1992). Exemplos contemporâneos de tais entidades no Ocidente poderiam ser os «espíritos guia», de que muitos falam. As descrições desses espíritos, que aparecem a indivíduos ou a intermediários, variam grandemente.
Rojcewicz inclui os fenômenos de sequestro por OVNI numa vasta categoria de experiências paranormais, que inclui as experiências de quase morte, poderosas experiências psíquicas, místicas, espirituais e de viagens astrais e encontros com uma multiplicidade de seres — tais como bruxas, fadas, lobisomens — que, frequentemente, originam no indivíduo uma transformação substancial dos respectivos valores e orientação. A questão de saber se e porquê estes eventos ocorrem permanece, evidentemente, sem resposta. Há muita discussão até mesmo sobre como formular tais questões.
O ponto mais frequentemente debatido, se os sequestros acontecem realmente, conduz-nos ao centro das questões sobre percepção e níveis de consciência. A questão mais candente é a de saber se existe alguma realidade independente da consciência. Ao nível da consciência pessoal, poderemos apreender a realidade diretamente ou estamos necessariamente limitados pelos nossos cinco sentidos e pela mente que organiza a nossa visão do mundo? Existe uma consciência colectiva, partilhada, que opera para além da nossa consciência individual? E se esta consciência colectiva existe, como é influenciada e como é determinado o seu conteúdo? Serão os sequestros por OVNI produto desta consciência colectiva? Se, como acontece em algumas culturas, a consciência atravessa todos os elementos do universo, qual o papel desempenhado por acontecimentos como os sequestros por OVNI e outras experiências místicas nas nossas mentes e no resto do cosmos?
Não é fácil responder a estas questões. Talvez tudo o que possamos fazer neste momento seja reconhecer as questões, enquanto escutamos o relato das experiências daqueles que se deslocaram para além da nossa concepção de «realidade» culturalmente partilhada. A experiência de ser raptado por OVNI, embora única em
muitos aspectos, apresenta algumas semelhanças com outras experiências dramáticas e transformadoras, sofridas por xamãs, místicos e cidadãos vulgares, que tiveram encontros com o paranormal.
Em todos estes domínios experimentais, a consciência vulgar do indivíduo é radicalmente alterada. Ele, ou ela, é iniciado num estado existencial fora do comum que, no final, dá origem a uma reintegração do eu, uma concentração espiritual ou entrincheiramento em estados e/ou conhecimentos até então inacessíveis. Por vezes, o processo é desencadeado por uma doença ou por um qualquer acontecimento traumático e, outras vezes, o indivíduo é simplesmente empurrado para estados existenciais, dos quais ele, ou ela, emerge
com novos poderes e sensibilidades. «Durante a iniciação, o Xamã aprende a penetrar noutras dimensões da realidade e a permanecer aí; os seus ritos iniciáticos, seja qual for a sua natureza, dotam-no de
uma sensibilidade capaz de percepcionar e integrar estas novas experiências… através dos sentidos estranhamente apurados do Xamã manifesta-se o sagrado» (Eliade 1957, pág. 66). Tal como muitos dos sequestrados, o iniciado apura a sua nova sensibilidade ao serviço da sabedoria, que poderá ser utilizada pelo seu povo.

A revelação não está apenas ao alcance daqueles que buscam a iluminação, mas pode bater a qualquer porta, em qualquer momento. No início deste século, um certo Dr. Buche descreveu o que parece ser um certo tipo de experiência arquetípica: «Ele e dois amigos tinham passado a tarde a ler Wordsworth, eats, Browning e, especialmente, Whitman. Encontrava-se num estado de quase gozo passivo. Subitamente, sem qualquer aviso, viu-se envolvido numa nuvem cor de fogo… e, quando mal se apercebera, a luz estava dentro de si próprio. Imediatamente a seguir foi tomado de um estado de exaltação, de uma imensa alegria, acompanhada de uma iluminação intelectual impossível de descrever. O seu cérebro foi momentaneamente atravessado por um raio de esplendor bramânico, deixandolhe para sempre um sabor celestial» (Eliade 1965, pág. 69).
A experiência de interiorização daquilo que é primeiramente apreendido como uma luz exterior acontece frequentemente durante lampejos místicos ou viagens transcendentais, de que resulta um renascimento espiritual. Talvez possamos esboçar uma analogia com os encontros com OVNI, em que o sequestrado é inicialmente «surpreendido por um raio de luz», divisa uma nave brilhante e, em seguida, é levado para dentro dela. Os sequestrados brasileiros, especialmente, parecem ter percepcionado nuvens luminosas, frequentemente vermelhas, associadas a naves espaciais (Story 1980).

O místico ou o xamã, tal como o sequestrado, efetua uma peregrinação, geralmente com ardor, a fim de receber uma nova dimensão de experiência ou de conhecimento. Isto envolve um renascimento que, por vezes, é extremamente penoso, um regresso a um estado sobrenatural, primordial, para recondicionar a consciência
do sujeito da experiência. O caos psíquico daí resultante é uma metáfora do caos pré-cosmogónico, amorfo, mas penetrante. O sequestrado é um Dante moderno, cujas bases ontológicas se desenleiam. Regressado à sua cama ou ao seu carro, depois de ter passado algum tempo com os alienígenas, luta para construir novamente a sua visão do mundo. A maior parte das vezes, empreende esta viagem sozinho e frequentemente a sua falta nem sequer é sentida por aqueles que poderiam ajudá-lo a encontrar as suas coordenadas.
Jacques Vallee, talvez o mais culturalmente abrangente dos investigadores de ovnilogia, trata da história internacional dos encontros com OVNI nos seus dois livros Dimensions e Passport to Magonia. Ao descrever centenas de visões de objetos vindos do céu e dos respectivos ocupantes, através do tempo, dos continentes e das sociedades, refere a aparentemente inexplicável presença de discos na simbologia de diversas civilizações: os Fenícios e os primeiros Cristãos, por exemplo, associavam-nos à comunicação entre Deus e os anjos. Compara alguma da fenomelogia dos encontros com OVNI a relatos históricos de experiências de natureza mística. Geralmente, os raios de luz aparecem, tanto nos encontros com OVNI como com seres espirituais (Vallee 1988, pág. 34). No que diz respeito aos próprios seres, Vallee salienta muitas analogias entre as aparições de seres não humanos, de formas mutáveis e aéreos, ao longo da história. Estes seres apresentam-se aos homens sob milhares de formas diferentes; possuem poderes extraordinários e, frequentemente, pretendem compartilhar de e/ou roubar qualquer coisa pertencente aos humanos, desejam comunicar com eles ou muito simplesmente pregar-lhes partidas. E Vallee conclui: «Os ocupantes dos OVNI, tal como os elfos de antigamente, não são extraterrestres. São habitantes de outra realidade» (1988, pág. 96).

