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Mulheres podem ser mais resilientes mentalmente em viagens espaciais?


Stephanie Wilson e Katy Thornton

Um novo e controverso estudo em ratos sugere diferenças entre os sexos no declínio cognitivo induzido por raios cósmicos

O espaço profundo, que fica logo depois da fronteira do campo geomagnético da Terra, é um lugar desagradável. Lá, a radiação cósmica gerada por erupções solares, supernovas, buracos negros supermassivos e outros fenômenos astrofísicos poderosos podem desencadear câncer, perda de visão e comprometimentos cognitivos nos futuros astronautas que viajarão para a Lua, Marte ou além.

Mas um novo estudo financiado pela NASA e publicado na revista Brain, Behavior and Immunity faz uma afirmação ousada: quando expostas à radiação cósmica, as mulheres podem ter uma capacidade biológica inata para evitar os declínios cognitivos associados. Uma equipe de pesquisadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco (UCFS), e do Laboratório Nacional de Brookhaven, descobriu que camundongos fêmeas, de alguma forma, mantinham o pensamento claro após doses perigosas de radiação, enquanto os machos desenvolviam um óbvio comprometimento cognitivo. O grupo talvez tenha descoberto a razão para esta diferença, o que pode ajudar a criar “vacinas” para inocular em humanos e assim nos ajudar a lidar com os piores efeitos da radiação no cérebro.

No estudo, os cientistas de Brookhaven bombardearam um número igual de camundongos machos e fêmeas com uma potente mistura de partículas radioativas que imitam as que ocupam o espaço profundo - como os núcleos atômicos de alta energia do oxigênio, hélio e hidrogênio. Essas partículas, e outras como elas, fazem um pingue-pongue no vazio que existe para além da bolha magnética protetora da Terra, e algumas são canalizadas para os Cinturão de Van Allen - uma zona de radiação fervilhante que envolve nosso globo. Apenas 24 seres humanos já atravessaram este território traiçoeiro: os astronautas da Apollo, que correram pelos cinturões a caminho da Lua. O quanto o banho de radiação era prejudicial para cada viajante da Apollo continua sendo uma questão controversa, mas em cada viagem os astronautas passaram apenas quatro horas nos cinturões e menos de duas semanas fora do campo geomagnético da Terra. Em futuras missões ao espaço profundo, os astronautas podem ter que enfrentar tempos de exposição muito maiores.

Os astronautas da Apollo eram todos homens - a NASA não enviou uma mulher ao espaço até 1983, quando Sally Ride saiu da órbita da Terra a bordo do ônibus espacial Challenger. E ninguém se aventurou de volta ao espaço profundo desde a missão final Apollo em 1972. "Os astronautas que estão na Estação Espacial estão protegidos do tipo de radiação que estamos observando", diz a principal autora do artigo Karen Krukowski, do Departamento de Fisioterapia e Reabilitação da UCSF.


A 300 mil quilômetros da Terra, o astronauta da Apollo 17, Ron Evans, recupera um filme cassete do exterior da espaçonave enquanto a missão retorna da Lua. Os astronautas que voam através do espaço profundo estão mais expostos a perigosas radiações cósmicas do que seus equivalentes na órbita baixa da Terra.

Depois de expor os camundongos a uma sessão de sete minutos de radiação cósmica simulada em Brookhaven, os pesquisadores da UCSF monitoraram os animais durante meses a fio, observando mudanças em sua fisiologia, genética e comportamento. As fêmeas não apresentavam problemas cognitivos discerníveis, mas os machos exibiam sinais claros de ansiedade, bem como características de socialização, memória e resolução de problemas diminuídas. "O mais impressionante para nós foi que quando olhamos para os dados nos deparamos com grandes déficits nos machos, já as fêmeas foram protegidas em todos esses aspectos", diz Krukowski.

