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Ecstasy poderia ser adaptado para tratamentos de doenças mentais


Em camundongos, cientistas demonstram que é possível separar os efeitos positivos da droga na sociabilidade dos efeitos negativos e possivelmente viciantes - Shutterstock

A metilenodioximetanfetamina (MDMA), também conhecida popularmente como ecstasy, já teve a fama de ser apenas uma droga ilícita popular em raves e festas. Mas essa visão vem mudando nos últimos anos. A substância — conhecida por sua capacidade de produzir sentimentos de euforia e afeição por terceiros — ganhou uma nova identidade como uma ferramenta terapêutica promissora. Atualmente, pesquisadores estão estudando, em ensaios clínicos em estágio avançado, a possibilidade de utilizar a terapia assistida por MDMA como um tratamento para o transtorno de estresse pós-traumático. A capacidade do medicamento de melhorar a sociabilidade também levou a estudos que investigam seus benefícios para outras condições, como a ansiedade social em indivíduos com transtorno do espectro autista.

Apesar da promessa de benefícios terapêuticos, alguns cientistas ainda temem que a droga possa levar a abusos, porque seus efeitos agradáveis podem torná-la viciante. “De maneira alguma o MDMA tem o mesmo potencial viciante da metanfetamina ou de certos opióides”, diz Robert Malenka, professor de psiquiatria e ciências comportamentais da Universidade de Stanford. “Mas ele ainda assim tem potencial para abuso”.

Um novo estudo de Malenka e de sua equipe sugere que talvez seja possível contornar esse risco. As descobertas, publicadas na revista Science Translational Medicine, revelam que a capacidade do MDMA de melhorar a sociabilidade e suas propriedades viciantes são controladas por vias diferentes no cérebro — pelo menos em camundongos. Essa informação abre a possibilidade de desenvolver uma versão mais segura da droga.

Pesquisas anteriores revelaram que o MDMA estimula a liberação de serotonina e de dopamina no cérebro. As evidências existentes até então sugeriam que os efeitos da droga na sociabilidade estavam ligados à serotonina, enquanto seu potencial viciante estava ligado à dopamina, mas não se sabia o quão distintas eram essas vias. “Conseguir separar os efeitos de sociabilidade dos efeitos viciantes tem enormes implicações no desenvolvimento de medicamentos”, diz Boris Heifets, anestesista de Stanford e principal autor do novo estudo. Uma pergunta importante é: “Podemos criar algo com o mesmo efeito na sociabilidade, mas que talvez não seja tão propenso ao vício?”

Para achar uma resposta, os pesquisadores realizaram uma extensa série de experimentos. Um deles incluía a injeção de MDMA em camundongos — a substância sozinha e também com uma combinação de drogas que bloqueiam a captação de serotonina ou dopamina. A equipe examinou a influência do MDMA na sociabilidade, colocando camundongos sozinhos em um recinto com duas câmaras interconectadas de cada lado — uma com outro animal e a outra contendo um objeto inanimado. Em seguida, eles registraram quanto tempo os roedores passaram em cada ala. Para avaliar os efeitos recompensadores da droga, os pesquisadores observaram se os camundongos passavam mais tempo no compartimento em que recebiam MDMA em comparação com o que não recebiam.

Por meio desses testes, a equipe demonstrou que os efeitos do MDMA na sociabilidade dependem da presença da serotonina no chamado núcleo accumbens, uma parte essencial do sistema de recompensa do cérebro. As propriedades viciantes da droga, por outro lado, estão ligadas à liberação de dopamina na mesma região do cérebro — um processo que também está associado às propriedades aditivas de outras drogas, como a cocaína. Os pesquisadores também revelaram que o bloqueio de um receptor específico de serotonina usando outro medicamento eliminou os efeitos do MDMA na sociabilidade, preservando suas propriedades de recompensa. Além disso, eles descobriram que a fenfluramina, um medicamento de dieta que libera serotonina (mas não dopamina), poderia imitar os efeitos de sociabilidade do MDMA.

