CRÂNIO MUMIFICADO PERTENCEU A MULHER QUE VIVEU HÁ APROXIMADAMENTE 2,5 MIL ANOS (FOTO: BRUNO TODESCHINI/DIVULGAÇÃO PUCRS)
Após incêndio no Museu Nacional, existem apenas duas peças do tipo no país
Por Giuliana Viggiano
Especialistas daPontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) confirmaram a identidade de um crânio de múmia que chegou ao Brasil na década de 1950 e está no acervo de um pequeno museu de Cerro Largo, cidade gaúcha com população estimada em 14 mil habitantes. Apesar de pouco conhecida, é uma das duas únicas múmias egípcias restantes no Brasil.
Iret-Neferet, como foi nomeada, tinha pouco mais de 40 anos quando morreu, e viveu em algum momento entre o período Intermediário III (1070-712) e o início do Período Tardio (Saíta-Persa: 712-332 a.C.) do Egito.
A análise, divulgada na última semana, foi feita pelo método de radiocarbono conhecido como Carbono 14, e afunilou o período de vida da mulher para entre 768-476 a.C. — ou seja, entre 2.495 e 2.787 anos atrás. Acredita-se que essa tenha sido a primeira múmia a ser estudada dessa forma no Brasil.
Embora tenha chegado ao Brasil nos anos 1950, o item raro só começou a ser estudado com atenção em 2017. Édison Hüttner, coordenador do Grupo de Estudo Identidade Afro-Egípcias da PUCRS, foi quem resolveu pesquisar o objeto após alguns anos vivendo na Europa. "Percebi a potencialidade do material", contou em entrevista à GALILEU.
CRÂNIO TERIA SIDO TRAZIDO PARA O BRASIL NA DÉCADA DE 1950 POR UM EGÍPCIO (FOTO: BRUNO TODESCHINI/DIVULGAÇÃO PUCRS)
Segundo o especialista, não se sabe exatamente a origem da múmia, mas histórias que vêm sendo contadas há décadas indicam que o crânio chegou ao Brasil por meio de um egípcio. A cabeça acabou sendo deixada de herança para um advogado brasileiro, que a doou para os organizadores do Museu 25 de Julho, da cidade de Cerro Largo (RS), a 499 quilômetros de Porto Alegre.
Por dentro
Hüttner e sua equipe também realizaram uma tomografia na múmia, o que lhes permitiu constatar que seu olho é composto de uma rocha carbonática de composição calcítica: "Comparamos [as imagens] com as de outras múmias e descobrimos que isso não é tão incomum, o que foi importante para nós", destaca.
ESSA FOI A PRIMEIRA MÚMIA A SER ESTUDADA COM AUXÍLIO DE RADIOCARBONO NO BRASIL (FOTO: BRUNO TODESCHINI/DIVULGAÇÃO PUCRS)
A cabeça também apresenta uma perfuração sobre o osso etmoide (na altura do nariz), que foi realizada para a remoção do cérebro, procedimento próprio da mumificação. "Mas geralmente o furo não é tão demarcado", relatou o especialista. Além disso, foram encontradas 90 faixas de linho envolvendo o crânio mumificado, além de seda e fios de cabelo.
Raridade
Hoje só se tem conhecimento de mais um exemplar de múmia egípcia no Brasil além de Iret-Neferet: Tothmea, que chegou dos Estados Unidos em 1995 e hoje está no Museu Egípcio Rosa Cruz de Curitiba (PR).
Outros objetos do tipo foram trazidos para o país pelos imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II, mas foram destruídos ou perdidos no incêndio que ocorreu no fim de 2018, no Museu Nacional (RJ).
FONTE: REVISTA GALILEU
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