Krukowski e seus colegas levantam a hipótese de que isso pode ser o resultado, nos sexos, das diferenças entre a atividade da microglia - células protetoras do sistema nervoso central que, quando ativadas, podem desencadear inflamações no tecido circundante. Pesquisas anteriores sugeriram que os camundongos fêmeas possuem menos microglias ativadas do que seus pares masculinos, potencialmente oferecendo às fêmeas mais proteção contra as inflamações. Agora a equipe da UCSF está conduzindo experimentos de acompanhamento suprimindo a atividade de células da microglia em novos grupos de camundongos machos e fêmeas que foram irradiados com as tais substâncias para entender melhor essa diferença potencial baseada no sexo. Com mais pesquisas, este mecanismo microglial proposto poderá algum dia ser explorado para proteger homens e mulheres em missões no espaço profundo.

Mas alguns pesquisadores, que não estiveram envolvidos no trabalho, não estão acreditando nos resultados surpreendentes do estudo. De acordo com Francis Cucinotta, professor de ciência da radiação da Universidade de Nevada, em Las Vegas, e ex-cientista-chefe do Programa de Radiação Espacial da NASA, a maior parte da literatura sobre exposição humana à radiação mostra resultados indiferentes para os sexos. "As pessoas que realizaram tratamentos para câncer cerebral, com doses muito mais altas de irradiações, não exibiram muita diferença entre homens e mulheres", diz ele. "Nos sobreviventes das bombas atômicas lançadas no Japão nenhum efeito cerebral foi observado, exceto nas exposições de fetos no útero". Os astronautas das estações espaciais - bem como os trabalhadores de usinas nucleares - também não mostram diferenças discerníveis ligadas ao sexo, observa ele. Mesmo que os novos resultados da UCSF e da Brookhaven sejam independentemente confirmados, acrescenta Cucinotta, "as mulheres têm chances definitivamente mais altas de desenvolver câncer por radiação devido aos tipos de câncer que só elas podem ter, como o de mama e o de ovário, e muitos estudos em humanos e animais mostram que isso é verdade".

Rebecca Oberley-Deegan, bióloga que estuda radiação no Centro Médico da Universidade de Nebraska, está igualmente cética em relação aos novos resultados, e diz que os camundongos machos poderiam ter predisposições a alguns dos problemas documentados por Krukowski e colegas. Sua crítica se fundamenta nas diferenças conhecidas, baseadas no sexo, sobre como os camundongos socializam. "Embora eu ache que foram executados todos os testes corretos para cognição e que os controles adequados estavam em vigor, os autores têm um problema enorme em sua configuração empírica: os camundongos machos estavam lutando entre si durante todo o experimento enquanto os camundongos fêmeas não estavam", ela diz. “Parece que os camundongos machos lutaram tanto que cinco morreram, e todos eles exibiram feridas durante o experimento. Isso é muito comum, geralmente apenas machos de uma mesma ninhada são alojados juntos porque eles não lutam entre si”. Lutas entre machos de várias ninhadas, acrescenta Oberley-Deegan, podem causar um aumento na ansiedade e inflamação. "Eu não diria que esses resultados mostram conclusivamente que os machos correm mais risco de desenvolver danos por radiação do que as fêmeas", diz ela. "Eu diria que esses dados mostram que um animal estressado e ferido é mais vulnerável a danos causados por radiação."

Krukowski confirma que nem todos os camundongos machos do estudo possuíam algum parentesco, mas observa que isso foi levado em conta: irmãos de ninhada foram alojados juntos, e quaisquer camundongos agressivos foram colocados em um alojamento separado com um habitat solitário, mas rico em estímulos. Nem os camundongos que foram feridos nem aqueles que morreram durante o experimento foram utilizados nas análises comportamentais subseqüentes.

Mesmo com essas e outras precauções, Krukowski e sua equipe reconhecem que a questão de como os humanos reagem a longas jornadas no espaço profundo é tão multidimensional que qualquer experimento que não seja, efetivamente, uma missão real deve ser considerado apenas como algo preliminar. "A exposição à radiação cósmica é apenas um dos obstáculos enfrentados pelos astronautas durante as missões espaciais", diz Krukowski, apontando para outros problemas potenciais como a privação de sono e os efeitos fisiológicos de meses ou anos em microgravidade - fatores que ela e sua equipe pretendem estudar em conjunto com os efeitos da radiação. "Este é um primeiro passo para entender como a radiação cósmica pode influenciar domínios cognitivos e comportamentais".

John Wenz

FONTE: SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL

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