Vallee acredita que a interação dos sequestrados com os alienígenas faz parte de «um mito muito antigo e divulgado em todo o mundo, que formou as estruturas das nossas crenças, as nossas expectativas científicas e a nossa ideia de nós próprios» (1988, pág. 99). Escreve este autor: «O poder atribuído aos ocupantes dos OVNI já foi posse exclusiva das fadas»(l 988,pág. 134).
Vallee traça um paralelo entre as aparições religiosas, a crença nas fadas, as aparições de seres semelhantes a anões com poderes sobrenaturais, as histórias de naves espaciais avistadas nos Estados Unidos no século passado e as atuais histórias de aterragem de OVNI (1988, pág. 140). Especula largamente: «Ou devemos levantar a hipótese de que uma raça avançada, vivendo algures no espaço e no tempo, nos tem vindo a apresentar, nestes últimos dois mil anos, óperas espaciais tridimensionais, no intuito de guiar a nossa civilização? Se é assim, eles merecem os nossos agradecimentos?… Ou, ao contrário, estamos perante um universo paralelo, uma outra dimensão, habitada por raças humanas e para onde poderemos viajar à nossa custa, para nunca mais regressar ao presente? Serão essas raças apenas meio humanas, de forma que para manterem o contacto connosco têm de miscigenar-se com os homens e mulheres do nosso planeta? Será esta a origem das muitas histórias e lendas em que a genética desempenha um grande papel: o simbolismo da Virgem no ocultismo e na religião, os contos de fadas envolvendo parteiras humanas e crianças trocadas, as implicações sexuais dos relatos de discos voadores, as histórias bíblicas de casamentos entre os anjos do Senhor e mulheres terrenas, cujos filhos eram gigantes? Nesse universo misterioso existirão seres mais avançados que projetam objetos que podem materializar-se e desmaterializar-se ao sabor da sua vontade? Serão os OVNI «janelas» e não «objetos»? Não há nada que possa apoiar estas assunções e, no entanto, tendo em vista a continuidade histórica destes fenômenos, é difícil encontrar alternativas, excepto se negarmos a realidade de todos os factos, como seria preferível para a nossa paz de espírito. (1988, pág. 143-144).»

Quando os factos são frágeis, inconsistentes ou incoerentes, os seres humanos apressam-se a preencher as lacunas, assegura Vallee. «Uma vez que muitas observações de fenômenos OVNI parecem coerentes em si mesmas, mas são, ao mesmo tempo, inconciliáveis com o conhecimento científico, gerou-se um vácuo lógico, que a imaginação humana tenta preencher recorrendo à fantasia» (1988, pág. 145).
Por fim, Vallee aconselha que nos mantenhamos abertos para aprender com estes fenômenos, que ainda não compreendemos. «Estas observações inexplicáveis não têm necessariamente de corresponder a uma visita de seres extraterrestres, mas podem ser algo ainda mais interessante: uma janela para dimensões desconhecidas do nosso próprio mundo» (1988, pág. 203). «Acredito que os fenômenos OVNI constituem prova da existência de outras dimensões, além do espaço e do tempo; é provável que os OVNI não sejam provenientes do espaço normal, mas de uma outra dimensão que se encontra à nossa volta e cuja perturbante realidade nos temos, teimosamente, recusado a admitir, apesar das provas disponíveis desde há séculos» (l 988, pág. 253).
OS FENÔMENOS DE SEQUESTRO POR OVNI NO MUNDO

Outra questão diz respeito à distribuição dos sequestros no mundo, ou dos relatos dos fenômenos, o que pode ser um assunto completamente diferente. Os sequestros por OVNI têm sido mais frequentemente relatados e recolhidos nos países ocidentais ou nos países dominados pela cultura e pêlos valores ocidentais. Na medida em que os fenômenos de sequestro podem ser vistos como ocorrendo no contexto da crise ecológica global, que é resultado da concepção do mundo materialista/dualista ocidental, é possível que o «remédio» esteja a ser administrado, primeiramente, no local onde é mais necessário — nos Estados Unidos e nos outros países industrializados do Ocidente. Relacionado com este, estaria o facto de em muitas culturas a entrada no mundo físico de veículos, e mesmo o contacto com criaturas, aparentemente vindas do espaço ou de outra dimensão, não ser provavelmente tão notória como em sociedades em que a interação entre o mundo dos espíritos ou «além» e a nossa existência física seria considerada fora do comum.

A primeira publicação de um caso de sequestro teve lugar no Brasil, referindo o alegado sequestro do filho de um rancheiro, António Vilas-Boas, em 1957. Porém, os relatos de aparições de OVNI em todo o mundo ultrapassam em muito o número de verdadeiros sequestros. O livro mais abrangente sobre sequestros na Europa foi compilado em 1987 por Thomas Bullard, um especialista em folclore da Universidade de Indiana (Bullard 1987). Bullard faz uma lista de sequestros registados em dezassete países, incluindo a Argentina, Austrália, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Inglaterra, Finlândia, França, Polônia, África do Sul, União Soviética, Espanha, Uruguai e Alemanha Ocidental.
Os Estados Unidos aparecem em primeiro lugar com um grande número de sequestros, imediatamente seguidos da Inglaterra e do Brasil, em grande parte devido à disponibilidade de hipnotistas e terapeutas praticantes que, nesses países, têm trabalhado com sequestrados. Para ilustrar este ponto, a China pode gabar-se de ter o maior número de testemunhas da aparição de um OVNI — em 24 de Agosto de 1987, cerca de um milhão de chineses viram simultaneamente um OVNI em forma de espiral (Chiang 1993) — mas não há
qualquer registo de um interrogatório subsequente de testemunhas individuais.
Porém, a exploração terapêutica das experiências de sequestro está a vulgarizar-se. Em Maio de 1993, a segunda maior cadeia de televisão alemã apresentou um documentário de quarenta e cinco minutos sobre o fenômeno dos sequestros, que conquistou o mais alto prêmio televisivo da Alemanha. Apesar de, na sequência desta transmissão, dois terapeutas terem oferecido gratuitamente os seus serviços aos sequestrados, só vinte pessoas responderam. Como em toda a parte, o sequestro continua a ser uma experiência assustadora, com a qual muitos preferem não ser confrontados, a menos que os sintomas resultantes do encontro o exijam.
Mesmo os relatos das aparições de OVNI são, em todo o mundo, rodeados de segredo. Os arquivos respeitantes a OVNI do Ministério da Defesa espanhol foram divulgados em 1992. Estes arquivos continham,
sobretudo, relatos de visões de OVNI por pessoal da Força Aérea. Ainda há muito a fazer, no sentido de convencer outros países a agir de modo semelhante, abrindo os arquivos classificados referentes a este assunto.
Em alguns países, onde as pessoas mantêm toda a espécie de crenças em seres sobrenaturais, as experiências de sequestro são confundidas, ou simplesmente relacionadas, com outras visitações. Cynthia Hind, uma investigadora da África do Sul, afirma: «As suas reações são provavelmente semelhantes às que os ocidentais teriam em face de fantasmas; não necessariamente aterrorizados (ou nem sempre), mas certamente circunspectos relativamente ao que vêem» (Hind 1993, pág. 17).
Os sequestrados europeus parecem manter contacto com uma maior variedade de entidades do que os americanos. Estas entidades incluem desde homens muito pequenos a seres altos e encapuçados, indivíduos nus de ambos os sexos e seres humanóides com cabeças, pés e mãos das mais variadas formas. Recentemente, um casal de holandeses descreveu os seus visitantes como seres pequeninos que apareciam com as cores do arco-íris — verde, cor-de-laranja e violeta (comunicação pessoal, 1992).
Mas as características gerais das experiências de sequestro mantêm- se. Na maior parte dos casos, os sequestrados são compulsivamente atraídos na direção de uma luz potente, geralmente quando estão a conduzir ou a dormir na sua cama. Invariavelmente, mais tarde, são incapazes de saber o que aconteceu durante um período de tempo «perdido» e normalmente apresentam cicatrizes físicas e psicológicas desta experiência. Estas cicatrizes vão desde pesadelos, ansiedade, agitação nervosa crônica, depressão e, mesmo, psicoses, até verdadeiras cicatrizes físicas — costuras e marcas de incisões, arranhões, queimaduras e feridas.

