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Cientistas reconstroem um DNA humano encontrado em ‘chiclete’ de 5.700 anos


Reconstrução artística de "Lola". Ilustração: Tom Björklund

Por George Dvorsky

Cientistas na Dinamarca conseguiram obter todo um genoma humano a partir de um pedaço pré-histórico de “chiclete”. Feito de alcatrão de bétula, o chiclete de 5.700 anos também continha evidências de dietas e doenças e está fornecendo um retrato da vida durante o início Neolítico.

Lola era uma mulher neolítica que morava na Dinamarca cerca de 5.700 anos atrás, quando a região estava passando lentamente da caça para a agricultura. Ela tinha olhos azuis, cabelos escuros e pele escura. A mulher tinha uma relação próxima com caçadores-coletores e agricultores vindos da Europa continental. A dieta de Lola incluía pato e avelã, e ela pode ter sofrido de doença gengival e mononucleose.

Seus restos mortais são completamente desconhecidos para os arqueólogos e, como esse período remonta à pré-história, não existem registros escritos sobre sua vida e a comunidade em que ela morava. Incrivelmente, esses ricos detalhes foram recolhidos de um único piche de bétula — uma espécie de chiclete antigo produzido pelo aquecimento da casca de bétula.


O piche de bétula examinado no estudo. Imagem: Theis Jensen

O pedaço de bétula, encontrado no sítio arqueológico de Syltholm, no sul da Dinamarca, foi tão bem preservado que foi possível extrair um genoma humano inteiro. Anteriormente, os arqueólogos mostraram que é possível extrair pedaços de informações genéticas do piche de bétula, mas esta é a primeira vez que os cientistas conseguem extrair todo um genoma humano.

Além disso, o grupo liderado por Hannes Schroeder, da Universidade de Copenhague, também conseguiu extrair DNA não humano dessa sobra viscosa. Assim, foi possível obter evidências da dieta de Lola e dos micro-organismos que habitavam sua boca no momento em que ela mastigava o piche de bétula. Detalhes deste estudo foram publicados hoje na Nature Communications.

O piche de bétula tem sido usado por seres humanos desde o Pleistoceno Médio. A substância pegajosa marrom-escura foi usada principalmente como cola, mas provavelmente também serviu a outros propósitos.

Os primeiros seres humanos provavelmente mastigavam a substância para restaurar sua maleabilidade antes de hastear ferramentas de pedra, mas eles também podem ter feito isso apenas por prazer. O piche poderia ter sido usado para fins medicinais, como aliviar dores de dente ou outras doenças, como uma espécie de escova de dentes ou para suprimir a fome.


Reconstrução de “Lola”, mostrando o pato e as avelãs que constituíam sua dieta. Ilustração: Tom Björklund

O piche de bétula foi encontrado selado na lama, o que contribuiu para sua preservação notável. Theis Jensen, coautor do estudo e pós-doutorando na Universidade de Copenhague, disse que as qualidades hidrofóbicas do campo também contribuíram para a preservação.

“O DNA do ambiente dificilmente penetraria no substrato”, explicou Jensen em um e-mail ao Gizmodo. “Em geral, [amostras de bétula] preservam muito bem, mesmo em áreas com solos muito ácidos.”

Jensen ficou surpreso com a qualidade do DNA retirado do campo, mas ficou igualmente impressionado com a história que ele trazia consigo. Lola, cuja idade não pôde ser determinada, tinha olhos azuis, cabelos escuros e pele escura. De maneira fascinante, sua linhagem foi atribuída à Europa continental e não à Escandinávia central.

“Os traços de Lola eram comuns entre os indivíduos caçadores-coletores ocidentais, que viviam na Europa central naquela época e além”, disse Jensen.

Como observaram os autores no estudo, a pele escura já foi documentada em outros caçadores-coletores europeus, “sugerindo que essa [característica] foi disseminada na Europa mesolítica e que a disseminação adaptativa da pigmentação da pele clara nas populações europeias só ocorreu em um período posterior ainda na pré-história”.

Lola também era intolerante à lactose, uma observação “que se encaixa na noção de que a persistência da lactase em adultos só evoluiu bastante recentemente na Europa, após a introdução da pecuária leiteira com a revolução neolítica”, escreveram os autores do estudo.

“O que chama a atenção é que Lola era basicamente uma caçadora-coletora que viveu no Neolítico.”
Além do genoma humano, os pesquisadores conseguiram discernir o DNA pertencente a plantas e animais, avelã e pato — provavelmente a refeição consumida por Lola antes de ela mastigar o piche de bétula. Esses alimentos são sugestivos de uma dieta de caçadores-coletores.

Além disso, os arqueólogos não encontraram nenhuma evidência de alimentos domesticados no local de Syltholm, o que os surpreendeu, pois data do início do neolítico e do estabelecimento da agricultura. A nova pesquisa, portanto, fala da transição da Dinamarca do mesolítico para o neolítico.

“O que é surpreendente é que Lola era basicamente uma caçadora-coletora que viveu no Neolítico”, disse Jensen ao Gizmodo.

Jensen disse que os dados genéticos “também correspondem muito bem com os achados do local”, o que sugere que “a população em grande parte continuou a caçar, coletar e pescar durante o Neolítico Primitivo”, explicou. A mudança para a agricultura, portanto, provavelmente foi “um esforço mais ‘colaborativo’ entre os agricultores imigrantes e os caçadores-coletores” na Dinamarca, disse Jensen.

O DNA microbiano extraído do piche de bétula permitiu que os pesquisadores reconstruíssem o microbioma oral de Lola. Embora sejam uma amostra única, os resultados são potencialmente indicativos de outros humanos neolíticos que viviam na comunidade de Lola.

A grande maioria dos micróbios identificados era inofensiva, mas os pesquisadores identificaram o Porphyromonas gingivalis, uma bactéria ligada à doença gengival, o DNA bacteriano associado à pneumonia e o vírus Epstein-Barr, que causa a mononucleose, também conhecida como febre mono ou glandular.

“Não sabemos se [esses micróbios] a impactaram de forma alguma”, disse Jensen. “A maioria das bactérias são espécies comensais, que em circunstâncias específicas podem se tornar patogênicas. Mas não sabemos se ela teve pneumonia ou febre glandular no dia em que mastigou o piche.”

É realmente incrível o que esses cientistas conseguiram obter de um único pedaço de chiclete antigo. E, de fato, a nova pesquisa sugere fortemente que os arqueólogos devem estar atentos a artefatos semelhantes. Pistas do nosso passado antigo e da nossa biologia podem ser encontradas nos lugares mais inesperados.

FONTE: GIZMODO BRASIL

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