Essas descobertas refletem outras relatadas anteriormente em seres humanos, diz Matthias Liechti, professor de farmacologia clínica no Hospital Universitário de Basileia, na Suíça, que não participou do novo artigo. “O estudo usa muitos modelos de camundongos e abordagens genéticas para confirmar de maneira sólida o mecanismo de ação do MDMA”, diz ele. Liechti alerta, no entanto, que “apenas um estudo terapêutico em humanos pode definir os benefícios e riscos do uso de MDMA em pacientes clínicos”.

Ao traçar as diferenças em como o MDMA causa seus efeitos positivos e possivelmente terapêuticos e o que gera seu potencial viciante, o novo artigo “fornece um caminho a ser seguido para o desenvolvimento de uma versão melhor do MDMA”, diz Malenka. Ele acrescenta que a identificação do receptor através do qual a droga provavelmente regula suas propriedades de sociabilidade tem “implicações diretas em testes de um tipo diferente de medicamento que possa ter alguns dos efeitos sociais benéficos do MDMA sem seus efeitos tóxicos”.

A fenfluramina, droga alternativa testada no novo estudo, foi um dos principais ingredientes de uma popular pílula de dieta, chamada fen-phen. O Fen-phen foi retirado das prateleiras em 1997, depois que um grande número de pessoas teve efeitos colaterais prejudiciais, como danos às válvulas cardíacas, o que torna o medicamento um candidato improvável para substituir o MDMA. Mas uma empresa co-fundada por Malenka, a MapLight Therapeutics, está atualmente testando outro candidato, com base nas pesquisas de seu laboratório. Esses dados incluem as descobertas mais recentes do grupo sobre os efeitos específicos da serotonina do MDMA, bem como outro estudo recente que demonstrou que a ativação do receptor de serotonina 1B poderia melhorar os déficits sociais em um modelo de autismo em camundongos. Segundo Malenka, a empresa espera lançar um ensaio clínico em estágio inicial do medicamento para indivíduos com transtorno do espectro do autismo logo no próximo verão.

Alguns cientistas são céticos quanto ao potencial deste estudo, no entanto. Kim Kuypers, professora associada de psicologia e neurociência da Universidade de Maastricht, na Holanda, que não participou do estudo, destaca várias limitações. Os pesquisadores injetaram o MDMA nos camundongos, mas em pacientes humanos o medicamento é administrado por via oral. A distinção é importante, explica ela, porque a maneira como o medicamento é consumido está ligada ao seu potencial de dependência. Kuypers também enfatiza que “não é o MDMA em si que irá ‘curar’ [pacientes]. É o pacote completo que inclui as substâncias e psicoterapia, algo que você não pode estudar em animais. ”

Há também a questão de saber se é necessário encontrar uma alternativa ao MDMA. Kuypers diz que, embora a busca por um substituto já tenha sido uma prioridade, ela não é mais necessária. O MDMA, ela diz, é um medicamento relativamente seguro, com potencial de vício relativamente baixo, e atualmente está em um estudo de fase III que está próximo da aprovação da agência reguladora americana Food and Drug Administration. Uma nova substância precisaria começar do zero para se provar segura e eficaz, o que poderia levar vários anos

Heifets e Malenka dizem que, mesmo que o potencial de dano seja relativamente baixo, eles ainda veem valor em encontrar uma alternativa mais segura. Ainda assim, eles reconhecem as limitações da pesquisa em animais, especialmente quando se trata de desenvolver novas terapias para humanos. “O desenvolvimento de medicamentos é um processo muito complicado”, diz Malenka. “Eu adoraria que este fosse um exemplo em que se é capaz de ir com sucesso de camundongos a seres humanos. Mas ainda vamos ver.”

Diana Kwon

FONTE: Scientific American Brasil

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