Alguns encontros são mais sinistros, traumatizantes e misteriosos. Outros parecem ter uma intenção terapêutica e educativa. Muito frequentemente, segundo os sequestrados, são aconselhados a não relatarem as suas experiências. Em Porto Rico, Miguel Figueroa, por exemplo, afirmou ter recebido telefonemas ameaçadores um dia depois de ter visto cinco pequenos homens cinzentos no meio da estrada (Martin 1993).
Ainda menos documentadas do que as experiências em si são as suas consequências. Ao trabalhar com sequestrados, Gilda Moura, uma psicóloga brasileira, relata as capacidades paranormais revela- das por muitos sequestrados brasileiros depois de um encontro, incluindo maiores capacidades telepáticas, clarividência, visões e a recepção de mensagens espirituais, normalmente relacionadas com a ecologia mundial, o futuro da humanidade e a justiça social. Muitos dos sequestrados decidem alterar as suas profissões, depois da experiência (Moura, na imprensa).
É provável que com a divulgação das técnicas terapêuticas e de hipnose, em experimentação nos Estados Unidos, muitas mais informações acerca das experiências dos sequestrados na Europa venham a ficar disponíveis, nos próximos anos. Certamente que, no resto do mundo, o fenônemo OVNI não é desconhecido, como o prova a proliferação de gabinetes e organizações de pesquisa dedicadas ao estudo dos OVNI.
OS SEQUESTROS NA ACTUALIDADE

A história moderna dos sequestros começa com a experiência de Barney e Betty Hill, em Setembro de 1961 (Fuller 1966). Os Hill, um casal respeitável, inter-racial, com um casamento estável, vivendo em New Hampshire, há mais de dois anos que sofriam de sintomas perturbadores, quando, reluntantemente, consultaram um psiquiatra de Boston, Benjamin Simon. Barney sofria de insônia e Betty tinha pesadelos frequentes. Ambos se encontravam num estado de ansiedade tão persistente que a continuação da sua vida normal se tornou intolerável, sem analisarem as perturbadoras repercussões daquela noite de Setembro em que tinham perdido duas horas, durante o seu regresso de umas férias em Montreal. À excepção da angústia provocada pelo incidente descrito, o Dr. Simon não encontrou sinais de qualquer doença psíquica.
Os Hill contaram que, na noite de 19 de Setembro de 1961, o seu carro foi obrigado a parar por pequenos seres humanóides cinzentos, com olhos estranhos. Antes disso, tinham reparado numa luz que se movimentava erraticamente e, em seguida, numa estranha nave. Com os binóculos, Barney conseguira divisar as criaturas no interior da nave. Os Hill sofriam de amnésia relativamente ao que lhes tinha acontecido durante as horas perdidas, até se terem submetido a repetidas sessões de hipnose sob a orientação do Dr. Simon. Nos seus encontros, o Dr. Simon recomendou-lhes que não revelassem um ao outro pormenores das memórias que estavam a emergir. Segundo os Hill, depois de terem sido retirados do carro, foram levados para uma nave, contra a sua vontade. Cada um deles relatou que, no interior da nave, foram colocados sobre uma mesa e submetidos a exames, aparentemente médicos, incluindo a recolha de «amostras» de cabelo e de pele. Inseriram uma agulha no abdômem de Betty e foi lhe feito um «teste de gravidez». Recentemente, os investigadores descobriram que também foi retirada uma amostra do esperma de Barney, um facto que tanto ele como John Fuller, que mais tarde escreveu acerca do caso, ocultaram, porque Barney o considerou demasiado humilhante para ser referido (Jacobs 1992). Os seres comunicaram com os Hill telepaticamente, por forma não verbal, «como se falassem em inglês». Foi-lhes dito para esquecerem o que tinha acontecido.
Apesar de o Dr. Simon estar convencido de que o casal Hill experimentara um tipo de sonho ou fantasia partilhado, uma espécie de folie à deux (l), mantiveram a convicção de que tais acontecimentos eram reais e não comunicaram um ao outro os pormenores concordantes dos seus relatos, durante o período de investigação dos
seus sintomas. Barney, que faleceu em 1969 com quarenta e seis anos de idade, mostrou-se particularmente relutante em acreditar na realidade da experiência, com medo de parecer irracional. «Gostaria de poder pensar que tudo não passou de uma alucinação,» disse ao Dr. Simon, quando este o pressionou. Mas, no final, Barney concluiu: «Testemunhámos e tomámos parte em algo diferente de tudo o que tínhamos visto antes» e «estas coisas aconteceram-me realmente». Betty, que continua a falar publicamente da sua experiência, também acredita na realidade destes acontecimentos. Em 1975, a televisão americana apresentou um filme sobre o caso Hill, The UFO Incident, com James Eari Jones no papel de Barney.
Nos anos seguintes ao testemunho dos Hill, um número considerável de livros e de artigos relataram experiências de sequestro vividas por outros indivíduos (Lorenzen e Lorenzen 1976; Lorenzen e Lorenzen 1977; Haisell 1978; Fowler 1979; Rogo 1980; Druffel e Rogo 1980; Bullard 1987, pág.s 1-15; Clark 1990, pág. 2). Porém, foi a investigação pioneira levada a cabo pelo artista e escultor novaiorquino Budd Hopkins, durante mais de duas décadas, com centenas de sequestrados, que deu consistência aos fenómenos de sequestro. O primeiro livro de Hopkins, Missing Time, publicado em 1981, falava dos períodos de tempo perdidos e outros sintomas relacionado que indiciam a ocorrência de experiências de sequestro, bem como dos pormenores característicos dessas experiências (Hopkins 1981). Hopkins descobriu também que essas experiências de sequestro estavam provavelmente ligadas ao prévio aparecimento inexplicável de pequenos golpes, cicatrizes e marcas de instrumentos cirúrgicos; as narrativas sugeriam até que pequenos objectos ou «implantes» poderiam ter sido inseridos nos narizes, pernas e outras partes do corpo das vítimas. No seu segundo livro, Intruders, publicado em 1987, Hopkins definiu os episódios sexuais e reprodutivos que surgiram associados aos fenômenos de sequestro (Hopkins 1987).



