Duas equipes separadas de cientistas identificaram grandes desafios para o desenvolvimento de vida no sistema TRAPPIST-1. Ilustrado nesta impressão de artista, contém sete planetas aproximadamente do tamanho da Terra em órbita de uma anã vermelha ultra fria. Esta estrela gira rapidamente e produz fluxos energéticos de radiação ultravioleta e um forte vento estelar. As equipas argumentam que o comportamento da anã vermelha torna muito menos provável que os três planetas situados na zona habitável do sistema possam suportar vida.
Crédito: NASA/JPL-Caltech/R. Hurt
Duas equipes separadas de cientistas identificaram grandes desafios para o desenvolvimento de vida no que recentemente se tornou num dos sistemas exoplanetários mais famosos, TRAPPIST-1.
As equipes, ambas lideradas por investigadores do Centro Harvard-Smithsonian para Astrofísica (CfA) em Cambridge, no estado norte-americano de Massachusetts, dizem que o comportamento da estrela no sistema TRAPPIST-1 torna muito menos provável que os planetas possam suportar vida.
A estrela TRAPPIST-1, uma anã vermelha, é muito mais tênue e menos massiva que o Sol. Gira rapidamente e gera explosões energéticas de radiação ultravioleta (UV).
A primeira equipe, um par de teóricos, teve em conta muitos factores que podem afetar as condições às superfícies dos planetas em órbita de anãs vermelhas. Para o sistema TRAPPIST-1, analisaram a forma como a temperatura pode ter tido um impacto na ecologia e na evolução, e se a radiação ultravioleta da estrela central pode corroer as atmosferas dos sete planetas em seu redor. Estes planetas estão muito mais perto da estrela do que a Terra está do Sol e três deles estão bem dentro da zona habitável.
"O conceito de uma zona habitável baseia-se em planetas situados em órbitas onde a água líquida pode existir," comenta Manasvi Lingam, investigador de Harvard que liderou o estudo. "No entanto, este é apenas um fator para determinar se um planeta é hospitaleiro para a vida."
Lingam e o seu coautor, o professor de Harvard Avi Loeb, descobriram que os planetas no sistema TRAPPIST-1 seriam bombardeados por radiação UV com uma intensidade muito maior do que a Terra aguenta.
"Por causa da investida de radiação da estrela, os nossos resultados sugerem que as atmosferas dos planetas no sistema TRAPPIST-1 podem estar, em grande parte, destruídas," comenta Loeb. "Isto prejudica as chances de formação ou persistência da vida."
Lingam e Loeb estimam que a probabilidade de existência de vida complexa em qualquer um dos três planetas na zona habitável de TRAPPIST-1 é inferior a 1% daquela para a vida existente na Terra.
Num estudo separado, uma diferente equipe de investigação do CfA e da Universidade de Massachusetts em Lowell descobriu que a estrela TRAPPIST-1 representa outra ameaça para a vida nos planetas em seu redor. Tal como o Sol, a anã vermelha TRAPPIST-1 liberta um fluxo de partículas para o espaço. No entanto, a pressão aplicada pelo vento da estrela TRAPPIST-1 sobre os planetas é 1000 a 100.000 vezes maior do que a pressão que o vento solar exerce na Terra.
Os autores argumentam que o campo magnético da estrela liga-se aos campos magnéticos dos planetas em órbita, permitindo um fluxo direto das partículas do vento estelar para as atmosferas dos planetas. Caso esse fluxo de partículas fosse forte o suficiente, retiraria a atmosfera ao planeta ou talvez a evaporasse totalmente.
"O campo magnético da Terra atua como um escudo contra os efeitos potencialmente prejudiciais do vento solar," comenta Cecilia Garraffo do CfA, que liderou o novo estudo. "Se a Terra estivesse muito mais perto do Sol e fosse submetida à investida de partículas como a estrela TRAPPIST-1 liberta, o nosso escudo planetário falharia rapidamente."
Embora estes dois estudos sugiram que a probabilidade de existência de vida seja mais baixa do que se pensava anteriormente, isso não significa que o sistema TRAPPIST-1 ou outros com anãs vermelhas sejam desprovidos de vida.
"Não estamos, definitivamente, a dizer para as pessoas desistirem de procurar vida em torno das estrelas anãs vermelhas," realça o coautor Jeremy Drake, também do CfA. "Mas o nosso trabalho e o trabalho dos nossos colegas mostram que também devemos debruçar-nos em tantas estrelas quanto possível que sejam mais como o Sol."
O artigo de Lingam e Loeb foi publicado na revista International Journal of Astrobiology e está disponível online. O artigo de Garraffo et al, também disponível online, foi publicado na The Astrophysical Journal Letters.
FONTE: http://www.ccvalg.pt
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