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Na corrida para voltar a Lua, astrônomos querem leis para assegurar espaço para pesquisa


A cratera Dédalo vista a partir do espaço. A cratera com altos bordos, no lado oposto da Lua, é capaz de oferecer proteção extra contra as conversas de rádio da Terra, que podem contaminar observações científicas delicadas. Um dia, a cratera pode talvez se tornar um sítio lunar protegido. Crédito: NASA

Preocupação é que colonização privada do satélite inviabilize criação de observatórios espaciais no lado distante

A corrida disputada por países e empresas privadas para ver quem retorna primeiro à Lua só faz crescer a importância de proteger o lado distante do satélite – o hemisfério que sempre fica longe de nós. Há décadas os cientistas sustentam que a combinação simultânea de acessibilidade e isolamento do lado distante faz dele um lugar vital para diversas atividades de ciência espacial. No entanto, o ritmo acelerado da exploração lunar, pública e privada, poderá em breve se sobrepor a essa expectativa.

Pelo menos, é isso que teme Claudio Maccone, cientista espacial do Instituto Nacional de Astrofísica da Itália. Ele também é membro da Academia Internacional de Astronáutica (IAA), que transmitiu suas preocupações – e possíveis soluções – em uma reunião realizada por teleconferência em 25 de março.

A estratégia que Maccone defende para preservar o lado distante seria o chamado círculo antípoda protegido, ou PAC: preservar um pedaço circular de terreno, medindo aproximadamente 1.820 quilômetros de diâmetro situado naquele hemisfério. Perto do centro do local proposto para o PAC fica a Cratera Daedalus. Com 80 quilômetros de largura, ela possui uma borda alta o suficiente para agir como um escudo, capaz de proteger qualquer observatório astronômico situado dentro dela contra interferência eletromagnética. “Queremos proteger o lado oposto da Lua, que seria ideal para a instalação de um futuro radiotelescópio ou conjunto de telescópios de qualquer poluição na forma de ondas de rádio produzidas pelo homem”, diz Maccone.

UMA FRONTEIRA SEM REGRAS?

Mas não é fácil viabilizar o PAC, ou outra proposta de proteção do lado distante da Lua, no contexto da atual corrida ao satélite. EUA, China, Rússia e outros países capazes de empreender voos espaciais traçam seus próprios planos, diz Maccone. “Minha intenção é iniciar negociações” para uma espécie de estratégia de proteção imobiliária, a fim de manter uma fatia selecionada do lado distante livre dos ruídos de rádio “enquanto ainda estamos a tempo de fazê-lo”.

A estrutura política das salvaguardas lunares foi estabelecida em 1967 com a assinatura do Tratado do Espaço Exterior das Nações Unidas, que proíbe, entre outras coisas, que qualquer país vinculado ao monopolize a Lua, no todo ou em parte, para fins econômicos em benefício próprio. “Mas em 1967 era difícil prever uma época em que investidores privados pudessem chegar à Lua por seus próprios meios”, diz Maccone. “Portanto, ninguém sabe o que acontecerá quando alguns investidores privados pousarem lá.”

Alguns já tentaram. Foi o caso da tentativa fracassada de pouso, no ano passado, da sonda lunar israelense Beresheet, um projeto público-privado que fez com que os microorganismos resistentes que ela transportava, chamados tardigrados, colidissem com a superfície do satélite, o que levantou questões de leis internacionais sobre o espaço. Maccone argumenta que, em breve, podem existir empresas lunares comerciais que desrespeitarão as restrições baseadas em tratados, adotando a alegação de que “temos dinheiro e valos gerar a poluição que quisermos”.

“Não é isso que os investidores privados dizem, mas essa é a minha interpretação do que eles querem”, diz Maccone. “E é uma frase triste, na minha opinião.” Então, pode-se acreditar que as empresas privadas se afastariam voluntariamente de uma área PAC na Lua? “Quase certamente não”, diz ele. Portanto, é imperativo chegar a algum tipo de acordo internacional o mais rápido possível.