O historiador da Universidade de Temple, David Jacobs, completou o padrão básico dos relatos de uma experiência de sequestro (Jacobs 1992). Jacobs identifica fenómenos primários, como sejam o exame manual ou instrumental, a análise visual e os procedimentos urológicos e ginecológicos; fenômenos secundários, que incluem exames por intermédio de máquinas, visualização e apresentação de crianças e, finalmente, fenômenos subordinados, entre os quais várias atividades e procedimentos de carácter físico, mental e sexual. A meu ver, nenhum destes trabalhos trata adequadamente das profundas implicações dos fenómenos de sequestro ao nível da expansão da consciência humana, da abertura da percepção a realidades situadas para além do mundo físico palpável e da necessidade de alterar o nosso lugar na ordem cósmica, se pretendermos que os sistemas vivos da Terra sobrevivam aos violentos ataques do homem.
Sondagens relativas à predominância dos fenômenos de sequestro por OVNI nos Estados Unidos, incluindo um inquérito conduzido pela organização Roper entre Julho e Setembro de 1991, que visou cerca de seis mil americanos, indicam que várias centenas de milhar, ou mesmo milhões, de americanos poderão ter sido sujeitos a experiências de sequestro ou relacionadas com sequestros. O inquérito Roper foi criticado, com o argumento de que os indicadores de possível sequestro utilizados — como, por exemplo, o avistamento de luzes estranhas, tempo perdido ou uma sensação de voar — podem, de facto, não significar que tenha ocorrido um sequestro.
Porém, uma dificuldade muito mais séria na determinação da predominância de sequestros decorre do facto de nós realmente não sabermos o que é um sequestro — por exemplo, não sabemos em que medida é que um sequestro é um acontecimento do mundo físico ou apenas uma estranha experiência subjectiva com manifestações físicas. Um problema ainda maior reside no facto de a memória se comportar de forma verdadeiramente estranha em relação às experiências de sequestro. Como, por exemplo, nos casos de Ed (Capítulo 3) ou de Arthur (Capítulo l), a recordação de um sequestro pode permanecer no inconsciente até, muitos anos mais tarde, ser despertada por outra experiência ou situação que seja associada ao acontecimento original. Numa situação como esta, o sujeito da experiência poderia ser colocado no lado negativo da escala antes do despertar e no lado positivo, depois do despertar.
QUEM SÃO OS SEQUESTRADOS?

Os esforços no sentido de caracterizar os sequestrados como grupo não foram bem sucedidos. Parecem provir, como que aleatoriamente, de todos os estratos sociais (Bullard 1987; Hopkins 1981, 1987; Jacobs 1992, pág. 327-328). A minha própria amostra inclui estudantes, donas de casa, secretárias, escritores, homens de negócios, profissionais da indústria de computadores, músicos, psicólogos, uma recepcionista de um nightcluh, um guarda prisional, um acupuncturista, uma assistente social e um empregado de uma bomba de gasolina. No início, pensei que predominavam as pessoas das classes trabalhadoras, mas isto parece ser um artifício decorrente do facto de estas pessoas, com menos a perder do ponto de vista econômico e social, se mostrarem menos relutantes em revelar as suas experiências. Ao contrário, os sequestrados com uma posição profissional e política proeminente temem a humilhação, a rejeição e a ameaça que a revelação pública das suas experiências poderá constituir para a sua posição. Um dos homens com quem trabalhei deixou- -me uma nota com um número de telefone e uma caixa postal de uma cidade onde não vivia. Não me disse o seu verdadeiro nome, até se ter estabelecido uma certa confiança entre nós. Uma figura política famosa, bem conhecida nos círculos OVNI como testemunha de um sequestro, lançou mão de todas as armas ao seu alcance para evitar a identificação e o embaraço públicos (Hopkins 1992).
Os esforços desenvolvidos no sentido de identificar uma psico.

Da mesma forma, no caso dos sequestrados, não existe nenhum padrão aparente de estrutura familiar e de interacção. Quando comecei este trabalho, fiquei surpreendido com o número de sequestrados que eram provenientes de lares desfeitos ou em que um ou outro dos pais era alcoólico. Porém, muitos dos meus casos são oriundos de famílias perfeitamente estáveis. Também parece existir um mau relacionamento entre alguns dos sujeitos de experiência e os respectivos pais e um certo número deles queixa-se de frieza e falta de carinho no seio das famílias (por exemplo, Joe, Capítulo 8).

A alguns dos sequestrados foi dito que uma mulher alienígena era a sua verdadeira mãe e, de certo modo, eles chegam mesmo a sentir que isso é verdade, isto é, que «não são deste mundo» e que os seus pais terrenos não são os seus verdadeiros pais. Encontrei casos em que a criança sujeita ao sequestro parece ter singrado melhor na vida do que as outras crianças da família, atribuindo o facto ao calor e afeto que lhe foram dispensados pelos alienígenas durante a sua vida. Parece que, como sucede por exemplo nos casos de abuso sexual (ver abaixo), os seres alienígenas manifestam interesse pelos sofrimentos humanos e podem desempenhar uma espécie de papel curativo. Serão necessárias investigações cuidadosas no sentido de provar esta possibilidade.
Tenho a sensação de que, como grupo, os sequestrados são indivíduos anormalmente abertos e intuitivos, menos tolerantes do que é habitual face ao autoritarismo social e mais flexíveis na aceitação da diversidade e das experiências estranhas vividas por outras pessoas. Alguns dos meus casos relataram uma grande variedade de experiências psíquicas, o que também foi notado por outros investigadores (Basterfield, na imprensa). Mas aqui temos a considerar dois aspectos relativamente aos efeitos das experiências de sequestro: por um lado, o segmento determinado da população de sequestrados que primeiramente me procurou e, por outro lado, os resultados do nosso trabalho conjunto. Medidas subtis, tais como testes de abertura, de intuição e de capacidade psíquica, destinados a distinguir os sequestrados como grupo de uma amostra correspondente de indivíduos não sujeitos a tal experiência, terão ainda de ser desenvolvidos ou aplicados ao campo da investigação dos sequestros.
Na literatura relativa aos sequestros, foi também sugerida uma ligação ao abuso sexual (Laibow 1989). Porém, aqui, dois erros relacionados com a recordação imperfeita de experiências traumáticas, ou o inverso — experiências traumáticas de um certo tipo (sequestro) abrindo a mente para a lembrança de outros traumas
(abuso sexual) — podem conduzir ao falso empolamento desta ligação. Por exemplo, trabalhei com uma mulher que consultara um habilitado psicoterapeuta devido a problemas relacionados com presumível abuso sexual e incesto. Várias sessões de hipnose não revelaram quaisquer sinais de tais acontecimentos. Porém, durante uma das sessões, lembrou-se de um OVNI que aterrara perto da sua casa quando tinha seis anos de idade e do qual saíram seres alienígenas típicos, que a levaram para bordo da nave. Pela primeira vez durante o tempo de terapia, mostrou emoções fortes, e especialmente medo. O terapeuta que me referiu este caso afirmou estar «limpo», isto é, não estava diretamente familiarizado com os fenômenos de sequestro e não suspeitava que ela pudesse ter tal história.

