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Homem pode ter chegado à América muito antes do que se pensava


Paleontólogo Don Swanson apontando para um fragmento de rocha que, segundo o cientista, teria sido utilizado por humanos para quebrar ossos de mastodonte (San Diego Natural History Museum/Divulgação)

Estudo afirma que foram encontrados sinais de ocupação humana nos EUA há 130 mil anos. Teoria mais aceita diz que homens chegaram à América há 15 mil anos

Um estudo publicado nesta quarta-feira na revista científica Nature pretende modificar o que se sabe sobre a chegada humana às Américas, com evidências de que teríamos habitado a região pelo menos 100.000 anos antes do que se acreditava. Segundo a teoria mais aceita, grupos humanos chegaram à América há, aproximadamente, 15.000 anos, pelo Estreito de Bering – ponte de gelo que que ligava Ásia e Alasca. “Se a hipótese for confirmada, muda tudo o que sabemos”, disse o arqueólogo John McNabb, da Universidade de Southampton, na Grã-Bretanha, ao site da Nature.

O novo estudo tem sido bastante criticado pela comunidade científica por não analisar esqueletos humanos, mas fósseis de um mastodonte – primo do mamute – encontrados em San Diego, nos Estados Unidos. Segundo a pesquisa, os ossos desses animais teriam sido amassados por grandes pedras utilizadas como martelos e bigornas por homens.

“Até que se encontre um esqueleto humano nesse sitio arqueológico, ou em outro na América de data semelhante, essa teoria é pura especulação”, afirmou McNabb, que não participou do estudo.

Chegada humana às Américas

A descoberta dos fósseis de mastodonte foi feita em 1992, durante a construção de uma estrada em San Diego, na Califórnia. O arqueólogo Richard Cerutti, do Museu de História Natural de San Diego, responsável por monitorar o canteiro de obras, acreditou, inicialmente, que se tratavam de vestígios de um mamute, mas, com a ajuda de Thomas Deméré, também do Museu de História Natural de San Diego, o pesquisador percebeu que os ossos pertenciam a um mastodonte. Como os fósseis não continham colágeno o suficiente, não foi possível datá-los por meio de análises de carbono e, à época, não havia tecnologia suficiente para a análise. Apenas em 2011, com os avanços tecnológicos, os cientistas concluíram, por meio de análises do decaimento radioativo do Urânio e Tório, a idade aproximada do esqueleto: 130.000 anos.

Fósseis de mastodonte encontrados em San Diego (San Diego Natural History Museum/Divulgação)
No entanto, eles suspeitavam de que o sítio arqueológico não se tratava apenas de um registro paleontológico de um animal já extinto, mas de um registro arqueológico de atividade humana. “Identificamos aspectos estranhos nos ossos. Eles estavam destroçados, com suas extremidades afiadas. Também encontramos pedras quebradas, com o mesmo aspecto. Além disso, achamos cinco grandes pedras junto ao mastodonte que não são encontradas naturalmente na camada do solo em que estavam enterradas”, disse Deméré em comunicado. Os arqueólogos deduziram que as pedras haviam sito utilizadas por humanos para quebrar o animal, já que os padrões de quebra nos ossos não seriam derivados de processos naturais de decomposição ou geológicos.

Para testar a teoria, os pesquisadores fizeram testes quebrando ossos de elefantes, biologicamente parecidos aos mastodontes, com pedras utilizadas como martelos. Os fragmentos resultantes eram muito similares aos dos fósseis encontrados em San Diego.

O estudo coloca um desafio aos estudos mais aceitos, que afirmam que grupos humanos atravessaram o Estreito de Bering há cerca de 20.000 anos e, caminhando ou usando canoas, chegaram à América há 15.000 anos. Entretanto, os cientistas ainda não têm evidências de qual espécie de hominídeo seria responsável pelos vestígios, podendo ser tanto o Homo erectus, como dos neandertais e até do Hominídeo de Denisova – todos anteriores ao homem moderno Homo sapiens. Os pesquisadores pretendem, no futuro, buscar demais vestígios que possam dar outras pistas sobre a colonização do continente americano.

Veja os comentários sobre a descoberta de John McNabb e Thomas Deméré (em inglês):



FONTE: REVISTA VEJA

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