A geração do metano em Marte pode ter múltiplas fontes e ser um processo complexo - mas sempre traz a esperança de se originar de fontes biológicas. [Imagem: NASA/JPL-Caltech/SAM-GSFC/Univ. Michigan]
Molécula orgânica no ar
A equipe do robô Curiosity, que explora Marte há mais de dois anos sem encontrar grandes novidades, surpreendeu a todos ontem ao anunciar duas descobertas importantes, com potencial para reacender o interesse pela busca de sinais de vida no planeta.
A primeira delas foi a detecção de picos de emissão de metano (CH4), aparentemente exalado do solo da cratera Gale.
Em 2009, a NASA anunciou a descoberta de metano em Marte em concentrações que iam de 20 a 35 partes por bilhão (ppb). Contudo, em 2012, quando o Curiosity chegou lá, ele não detectou nenhum metano.
A explicação para essa incoerência nos dados pode ter sido descoberta agora, com emissões periódicas vindas das profundezas do planeta.
Depois de não detectar praticamente nada de metano na atmosfera marciana durante oito meses, o instrumento SAM (Sample Analysis at Mars), a bordo do Curiosity, fez uma medição inédita de 5 ppb. Durante os dois meses seguintes, os níveis de metano oscilaram, indo a até 9 ppb - foram quatro picos, com valor médio de 7 ppb, em seguida retornando a valores em torno de 0,7 ppb.
O metano é um composto orgânico - moléculas orgânicas são aquelas que possuem carbono, e geralmente hidrogênio e oxigênio, em sua composição - e pode ser gerado por fenômenos biológicos, ligados à vida, ou por fenômenos geológicos. Em ambos os casos, os fenômenos podem ser atuais ou antigos, com o metano tendo ficado aprisionado nas rochas.
Os dados do Curiosity não permitem saber a origem do metano, mas sua identificação em Marte pode apontar o rumo para pesquisas futuras, sobretudo se for confirmada uma fonte localizada do gás.
A sonda indiana Mangalyaan - ou MOM (Mars Orbiter Mission) - está em órbita de Marte dedicando-se sobretudo à busca por metano, mas ainda não foram divulgados dados científicos da missão.
Comparação da amostra de solo estudada agora, chamada Cumberland, e outras amostras coletadas pelo Curiosity. [Imagem: NASA/JPL-Caltech]
Moléculas orgânicas no solo
O robô Curiosity também detectou sinais de compostos químicos orgânicos em amostras de um solo de argila perfurado em 30 de Maio de 2013.
A demora na divulgação dos dados deu-se para evitar a decepção anterior, quando se descobriu que as moléculas orgânicas "descobertas" eram na verdade contaminação terrestre a bordo do robô Curiosity.
Caprichando em suas análises, os cientistas da missão dizem agora que os compostos foram identificados em concentrações muito superiores às que podem ter sido levadas da Terra ou serem geradas pelo funcionamento dos próprios instrumentos.
Os cientistas acreditam que a cratera Gale, onde o robô Curiosity pousou e onde a amostra foi coletada, foi um lago há bilhões de anos, e o terreno seco do local atual são sedimentos depositados por esse lago. O terreno possui até 20% de argilas do tipo esmectita. Na Terra, esse tipo de argila costuma se apresentar como camada de separação entre camadas de compostos orgânicos depositados rapidamente no solo.
As moléculas orgânicas encontradas também têm átomos de cloro, e incluem clorobenzeno e vários dicloroalcanos, como dicloroetano, dicloropropano e diclorobutano.
O clorobenzeno é o mais abundante, com concentrações entre 150 e 300 ppb (partes por bilhão). O clorobenzeno não ocorre naturalmente na Terra, sendo sintetizado para uso na fabricação de agrotóxicos (inseticidas DDT), herbicidas, adesivos, tintas e borracha. O dicloropropano é usado como solvente industrial para fabricar decapantes, vernizes e removedores de tinta, e é classificado como uma substância cancerígena.
Mas os cientistas admitem que vários desses compostos podem se formar durante o processo de aquecimento das amostras, feito no interior do Curiosity, para que os espectrômetros analisem sua composição. Eles teriam então reagido com as moléculas de carbono originalmente presentes na amostra de argila.
FONTE: SITE INOVAÇÃO TECNOLOGICA
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