Não existe um único caso de sequestro, de que eu ou outros investigadores tenhamos tomado conhecimento (por exemplo, Jacobs 1992, pág. 285), por detrás do qual se tenha ocultado uma história de abuso sexual ou qualquer outra causa traumática. Mas o inverso tem ocorrido frequentemente — histórias de sequestro têm sido reveladas em casos investigados devido a abusos sexuais ou outros de natureza traumática.
Aparentemente, o abuso sexual é uma das formas de sofrimento humano que, pelo menos do ponto de vista dos sujeitos de experiência, levou os alienígenas a intervir de modo protetor ou curativo. Uma mulher de trinta e cinco anos, por exemplo, lembrava-se conscientemente de ter sido vítima de abuso sexual pelo seu pai quando tinha quatro anos e de, depois, ter chorado na cave. Vários seres alienígenas familiares — recordava-se de ter encontros desde os catorze meses de idade — «vieram ter comigo para ver se eu estava ferida,
porque eu tinha dores», arranjaram-lhe roupa interior («não a adequada ») e «apertaram-me as sandálias» — disse-me ela. Também foram desenvolvidos esforços no sentido de relacionar os fenômenos de sequestro com abusos em rituais satânicos (Dean, na imprensa; Wright 1993) e com múltiplas desordens da personalidade que, à semelhança do abuso sexual, estão relacionadas com traumas psicológicos em que o mecanismo da dissociação é utilizado (Frankel 1993; Ganaway 1989; Spiegel e Cardena 1991).

Porém, é fundamental compreender que a dissociação é um meio do qual a personalidade se serve para combater a experiência traumática, cortando uma parte de si mesma, a fim de manter as emoções
perturbadoras fora do consciente e permitindo, assim, ao resto da mente funcionar tão bem quanto possível. A dissociação por si só nada nos diz acerca da origem ou do conteúdo da experiência traumática inicial. Os sequestrados poderão usar a dissociação como uma forma de lidar com as suas experiências ameaçadoras, isto é, para mante-las fora do consciente, e este pode mesmo ser um mecanismo de defesa muito vulgar entre os sequestrados (Jacobson, na imprensa). Mas o facto de utilizarem este mecanismo de defesa nada nos diz sobre a natureza da experiência traumática original.

Sinto, por vezes, que nós, os profissionais da saúde mental, somos como generais, acusados de travar sempre a última guerra, invocando os diagnósticos e os mecanismos mentais com os quais estamos familiarizados quando somos confrontados com fenômenos misteriosos, principalmente se forem susceptíveis de alterar o nosso modo de pensar. Os primeiros casos que me foram referidos na Primavera de 1990 confirmaram o que Hopkins, David Jacobs, Leo Sprinkle, John Carpenter e outros pioneiros que investigaram os fenômenos de sequestro já tinham descoberto. Estes indivíduos contavam ter sido levados, contra a sua vontade, por seres alienígenas, por vezes atravessando as paredes das suas casas, e sujeitos a elaborados procedimentos intrusivos, que pareciam ter como objectivo a reprodução.
Em alguns casos não muito frequentes, testemunhas independentes confirmaram a sua ausência física durante o período do sequestro. Estes indivíduos não sofriam de qualquer desordem psiquiátrica aparente, à excepção dos efeitos da experiência traumática, e relatavam com grande emoção aquilo que para eles constituía uma experiência absolutamente real. Além disso, estas experiências estavam algumas vezes associadas ao avistamento de OVNI por parte de amigos, familiares e outros membros da comunidade, incluindo jornalistas e repórteres, e frequentemente tinham deixado marcas físicas no corpo dos indivíduos, como, por exemplo, golpes e pequenas feridas, com tendência a sarar rapidamente e que, aparentemente, não seguiam qualquer padrão psicodinamicamente identificável, como acontece, por exemplo, com os estigmas religiosos.

Em resumo, estava a lidar com um fenômeno que, na minha opinião, não podia ser explicado psiquiatricamente, mas que simplesmente não se enquadrava na moldura da concepção do mundo, segundo o pensamento científico ocidental. Então, as minhas opções eram esticar e torcer a psicologia para além de limites razoáveis, menosprezando os aspectos do fenômeno que não podiam ser explicados psicologicamente, como as marcas físicas, os acontecimentos com crianças e mesmo bebés e a ligação aos OVNI, e insistindo numa explicação psicológica, coerente com a ideologia científica ocidental predominante. Ou podia deixar em aberto a possibilidade de o nosso modelo consensual da realidade ser demasiado limitado e de um fenômeno como este não poder ser explicado dentro dos seus parâmetros ontológicos. Por outras palavras, pode ser necessário um novo paradigma científico, a fim de compreender o que está a acontecer.

TRABALHAR COM OS SEQUESTRADOS

Com este dilema em mente, entrei em contacto com Thomas Kuhn, autor do clássico de 1962, The Structure of Scientific Revolutions, que analisa a forma como os paradigmas científicos se modificam, para ouvir o seu conselho sobre as minhas investigações. Conhecia Thomas Kuhn desde a infância, porque os pais dele e os meus eram amigos em Nova Iorque e tinha muitas vezes sido convidado para festas de Natal em casa dos Kuhn. Achei muito útil o conselho que ele e a mulher, Jehane, que é altamente especializada nos domínios da mitologia e do folclore, me deram. O que achei mais útil foi a observação de Kuhn de que o paradigma científico ocidental tinha assumido a rigidez de uma teologia e que este sistema de crenças era mantido por estruturas, categorias e polaridades da linguagem como real/irreal, existe/não existe, objectivo/subjectivo, intrapsíquico/ mundo exterior e aconteceu/não aconteceu. Sugeriu-me que prosseguisse as minhas investigações, até ao ponto de ser capaz de me libertar de todas essas formas de linguagem, limitando-me a recolher as informações em bruto, sem tentar integrar o que aprendesse numa determinada visão do mundo. Mais tarde, poderia analisar o que tivesse descoberto e verificar se era possível alguma formulação teórica coerente. E este foi, mais ou menos, o método que tentei seguir.
Quando um possível sequestrado vem visitar-me, seja recomendado pela rede OVNI, por outro profissional da saúde mental ou por iniciativa própria, depois de ter ouvido falar do meu trabalho através dos meios de comunicação social, explico-lhe que, para mim, ele ou ela é um co-investigador. Embora os sequestrados compreendam que estou empenhado na investigação do fenômeno, explico-lhes que a minha primeira responsabilidade é para com a sua saúde e bem-estar. O método geral de investigação e terapêutica que utilizo tem evoluído no decurso destes três anos e meio e está ainda a modificar-se (Mack 1992). Faço uma entrevista inicial para triagem, que geralmente tem a duração de hora e meia. Durante esta sessão, obtenho uma história de fenômenos possivelmente relacionados com sequestro e tento saber o mais possível sobre a pessoa e a respectiva família. Por vezes, entrevisto também outros membros da família, que podem ou não ser igualmente sujeitos de experiência.

