Saturno e seus majestosos (e efêmeros) anéis, em imagem da sonda Cassini (Crédito: Nasa)
Por Salvador Nogueira
As principais joias do Sistema Solar — os famosos anéis de Saturno — são uma aquisição recente, revelam dados da sonda Cassini. De acordo com os resultados colhidos durante o Grand Finale da missão, em 2017, as estruturas feitas de minúsculos fragmentos de gelo se formaram entre 10 milhões e 100 milhões de anos atrás. É um piscar de olhos geológico.
Embora a incerteza seja nada desprezável (um fator 10), é a essa altura inquestionável que os anéis não se formaram junto com o planeta, há 4,5 bilhões de anos, como durante muito tempo se pensou.
A conclusão, apresentada na edição desta semana da revista científica americana Science, só foi possível porque a Cassini conseguiu, durante suas órbitas finais, fazer a delicada “pesagem” dos anéis, estimando sua massa.
Durante a imensa maioria dos quase 14 anos que a sonda passou orbitando Saturno (ela chegou lá em 2004), suas voltas ao redor do planeta abarcavam também os anéis. Isso na prática implicava medir a gravidade conjunta do sistema.
Para a fase final da missão, contudo, já com o combustível nas últimas, os cientistas resolveram ser mais ousados e fazer sobrevoos rasantes do planeta, passando entre o topo das nuvens e os anéis — 22 ao todo. Nessas passagens, era possível distinguir entre a gravidade do planeta (puxando para um lado) e a dos anéis (muito mais fraca, mas puxando para o outro). Sabendo a intensidade da força gravitacional exercida pelos anéis, tornou-se possível estimar sua massa.
Já se sabia que, para os anéis serem antigos, eles precisariam ter muita massa. Caso contrário, a degradação gradual já os teria feito desaparecer. E eis que os resultados indicaram que ele tem pouca massa, o que significa que é recente.
“Com esse trabalho, a Cassini cumpre uma meta fundamental de sua missão: não só determinar a massa dos anéis, mas usar a informação para refinar modelos e determinar a idade deles”, disse em nota Luciano Iess, da Universidade de Roma, autor principal do trabalho.
O resultado se encaixa bem com outros trabalhos, baseados em dados da Cassini e outros colhidos em solo, que sugerem que os anéis estão se degradando rapidamente e devem desaparecer em mais 300 milhões de anos.
Ele também é compatível com análises de mecânica celeste que sugeriam a impossibilidade de que as luas saturninas mais internas tivessem uma origem antiga, com a mesma idade do planeta.
É bonito ver quando as diferentes peças do quebra-cabeça se encaixam todas para contar a mesma história. E mais intrigante ainda é imaginar o que havia em Saturno antes dos anéis — todo um sistema de luas internas que deve ter em algum momento colapso por uma reação em cadeia de colisões, produzindo os anéis, parte dos quais coalesceram novamente para formar as atuais luas internas, dentre elas a apaixonante Encélado, uma bolinha de 500 km de diâmetro com um oceano habitável de água líquida em seu interior.
Se imaginarmos que Encélado é recente, temos aí uma chance menor de encontrarmos vida por lá. Talvez ainda não tenha dado tempo para ela se formar. Em compensação, temos uma boa chance de flagrar a química imediatamente precursora da origem à vida, ou mesmo talvez os primeiros passos da evolução biológica, a essa altura já apagados na Terra.
FONTE: mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br
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