“O Comitê das Nações Unidas para os usos pacíficos do espaço sideral deve aprovar o PAC”, afirma Maccone, observando que ele reportou essa ideia ao comitê há quase uma década. “Essas são questões legalmente incertas”, portanto as negociações são urgentes entre cientistas, advogados do espaço e grupos comerciais do espaço, acrescenta ele.

Em um discurso para os participantes da reunião da IAA em março, Jan Wörner, chefe da Agência Espacial Européia, disse que os setores público e privado devem apoiar regulamentos que protejam a Lua para uso compartilhado. Especificamente, ele diz, deve-se tomar cuidado na instalação de relés de comunicação com o lado distante, que atualmente não podem ser diretamente contatados da Terra.

“Do meu ponto de vista”, aconselhou Wörner, “é preciso coordenação … precisamos de alguma regulamentação”, e essa regulamentação deve ser definida o mais rápido possível. O que deve ser evitado, ele disse, é um sistema que seja livre para todos, em que cada entidade cria seu próprio esquema de comunicação individual com o lado distante, formando assim um emaranhado de sistemas que podem tornar as observações científicas úteis ainda mais difíceis de serem alcançadas lá.

GRANDES PLANOS PARA UMA LUA AZUL

Outro participante influente na reunião da IAA foi Steve Squyres, cientista-chefe da empresa aeroespacial Blue Origin, com sede em Kent, Washington, que é apoiada por bilhões de dólares de Jeff Bezos, da Amazon. As ambições da Blue Origin incluem o desenvolvimento de um novo foguete para cargas pesadas, chamado New Glenn, capaz de enviar o Blue Moon, o módulo de aterrissagem da empresa que está em desenvolvimento, para o nosso satélite natural.

Já na primeira vez em que o módulo Blue Moon conseguir levantar voo, diz Squyres, ele será capaz de transportar duas toneladas métricas de carga à superfície lunar – e já estão sendo planejadas outras melhorias na capacidade de carga. “Esperamos que isso seja um divisor de águas fundamental para a exploração lunar. Estou incentivando todos os meus colegas da comunidade científica a começarem a pensar grande “, acrescentou.

Squyres diz que a nave poderia pousar em quase qualquer lugar na Lua, incluindo aí qualquer ponto situado no lado distante. “Este é um veículo capaz de prestar um grande apoio à exploração lunar distante no futuro”, disse ele. Os cientistas lunares já planejam possíveis equipamentos a serem transportados pelo Blue Moon, acrescentou Squyres, como o telescópio FARSIDE. Proposto por Jack Burns, da Universidade do Colorado Boulder e Gregg Hallinan, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, esse projeto, financiado pela Nasa, consistiria de um conjunto de antenas de rádio de baixa frequência, transportadas por rover, destinado a estudar os primórdios do Universo e os mundos que orbitam outras estrelas . Além disso, o FARSIDE pode ser usado para observar uma grande variedade de objetos e fenômenos dentro e ao redor do nosso próprio Sistema Solar.

PARA TODOS OS HUMANOS

“Meu objetivo como cientista chefe da Blue Origin é tornar esta a empresa aeroespacial mais comprometida com a ciência em todo o mundo”, disse Squyres aos participantes da reunião da IAA. “Quanto ao lado lunar distante, estamos comprometidos a preservar um ambiente silencioso por rádio enquanto transportarmos cargas úteis para lá. Também estamos felizes em participar de discussões internacionais sobre como proteger a radioastronomia na superfície lunar. ”

Enquanto isso, Maccone está determinado a estimular todos os futuros planejadores a priorizar a preservação dos preciosos recursos espaciais que ainda não foram poluídos pela humanidade. Trabalhando neste problema para o IAA desde os anos 90, ele sente que apenas a ONU pode ter autoridade suficiente para proteger o lado distante, e manter seu ambiente único sem ruídos de rádio seguro. “Mas tempo é dinheiro”, e os colonizadores da Lua “podem muito bem chegar ao satélite antes que as Nações Unidas cheguem a um acordo sobre qualquer decisão oficial relativa à proteção do lado oposto”, conclui.

Leonard Davis

FONTE: Scientific American Brasil

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