Os sequestrados podem ter muitas recordações conscientes das suas experiências, mesmo sem recurso à hipnose. Na nossa primeira entrevista, um homem de dezanove anos lembrava-se de pormenores de um sequestro acontecido quando tinha quatro anos. Contou-me ansiosamente como tinha sido «apanhado», ao meio-dia, numa clareira atrás de sua casa por alienígenas cinzentos e levado para uma nave espacial. Conseguiu descrever o OVNI em forma de prato e os próprios seres, com grande pormenor. Na nave, não podia mover-se e foi forçado a deitar-se num cubículo, onde o banharam numa luz semelhante a laser e lhe retiraram uma amostra de pele, com um instrumento cilíndrico.
Depois disso, foi libertado e disseram-lhe para correr por um caminho que conduzia ao bloco de apartamentos onde vivia. Porém, muito frequentemente, os sequestrados dizem sentir fortemente que grandes partes das suas vidas estão fora das suas recordações conscientes e, no entanto, afetam grandemente a sua vida quotidiana. Embora, em geral, saibam que estas experiências podem ter sido traumáticas e que a sua recordação poderá ser perturbante, a maioria dos sequestrados que conheci opta por investigar até ao fim as respectivas experiências. É muito mais difícil, segundo eles, sentir que existem episódios importantes da sua vida mental e experiências que estão fora do seu alcance, do que confrontar-se com o que possa ter acontecido, por mais perturbadores que sejam esses acontecimentos.
A indução de um estado não habitual, nos meus casos uma forma modificada de hipnose, parece ser altamente eficaz para trazer as experiências ocultas dos sequestrados para o nível do consciente, bem como para aliviar a carga do seu impacto traumático. Não compreendo muito bem porque é que isto é tão dramaticamente verdadeiro. Os sequestrados parecem entrar facilmente em transe, embora eu não conheça qualquer estudo que tenha feito a comparação com outros grupos, especialmente de sobreviventes de outros traumas. Por vezes, a mais simples ou modesta das técnicas de relaxamento é suficiente para reavivar muitas memórias. É como se a hipnose desfizesse, atuando como uma espécie de imagem no espelho, inversa da alteração original da consciência psíquica, as forças de repressão que foram impostas na altura do sequestro.
Estas forças repressivas são sentidas pelos sequestrados como sendo algo mais do que apenas as suas próprias defesas protetoras. Podem sentir que cerca de noventa por cento da energia que os impedia de recordar resultava de uma desconexão exterior da memória, por qualquer meio utilizado pelos próprios alienígenas. Segundo os sequestrados, os alienígenas dizem-lhes frequentemente que eles não se lembrarão, ou não deverão lembrar-se, do que aconteceu. Por vezes, explicam-lhes que é para a sua própria proteção e, na realidade, especialmente no caso de crianças pequenas, a contínua recordação consciente de experiências dolorosas ou traumáticas poderia interferir com a vida quotidiana (por exemplo, Jerry, Capítulo 6).
Quando colaboram comigo, recordando os sequestros, os sujeitos de experiência podem sentir que estão a desobedecer especificamente às recomendações dos seres alienígenas, aos quais muitas vezes se sentem ligados a um nível muito profundo. Quando assim é, compete-me assegurar-lhes que, tanto quanto sei, nunca adveio qualquer mal da recordação destas experiências, quando feita num contexto de ajuda adequado.
Já tem sido sugerido que os sujeitos de experiência sentem que «não devem» lembrar-se destes eventos e que a sua ligação aos seres alienígenas é uma manifestação da «síndrome de Estocolmo», segundo a qual um refém ou vítima acaba por simpatizar com o(s) perpetrador(es), como forma de manter alguma capacidade de intervenção numa situação intoleravelmente coerciva. Esta analogia pode ser útil para explicar as primeiras manifestações de ultraje dos sujeitos de experiência, mas torna-se ineficaz quando avançamos para níveis mais profundos de descoberta. Conforme resulta claramente da análise dos casos, os sequestrados acabam por sentir uma identificação mais autêntica com os objectivos do fenômeno em geral, do que acontece, por exemplo, na situação dos reféns.

