A ideia é usar nanonaves ou micronaves, dentro das quais haveria biochips - verdadeiros microlaboratórios genéticos - capazes de lançar os microrganismos no planeta desabitado.[Imagem: Ben Bishop]
Terraformação
Será que a vida pode ser levada para corpos celestes fora do nosso Sistema Solar, ao menos para aqueles cujas características não os definam como decididamente inabitáveis ou permanentemente habitáveis?
Esta ideia, conhecida como terraformação, já foi extensamente explorada na ficção científica, como no Projeto Gênesis, da série Jornada nas Estrelas.
O professor Cláudio Gros, da Universidade de Frankfurt, na Alemanha, decidiu-se a estudar se já não teríamos a tecnologia necessária para, na vida real, dar um primeiro passo para começar a espalhar a vida pela galáxia.
Semear a vida
A ideia de Gros é fundamentalmente estabelecer os princípios para semear a vida em corpos celestes que apresentem condições adequadas para abrigá-la, mas não para desenvolvê-la autonomamente. Para isso, ele baseia sua análise na variedade de condições dos exoplanetas, que vêm sendo descobertos às centenas, com as mais diferentes condições climáticas.
"É certo que vamos descobrir um grande número de exoplanetas que são habitáveis de forma intermitente, mas não permanentemente. A vida seria de fato possível nesses planetas, mas não teria o tempo para crescer e se desenvolver de forma independente", justifica o pesquisador.
Assim, ele investigou se seria possível plantar a vida nesses planetas com habitabilidade transitória, condição esta que pode ser devida a modificações como mudanças na zona habitável por variações na estrela, instabilidades orbitais ou processos no próprio planeta, como tectônica de placas ou alterações atmosféricas.
Uma empresa privada está tentando conseguir fundos para uma primeira missão interestelar, de um tipo que poderia ser aproveitada para o projeto Gênesis idealizado por Gros. [Imagem: StarShot Initiative/Divulgação]
Teste da teoria de Darwin
De acordo com Gros, de um ponto de vista técnico, a missão Gênesis já poderia ser realizada dentro de algumas décadas, com o auxílio de micronaves espaciais interestelares não-tripuladas, que poderiam ser tanto aceleradas como desaceleradas de forma passiva.
Ao chegar ao destino, um laboratório genético automatizado a bordo da sonda sintetizaria uma variedade de organismos unicelulares com o objetivo de estabelecer uma ecosfera de microrganismos no planeta-alvo. A partir daí, eles poderiam se desenvolver de forma autônoma e, eventualmente, gerar formas de vida mais complexas.
"Desta forma, poderíamos saltar aproximadamente quatro bilhões de anos que teriam sido necessários na Terra para chegar à fase pré-cambriana de desenvolvimento, a partir da qual o mundo animal se desenvolveu, desde cerca de 500 milhões de anos atrás," explica Gros.
Seria o teste definitivo da teoria da evolução natural das espécies, ainda que vá levar muito tempo para ver os resultados - a partir de algumas dezenas de milhões de anos.
Agradecer ao Universo pela vida
Além do tempo envolvido, o projeto esbarra em algumas dificuldades fundamentais, como os acordos internacionais que tentam evitar a contaminação dos locais explorados no espaço com algum tipo de vida terrestre - um primórdio da Diretriz Primeira da Federação.
Recentemente, o robô Curiosity foi desviado de sua rota em Marte porque passaria por locais com uma possibilidade - ainda que remota - de ter água. E, apesar de todos os esforços de descontaminação, ninguém garante que nossos robôs e sondas espaciais saiam da Terra totalmente assépticos.
Quanto a uma falta de possíveis benefícios para as pessoas na Terra, que, em última instância, deverão pagar pela missão, Gros acredita que o Projeto Gênesis seria uma forma de agradecer ao Universo: "Ele permitiria que déssemos algo de volta à vida."
Ele também discute se a evolução independente criaria incompatibilidades biológicas que impediriam uma futura colonização do planeta terraformado: "No momento, no entanto, isso parece ser altamente improvável", concluiu.
FONTE: SITE INOVAÇÃO TECNOLOGICA
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