POR SALVADOR NOGUEIRA
A estrela mais próxima do Sistema Solar na constelação de Virgem, a apenas 11 anos-luz de distância, também tem um planeta de porte terrestre potencialmente habitável, ou seja, com chance de abrigar água líquida em sua superfície — e, portanto, vida.
O planeta é, nas palavras de seus descobridores, “a segunda exo-Terra mais próxima” já descoberta e entra direto na lista dos mundos mais intrigantes a serem estudados com atenção pelos astrônomos ao longo da próxima década.
Ele orbita a estrela Ross 128, também conhecida como Proxima Virginis, uma anã vermelha que, a despeito da proximidade, não pode ser observada no céu a olho nu. Isso porque anãs vermelhas são astros bem menores, mais frios e menos brilhantes que o Sol. É isso que faz com que a distância que um planeta tem de estar delas para ter uma temperatura compatível com água em estado líquido também seja bem menor do que a que a Terra guarda do Sol.
No caso em questão, o planeta Ross 128 b está 20 vezes mais próximo de sua estrela-mãe que a Terra está do Sol, e completa uma volta em torno dela a cada 9,9 dias, enquanto nós levamos 365,25 dias a cada translação. Contudo, como Ross 128 é bem mais fria e menos brilhante que nosso astro-rei, o planeta recebe apenas 38% mais radiação que a Terra. Nessas condições, ele pode ou não ter o ambiente adequado para água líquida. Só saberemos se esse é o caso estudando-o mais a fundo.
O novo mundo foi descoberto usando a técnica de velocidade radial, que envolve detectar o bamboleio gravitacional que a estrela faz conforme o planeta gira ao seu redor. Mais de uma década de observações feitas com o espectrógrafo Harps, instalado no telescópio do ESO (Observatório Europeu do Sul) em La Silla, no Chile, permitiram a detecção, assim como uma estimativa da massa mínima do planeta — apenas 35% maior que a da Terra.
Dentre os mundos conhecidos fora do Sistema Solar que são potencialmente habitáveis, Ross 128 b só perde em proximidade para Proxima Centauri b (11 anos-luz contra 4,2 anos-luz), mas em compensação oferece uma vantagem. Enquanto Proxima b orbita uma estrela anã vermelha bastante ativa, que emite grandes quantidades de raios X e produz grandes explosões estelares (más notícias para a vida e a manutenção de condições habitáveis por longos períodos de tempo), Ross 128 b se vê às voltas com uma estrela “quieta”, com baixo nível de atividade. “Em um contexto de habitabilidade, isso torna a sobrevivência de sua atmosfera contra erosão mais provável”, destacam Xavier Bonfils, da Universidade de Grenoble, na França, e seus colegas, no artigo publicado na “Astronomy & Astrophysics” e divulgado nesta quarta-feira (15) pelo ESO.
SEM TRÂNSITO
Como com todos os planetas descobertos pela técnica de velocidade radial, os cientistas têm grande ansiedade de saber se eles também estão alinhados de forma que transitem periodicamente à frente de sua estrela com relação a observadores no Sistema Solar. Isso por três razões: primeiro, a observação dos trânsitos confirma a existência do planeta por um método independente; segundo, os trânsitos oferecem uma estimativa do tamanho do planeta, que complementa a informação da massa, permitindo especular sobre sua densidade e composição; terceiro, os trânsitos em princípio oferecem uma oportunidade para estudar a composição da atmosfera do planeta, por uma técnica chamada “espectroscopia de transmissão”, em que a luz da estrela que passa de raspão pelo invólucro gasoso do planeta antes de chegar até nós carrega a “assinatura” das moléculas que encontrou pelo caminho.
Ross 128 foi observada pelo satélite Kepler durante sua missão estendida, K2, mas infelizmente o planeta Ross 128 b não está favoravelmente alinhado para trânsitos.
Isso significa que ele não é um alvo particularmente bom para estudos com o Telescópio Espacial James Webb, que a Nasa pretende lançar em 2019.
Contudo, a sutil luminosidade de Ross 128 b poderá ser detectada diretamente, sem depender de trânsitos, pelo E-ELT, o telescópio de próxima geração do ESO, que terá uma abertura de 39 metros. Espera-se que ele esteja operacional em 2024. Ou seja, com certeza este planeta ainda dará o que falar.
E é nesse compasso que andam os astrônomos atualmente. Aos pouquinhos, eles vão aumentando sua coleção de mundos potencialmente habitáveis ao alcance dos telescópios que estarão por aí na próxima década: Proxima b, os planetas de Trappist-1, o mundo detectado em LHS 1140, e agora Ross 128 b. Seja lá o que encontrarmos neles, isso vai nos ajudar a entender muito melhor o contexto do nosso próprio planeta no cosmos. A Terra é um oásis em meio a um imenso deserto? Ou orbes habitáveis são o feijão com arroz do Universo? E quão frequente é a presença de vida?
Depois de séculos vivendo só de palpites, finalmente estamos perto de saber.
FONTE: http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br
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