A economia e a história da recordação dos fenômenos de sequestro constituem um dos seus aspectos mais interessantes. A recordação pormenorizada de experiências que nunca penetraram no nível do consciente pode ser desencadeada, anos e mesmo décadas mais tarde, por qualquer coisa vista ou ouvida, que tenha uma qualquer relação, por mínima que seja, com o sequestro em si. Qual a combinação de factores sequestrado/alienígenas que determina o momento da recordação, incluindo o momento em que os sujeitos de experiência decidem investigar as suas histórias e quem deve contá-las, é algo que ainda escapa à nossa compreensão. As informações apresentadas neste livro são, necessariamente, afetadas por esses factores.
O tipo de hipnose ou de estado não habitual que utilizo foi alterado pela minha formação e experiência no método de respiração holotrópica, desenvolvido por Stanislav e Christina Grof (Grof 1985,1988, 1992). O método de respiração de Grof utiliza a respiração profunda e rápida, música evocativa, uma forma de ginástica e o diagrama mandala, para a investigação do inconsciente e crescimento terapêutico. Devido à sua ênfase na respiração, o método de Grof tem muito em comum com as antigas práticas de meditação.
Descobri que a concentração na respiração, como auxiliar da concentração e integração associadas à hipnose, é inestimável no trabalho com sequestrados. Isto está relacionado com a extraordinária intensidade das energias envolvidas — aparentemente ligada ao poder da experiência original — que se manifestam em sensações corporais, movimentos e fortes emoções, especialmente terror, raiva e tristeza, que se verificam à medida que a recordação da experiência de sequestro emerge.
Depois de uma indução simples, que inclui imagens tranquilizadoras, relaxamento sistemático de todas as partes do corpo e regresso frequente da atenção à respiração, encorajo o sujeito de experiência a visualizar um local confortável e relaxante, ao qual poderá regressar automaticamente em qualquer momento da sessão. Isto permite ao indivíduo mediatizar o ritmo do recordar e reforça prioridade que atribuo ao seu bem-estar. Devido ao carácter imprevisível e repetitivo destas experiências, concluí que é melhor não utilizar a palavra «seguro» para descrever este refúgio imaginário. Para muitos sujeitos de experiência, especialmente nos primeiros estádios de revelação, não existe qualquer «segurança» e sugeri-lo é negar todo o poder da experiência.
Como sucede muitas vezes com os sobreviventes de outros acontecimentos traumáticos, que procuram trazer esses acontecimentos para o nível consciente, os sequestrados querem lembrar-se. Por vezes, existe o perigo de que o desenrolar da narrativa, a recordação dos acontecimentos que rodearam o sequestro, seja mais rápido do que a reconstrução das defesas dos sequestrados, o que pode fazer que se sintam esmagados e traumatizados. Através da concentração na respiração durante o processo de indução e durante a própria sessão de hipnose, o sujeito da experiência poderá manter-se em terra firme e enfrentar as suas experiências com maior força. No início da sessão, explico ao sequestrado que estou mais interessado na sua integração das experiências recordadas, do que e «obter a história». A história, como explico, surgirá por si própria, a seu tempo.
Tendo alcançado juntos um estado de relaxamento (muitas vezes algo mesclado de apreensão) e estabelecido os métodos de compassar e fundamentar a recordação, passamos ao processo de recuperação da memória. Os capítulos seguintes apresentam pormenorizadamente vários exemplos desta parte da sessão. Ao ler estes relatos, é útil notar a forma como o regresso à concentração na respiração em momentos difíceis, muitas vezes reduz o medo, radicando a memória na percepção pura e acalmando o pensamento interpretativo. Além disso, em momentos de especial aflição durante a sessão, posso colocar gentilmente a minha mão no ombro do sequestrado, para o assegurar da minha presença. Mas, ao facultar este apoio, é necessário ter cuidado para não criar uma réplica confusa da intrusão original, que qualquer contacto físico com um sujeito de experiência que se encontre nas profundezas da recordação de um trauma pode originar.
No fim da sessão, o sujeito da experiência pode sentir uma grande tensão ou espasmos em certos grupos de músculos — especialmente, não se sabe porquê, nas mãos — e, assim, um método de exagero de tensão, tal como o desenvolvido pelos Grof, pode ser adequado para libertar a tensão ou os espasmos que perdurem. Neste momento, também dispendemos algum tempo a conversar sobre o material que emergiu. Esta conversa ajuda a trazer o material mais completamente para o nível do consciente normal e a incrementar o processo de integração. E também neste momento que muitos sujeitos de experiência começam a debater-se com problemas de precisão e de significado e, muitas vezes, perguntam-me como deverão encarar as memórias recuperadas por meio da hipnose. Esta questão foi atentamente estudada tanto na comunidade de estudos OVNI, como na terapêutica. Os críticos e os cépticos citam trabalhos sobre a imprecisão das recordações sob hipnose e a possibilidade de o sujeito de experiência estar a desenvolver um processo de recordação para agradar ou submeter-se às expectativas do hipnotizador, a fim de questionarem a própria realidade dos fenômenos de sequestro. Penso que estas críticas não podem ser fundamentadas.
Daniel Brown, um notável especialista em matéria de pesquisas sobre a hipnose, verificou, após leitura cuidadosa da literatura sobre as recordações das vítimas de trauma sob hipnose, que simplesmente não existem estudos sobre a precisão da memória relativos aos indivíduos para os quais os eventos em questão têm significado ou importância fundamentais. Em vez disso, as conclusões relativas à imprecisão da recordação sob hipnose foram baseadas em estudos em que foi criado um contexto ambiental e a memória foi testada relativamente a acontecimentos de significado periférico para o sujeito (comunicação pessoal, 18 de Outubro de 1993). Portanto, estes estudos podem não ser aplicáveis aos sequestrados, que estão altamente motivados para recordar com grande exatidão ocorrências da maior importância para eles.
Se, tal como suspeito, o fenômeno de sequestro se manifesta no mundo físico espaço/tempo, mas não lhe pertence num sentido literal, as nossas noções de precisão da recordação relativamente ao que aconteceu ou não aconteceu (o conselho de Kuhn para suspender as categorias parece ser de aplicar aqui) podem não se aplicar, pelo menos no sentido físico literal. Nestas circunstâncias, o relato da experiência pela testemunha e a determinação clínica da genuinidade desse relato poderá ser o único meio de avaliar a realidade da experiência.
Assim, a descoberta de John Carpenter de que os sujeitos de experiência, sequestrados em conjunto e, mais tarde, hipnotizados separadamente, fornecem coerentemente relatos do que lhes «aconteceu» nas naves, semelhantes nos mínimos pormenores, torna-se ainda mais notável (Carpenter 1993). Recorrendo aos critérios da adequação emocional e de uma narrativa coerente com aquilo que eu próprio sei sobre a forma como os sequestros em geral se processam, julgo que os relatos feitos sob hipnose são normalmente mais exatos do que os recordados conscientemente. Veremos, por exemplo, no caso de Ed (Capítulo 3), como a sua recordação consciente de um sequestro ocorrido quando era um adolescente continha bravatas e acontecimentos agradáveis compatíveis com a sua auto-estima de adolescente.

Quando, com dificuldade, a mesma experiência foi recordada mais pormenorizadamente sob hipnose, verificou-se ser algo humilhante e totalmente incompatível com a auto-estima de um adolescente. A sugestão de que o sequestrado tenta agradar ao hipnotizador durante a sessão e, por isso, inventa toda a história — porque, presumivelmente, o hipnotizador está ali para descobrir um sequestro – esquece a grande angústia que os sequestros causam aos sujeitos de experiência e como é forte a sua resistência a trazer novamente para
o consciente tudo aquilo por que passaram e, mesmo, a aceitar a realidade do fenômeno. Como poderemos ver nos últimos capítulos deste livro, por vezes era-me necessário invocar cada pedaço da nossa aliança e cooperação para convencer o sequestrado a continuar a penetrar nas profundezas da experiência esquecida. Além disso, os sequestrados são peculiarmente pouco sugestionáveis. Para desmentir tais críticas, eu e outros investigadores tentamos repetidamente enganar os sequestrados sugerindo-lhes elementos específicos— por exemplo, os alienígenas tinham cabelos ou havia cantos nas salas das naves — mas fomos sempre confrontados com uma contradição direta dos nossos esforços.

Os defensores da controversa ideia da «síndrome da falsa memória» como explicação para as recordações de sequestro terão de arranjar uma explicação para este facto, bem como para os pontos salientados na página 43. Esta discussão, assim como as minhas conversas com os Kuhn, levantam interessantes questões epistemológicas, que nos acompanharão ao longo deste livro, especialmente as relacionadas com a consciência como instrumento do conhecimento. Neste trabalho, como aliás em qualquer investigação clinicamente sólida, a mente do investigador ou, mais precisamente, a interação entre as mentes do cliente e do clínico, é o meio de obtenção do conhecimento. Porém, temos então de salientar que, embora a nossa análise e formulação posteriores sejam feitas tão objetivamente quanto possível, as informações originais são obtidas de forma não dualística, isto é, através do desenrolar intersubjetivo da interação investigador-sequestrado.
Assim sendo, a experiência, o relato dessa experiência e a recepção dessa experiência através da mente do investigador são, na ausência de verificação física ou de «prova» (sempre bastante subtil nos fenômenos de sequestro, como veremos mais adiante), os únicos meios possíveis de sabermos dos sequestros.
Quando os sujeitos de experiência me interrogam acerca do estado da sua experiência sob hipnose, tudo o que lhes posso dizer é que os elementos que compõem a sua história aparecem também, repetidamente, nas histórias de outros indivíduos que não são loucos. Reparo que os sentimentos e emoções que me revelaram parecem bastante verdadeiros e pergunto-lhes se têm alguma explicação para uma tal intensidade de sentimentos. Por fim, digo-lhes que não tenho respostas e peco-lhes para considerarem a realidade das suas «memórias».
No fim da sessão, peço aos sujeitos da experiência para telefonarem, a mim ou à minha assistente, Pam Kasey, que está presente durante quase todos os encontros, para marcarmos uma próxima discussão. Normalmente eles telefonam e, quando não o fazem, telefonamos nós. Estamos interessados em saber como é que o sujeito da experiência manejou os intensos sentimentos que emergiram durante a sessão, se surgiram outras memórias e como é que estão a suportar aquilo a que chamo o «choque ontológico» dos eventos do sequestro. Porque, até à violenta libertação ocorrida durante a sessão de hipnose, os sequestrados ainda podiam agarrar-se à possibilidade dessas experiências não passarem de sonhos ou de sofrerem de uma doença mental curável. A negação nunca desaparece por completo e é possível que o choque se repita, mesmo depois de várias sessões de hipnose, especialmente se um segundo sequestrado faz um relato independente do seu testemunho ou da sua experiência durante um sequestro conjunto, coincidente com o relato do primeiro.
Reuniões regulares de um grupo de apoio, realizadas numa atmosfera amigável e privada, onde o convívio é possível, são um aspecto importante do meu trabalho com os sequestrados, especialmente porque os membros deste grupo se sentem extremamente isolados e incapazes de comunicar, excepto com outros sujeitos de experiência, sobre um aspecto central das suas vidas sem medo da rejeição ou do ridículo. No grupo, os sequestrados encontram um conjunto de indivíduos com experiências semelhantes. No grupo, os sequestrados podem partilhar aquilo que experimentaram, ou estão ainda a experimentar, podem manter-se a par do que está a suceder no domínio dos OVNI/sequestros em geral e podem explorar os diversos significados e implicações possíveis das experiências nas suas vidas, quer individual, quer colectivamente.
Embora um ou mais investigadores profissionais estejam presentes durante as sessões do grupo de apoio, é importante que os sequestrados desenvolvam uma rede própria de entreajuda, que funcione fora das reuniões regulares. Por vezes, isto implica reuniões de grupos mais pequenos; noutras ocasiões, o contato telefônico é suficiente. Como já salientei, os sequestrados normalmente não são indivíduos mentalmente perturbados. Porém, passaram por experiências fortemente traumatizantes ou desconcertantes, sentem-se isolados perante a estrutura das crenças dominantes na sociedade e necessitam, frequentemente, de muito apoio das pessoas que conhecem ou estão familiarizadas com o fenômeno dos sequestros. Muitas vezes, é útil a um sequestrado ter uma relação permanente com um psicoterapeuta, familiarizado com estes fenômenos.

