Uma data para celebrar e encorajar a participação feminina nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática
Feliz dia da Ada Lovelace! (Foto: GE)
Desde 2009, comemora-se na segunda terça-feira do mês de outubro o Ada Lovelace Day. Batizado com o nome daquela que é considerada a primeira programadora do mundo, a data é uma celebração das conquistas femininas em áreas que até hoje são dominadas por homens, como ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
O evento, criado pela britânica Suw Charmam-Anderson, que é tecnóloga social, escritora e jornalista, reúne acontecimentos em todo o mundo. Em Londres, por exemplo, uma série de palestras, conversas e apresentações são realizadas no dia 11 de outubro, data oficial da celebração nesse ano de 2016. Além de incentivar a participação das mulheres, esses encontros buscam divulgar o trabalho de profissionais inspiradoras para a garotada que vem aí.
TI: difícil entrar, ainda mais raro ficar
Para se ter uma ideia, até nos Estados Unidos, principal reduto das empresas de tecnologia da informação (TI), os números não são nada amigáveis. Segundo o último censo, as mulheres representam apenas 25% dos empregos na área. No Brasil, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mostram que elas são apenas 20% desses profissionais.
De acordo com Heloisa de Arruda Camargo, professora do Departamento de Computação da UFSCar, ainda não é possível observar um aumento da participação feminina nessas áreas, mas há, sim, uma maior preocupação com essa questão. “Além de estimular as mulheres a ingressarem, é importante apoiar aquelas já estão nesse campo. Muitas se sentem um peixe fora d’água em um ambiente considerado masculino, e acabam desistindo antes mesmo de descobrirem se gostam mesmo da carreira”, alerta.
Além de serem a minoria nas cadeiras universitárias – pesquisas mostram que em 2009 elas representaram uma média de 10% em instituições conceituadas, como ITA e Unesp –, aquelas que conseguem concluir o ensino superior e chegam ao mercado de trabalho enfrentam o clássico machismo laboral: ganham em média 30% menos que os homens, conforme dados do Pnad.
Dentre os principais pontos para a ocorrência desse fenômeno está a falta de modelos femininos na área, o sentimento de exclusão em ambientes dominados pelo sexo masculino, a baixa autoestima e autoconfiança das mulheres, a falta de incentivo e a falta de intimidade com a cultura da computação. As causas foram levantadas pela pesquisadora Bárbara Castro em sua tese de doutorado na Unicamp.
Sem falar na cultura na qual estamos inseridos, em que o machismo é algo arraigado. Afinal, meninas brincam de boneca e casinha, enquanto meninos se divertem com carrinhos, computadores e videogames. Daí a importância do Ada Lovelace Day e outras iniciativas de apoio a permanência das mulheres no ramo da tecnologia.
“A Sociedade Brasileira de Computação, por exemplo, promove um evento chamado Women in Information and Technology (WIT) e tem o programa Meninas Digitais, direcionado a alunas do ensino médico. Aqui em São Carlos temos o grupo Pyladies, que tem como objetivo estudar a linguagem de programação Python, motivando mais mulheres a se interessarem pela computação”, diz a acadêmica.
Elas são bambas
Exibição sobre Ada Lovelace no Museu de Ciências de Londres (Foto: Reprodução/Science Museum)
Apesar da participação ainda tímida, não faltam mulheres inspiradoras, que alcançaram feitos importantíssimos no ramo da ciência e da tecnologia. A história está cheia de nomes expressivos, como a cientista Marie Curie, ganhadora do prêmio Nobel de física (1903) e de química (1911); a cosmonauta Valentina Tereshkova, primeira mulher a ir ao espaço, em 1963; a agrônoma Johanna Döbereiner, tcheca naturalizada brasileira que revolucionou a produção de soja.
A professora Heloisa de Arruda Camargo sugere outros quatro nomes para engrossar o time feminino. A primeira é a argentina Maria Carolina Monard, professora aposentada do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação – USP São Carlos. “É uma pessoa muito respeitada na comunidade de inteligência artificial. Foi pioneira em uma época em que a própria computação era nova no Brasil”, ressalta a especialista da UFSCar.
Na área de interação humano-computador, destaque para Clarisse Sieckenius de Souza, professora da PUC – Rio. A também professora aposentada do ICMC – USP São Carlos, Maria das Graças Volpe Nunes, foi responsável pela consolidação da área de Processamento de Linguagem Natural, vertente da ciência da computação que trata das interações entre computadores e línguas humanas (naturais), no Brasil.
Por fim, Teresa Bernarda Ludemir, professora da Universidade Federal de Pernambuco, que atua no campo de inteligência computacional com ênfase em redes neurais e aprendizado de máquina.
Mas afinal, quem foi Ada Lovelace?
Retrato de Ada Lovelace (Foto: Reprodução/Wikipedia)
Nascida no dia 10 de dezembro de 1815, a britânica é filha da combinação entre exatas e humanas. Seu pai, Lord Byron, é considerado um dos principais poetas da Inglaterra e a abandonou com apenas um mês de vida. Já sua mãe, Annabella, era uma estudiosa da matemática e fez de tudo para aproximar a pequena Ada dos números, distanciando-a de um caminho semelhante ao do pai.
Parece que deu certo. Aos 27 anos, a então condessa iniciou uma parceria com o inventor Charles Babbage, responsável por projetar a primeira máquina analítica – uma espécie de computador de uso geral.
Após realizar um seminário sobre o funcionamento da sua máquina, que daria origem a um artigo em francês, o cientista pediu a ajuda de Ada para traduzi-lo para o inglês. Assim ela o fez, mas acrescentando notas extremamente detalhadas, em que descrevia nada menos que um algoritmo sobre como a “máquina analítica” poderia computar uma série de números complexos, chamados de Sequência de Bernoulli.
Ou seja, em 1842, Ada Lovelace criou o primeiro programa, antes mesmo da existência concreta de um computador. A matemática morreu jovem, aos 36 anos, em decorrência de um câncer de útero. O reconhecimento do seu trabalho veio cerca de um século depois, com a republicação de suas notas que trazem a descrição de um modelo de computador e seu respectivo software.
Como homenagem, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos criou um código de linguagem e o batizou de ADA, no ano de 1979. “O trabalho de Ada Lovelace foi uma revolução, assim como a própria máquina para a qual o algoritmo foi escrito. Um programa, na forma como conhecemos hoje, é o mecanismo que usamos para instruir o computador sobre o que desejamos que seja feito. Essa importância se reflete nos dias de hoje, porque o projeto e a implementação de linguagens de programação permanecem como uma necessidade básica de todas as áreas da computação”, ressalta Heloisa de Arruda Camargo sobre a obra revolucionária elaborada por mais uma mulher de fibra.
FONTE: REVISTA GALILEU
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