Por George Dvorsky
Se no início você não conseguir, tente de novo e de novo. Essa é a filosofia de José Maria Madiedo, astrônomo da Universidade de Huelva, na Espanha, que há mais de dez anos tenta capturar o impacto de meteoritos na Lua durante um eclipse lunar. Na madrugada de segunda-feira (21), durante a chamada “Super Lua de Sangue“, ele finalmente conseguiu.
O tão esperado eclipse de segunda-feira da Super Lua de Sangue, embora mal batizado, não decepcionou. Milhões de pessoas olharam para o céu noturno ou para transmissões de vídeo para ver uma tonalidade vermelho-acobreada deslumbrante envolver o satélite natural do nosso planeta. Enquanto o eclipse de 21 de janeiro se desenrolava, no entanto, alguns observadores notaram um pequeno flash enquanto assistiam às transmissões online, informou a New Scientist. Alguns suspeitaram que o clarão havia sido causado por um impacto de meteorito — e acontece que eles estavam certos.
Imagem aproximada do clarão de impacto. Imagem: Jose M. Madiedo/MIDAS
José Madiedo confirmou essas suspeitas, tuitando que um impacto lunar ocorreu às 2:41 da manhã do horário de Brasília. Uma fotografia divulgada por Madiedo mostrou claramente um ponto branco amarelado aparecendo no quadrante superior esquerdo escurecido da Lua durante a fase de totalidade do eclipse. Astrônomos já filmaram flashes de impacto na Lua antes, mas essa é a primeira vez que um impacto lunar foi capturado durante um eclipse lunar — uma conquista buscada durante mais de 20 anos.
Os astrônomos começaram a monitorar sistematicamente flashes de impacto pela primeira vez em 1997, um esforço que evoluiu para o Moon Impacts Detection and Analysis System (Sistema de Detecção e Análise de Impactos Lunares), ou MIDAS, uma pesquisa conduzida pela Universidade de Huelva e pelo Instituto de Astrofísica da Andaluzia, ambos na Espanha. Madiedo aderiu ao projeto em 2008. Usando dados astronômicos de múltiplos observatórios, o MIDAS usa softwares para identificar o momento em que um meteorito atinge as partes escurecidas da superfície lunar.
“Nós monitoramos a região noturna da Lua para identificar flashes de impacto. Dessa forma, esses clarões são bem contrastados contra o fundo mais escuro”, explicou Madiedo ao Gizmodo. “Então, nós geralmente monitoramos a Lua cerca de cinco dias após a Lua Nova e cerca de cinco dias antes. Também monitoramos durante os eclipses lunares, já que durante esses eventos o solo lunar está escuro.”
Os telescópios utilizados pelo MIDAS estão equipados com câmeras de alta sensibilidade e gravam vídeo continuamente durante a sessão de observação. Esses vídeos são depois analisados por software, que identifica automaticamente os flashes de impacto lunar e calcula a sua posição na Lua. Madiedo disse que o sistema consegue detectar o momento de um clarão de impacto com uma precisão de cerca de 0,001 segundo. Desde 2015, a equipe tem aplicado filtros fotométricos a alguns dos seus telescópios, o que lhes permite determinar a temperatura desses flashes.
Como apontado, o MIDAS nunca havia capturado um impacto de meteorito durante um eclipse lunar total, e não foi por falta de tentativa. Madiedo disse que não sabe o número exato de eclipses que o MIDAS monitorou até hoje, mas afirmou que, conforme o tempo permitia, todo eclipse lunar tem sido monitorado desde o início da pesquisa. Outros grupos também tentaram detectar flashes lunares durante um eclipse, contou Madiedo, mas nenhum conseguiu — até agora.
“Quando o software de detecção automática me notificou de um flash brilhante, eu pulei da cadeira.”
Normalmente, a equipe de Madiedo usa quatro telescópios para monitorar a Lua, mas, dessa vez, eles decidiram usar oito. Foi necessário um trabalho considerável para configurar e testar os novos instrumentos.
“No total, passei quase dois dias sem dormir, incluindo o tempo de monitoramento durante o eclipse”, disse Madiedo ao Gizmodo. “Mas fiz um esforço extra para preparar os novos telescópios, porque tinha a sensação de que esta vez seria ‘a vez’ e não queria perder um flash de impacto. Um instrumento teve um problema técnico e falhou. Eu estava exausto quando o eclipse terminou, mas, quando o software de detecção automática me notificou de um flash brilhante, eu pulei da cadeira. Foi um momento muito emocionante, porque eu sabia que tal coisa nunca tinha sido gravada antes.”
Madiedo disse que as chances de um flash de impacto dessa magnitude estão em torno de uma vez a cada sete ou dez dias. Sua equipe ainda não analisou todos os dados, mas uma suposição preliminar é que o objeto, provavelmente um pequeno asteroide, tinha uma massa em torno de dez quilos.
Ao estudar esses flashes, os cientistas podem obter melhores estatísticas sobre a frequência dos impactos lunares e, consequentemente, a frequência com que a atmosfera da Terra é atingida por objetos de tamanho parecido.
Relacionado a isso, um estudo recente sugeriu que a taxa de impactos de grandes asteroides na Terra aumentou há cerca de 290 milhões de anos. Essa conclusão foi alcançada estudando o histórico das crateras de impacto na superfície lunar. Nossa Lua pode não parecer em nada com a Terra, porém, quando se trata de impactos celestes, temos uma história em comum.
[New Scientist]
FONTE: GIZMODO BRASIL
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