Quando comecei a trabalhar neste campo, existiam muito poucos profissionais de saúde mental envolvidos no assunto, e alguns estavam a fazer um mal considerável, ao tentarem enquadrar as experiências numa categoria de diagnóstico conhecida, geralmente numa qualquer outra forma de abuso traumático. Porém, esta situação está a mudar, e na área de Boston, como em outras áreas metropolitanas, existe um número crescente de clínicos despertos para a realidade dos fenômenos de sequestro e aptos a trabalhar com estas pessoas, embora poucos estejam preparados para levar a cabo a libertação das experiências dos sequestrados através da hipnose. Programas de formação, iniciados em 1992 sob a liderança e com o apoio de um empresário de Las Vegas, Robert Bigelow, foram organizados em várias cidades americanas sob a direção dos investigadores de sequestros John Carpenter, Budd Hopkins e David Jacobs, e estão a levar os fenômenos de sequestro ao conhecimento de muitos especialistas de saúde mental.
Ao falar com outras pessoas que trabalham com sujeitos de experiência, fui levado a concluir que o mais importante durante uma regressão, assim como em todas as interações com os sequestrados, é a forma de conter as energias dessas experiências. Isto implica um certo grau de calor e empatia, a crença na capacidade
do indivíduo para integrar essas experiências desconcertantes e retirar delas um significado e, ainda, uma vontade de entrar no processo de co-investigação e arriscar-se a ser transformado pelas informações. Evidentemente que se trata de qualidades indispensáveis em qualquer relação, mas que se tornam fundamentais neste trabalho, onde todos, sequestrado, investigador e terapeuta, somos levados até ao limite.

Capítulo foi extraído do Livro : Sequestro: Encontros com Extraterrestres do John E. Mack.


FONTE: TERRÍCOLA

Comentários

  1. Obrigado por disponibilizar um capitulo de um dos livros deste grande pesquisador, que nao esta´´ mais entre nos.

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  2. Olá. Gostaria de adquirir este livro mas infelizmente não o encontrei. Vc teria ideia de onde posso encontrá-lo? Meu e-mail é biasinha.capel@hotmail.com

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  3. Olá, parabéns pela excelente matéria. Você tem conhecimento sobre algum link no qual eu possa encontrar todo o livro em .PDF? Obrigado e aguardo por sua atenciosa resposta!

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  4. Atenção: no texto sob o subtítulo 'QUEM SÃO OS SEQUESTRADOS?' na sequência do início do segundo parágrafo, verifica-se a falta de uma grande quantidade de texto, que entretanto pude copiar da edição portuguesa. Os três parágrafos quase inteiros que faltam estão aqui, na sua integridade:

    [ Os esforços desenvolvidos no sentido de identificar uma psico-patologia, para além das perturbações causadas por um acontecimento traumático, não foram bem-sucedidos. Os testes psicológicos dos sequestrados não revelaram sintomas de qualquer perturbação mental ou emocional susceptível de explicar as experiências relatadas (Bloecher, Clamar e Hopkins 1985; Pernell 1986; Parnell e Sprinkle 1990; Rodeghier, Goodpaster e Blatterbauer 1991; Slatter 1985; Spanos et al. 1993; Stone-Carmen, na imprensa). A minha própria amostra apresenta uma vasta gama de saúde mental e adaptação emocional. Alguns dos sequestrados são indivíduos essencialmente práticos, que parecem sobretudo necessitar de ajuda para integrar as experiências de sequestro nas suas vidas. Outros são quase emagados pelo choque traumático e pelas implicações filosóficas das respectivas experiências e precisam de muitos conselhos e apoio emocional.

    A aplicação de um conjunto completo de testes psicométricos é muito morosa e dispendiosa. Incumbi-me de submeter quatro dos meus casos a testes elaborados por psicólogos doutourados. Um homem de vinte e um anos, que eu sabia estar profundamente perturbado – um dos dois, entre os meus setenta e seis casos, que teve de ser hospitalizado por razões psiquiátricas – revelou uma imagem complexa de perturbação emocional e pensamento confuso, na qual não era possível distinguir entre causa e efeito em relação à esperiência de sequestro. Em relação aos outros três, os resultados dos testes foram normais, sem qualquer vestígio de psicopatologias.

    Os esforços para encontrar umtipo de personalidade associado aos sequestros também não foram bem suceidos. (Basterfield e Barttholomew 1988; Basterfield na imprensa; Mack na imprensa; Rodeghier, Goodpaster e Blatterbauer 1991). O psicólogo Kenneth Ring postulou a noção de uma personalidade propensa aos encontros (Ring1992; Ring e Rosing 1990), a tendência de um indivíduo que foi afectado por experiências estranhas para ser mais aberto a elas no futuro. Mas também aqui, como em quaisquer hipóteses relacionadas com a personalidade dos sequestrados, é preciso não esquecer que os encontros podem, em muitos casos, ter começado na primeira infância e que crianças com apenas dois anos falaram das suas exeriências de sequestro. Na minha própria amostra tenho dois rapazes com menos de três anos. Assim, nestes casos, é virtualmente impossível distingir entre causa e efeito na relação dos sequestros com a construção da personalidade. ]

    Vítor Luís, Lisboa, Portugal.

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