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Um padre foi o primeiro a propor o Big Bang. E o Vaticano aprovou


(pixelparticle/iStock/iStock)

Por Felipe van Deursen

Nesses tempos estranhos em que vivemos, com tantos e fúteis tipos de picuinhas de “nós” contra “eles”, da posição política à posição do rolo do papel higiênico, a história de um padre que, em pleno século XX, foi um dos maiores cientistas do seu tempo, pode ajudar a melhorar o seu dia (ainda mais se o grupo da família no Whatsapp estiver pior que briga de condomínio).

Georges Lemaître nasceu em 1894 em Charleroi, na Bélgica. Formou-se engenheiro civil na Universidade Católica de Leuven (que os cervejeiros mais atentos conhecem como a cidade da Stella Artois). A Grande Guerra interrompeu sua carreira acadêmica e o tragou para as trincheiras, onde sobreviveu e recebeu a Cruz de Guerra Belga. De volta à paz, retornou também aos estudos, graduando-se em matemática e filosofia. Em 1923, foi ordenado padre. Estimulado por um cardeal que reconhecia seu talento para a ciência, ele acumulou as funções da paróquia com uma agitada vida acadêmica. Passou pelo laboratório de física solar da Universidade de Cambridge naquele mesmo ano. Da Cambridge inglesa, foi para a de Massachusetts. No MIT, onde fez doutorado em física, conheceu o trabalho de astrônomos como Edwin P. Hubble. Retornou à Bélgica em 1927 como professor de astrofísica na mesma universidade onde estudara anos antes.

Em Leuven, ainda em 1927, Lemaître publicou um estudo chamado “Un Univers homogène de masse constante et de rayon croissant rendant compte de la vitesse radiale des nébuleuses extragalactiques”, em que, baseado na Teoria da Relatividade, especulou que o Universo está em constante expansão, tal qual a distância entre as galáxias. Teve pouca repercussão, porque os textos da universidade eram dificilmente lidos fora da Bélgica. Em 1931, Lemaître enviou o artigo a Arthur Eddington, astrofísico britânico que almejava tornar as teorias científicas mais acessíveis e que já tinha a bem-sucedida experiência de ajudar a explicar ao mundo anglófono as ideias de Einstein (quando ele ainda era um cientista baseado na Alemanha).

A comunidade científica recebeu a teoria com ceticismo, e o próprio Lemaître passou a se questionar quando e como essa suposta expansão começou. Estudou, matutou, conjecturou, especulou e chegou à teoria do átomo primordial, que dizia que todo o Universo era uma partícula hiperdensa e hiperquente que explodiu (e continua explodindo). A ideia foi esboçada pela primeira vez em uma carta que ele enviou à revista Nature em 1931 e, depois, em uma coletânea de ensaios, em 1950.

Mas muitos cientistas ainda torciam o nariz, especialmente devido à outra carreira de Lemaître, a da batina. A tese mais popular de então, de Einstein, que dizia que o Universo tinha tamanho finito e que não houve um começo, o “momento sem um antes”, era mais ateia, digamos assim. Ao afirmar que o Universo, ou seja, Tudo, teve um começo, você pode induzir seu público, mesmo sem querer, de que algo ou alguém deu esse pontapé primordial. Se você for um padre, aí complica ainda mais.

Em 1952, o papa Pio XII assimilou o recado e declarou:

“Parece que a ciência moderna, com uma varredura ao longo dos séculos, foi bem-sucedida em testemunhar o augusto instante do Fiat Lux [‘faça-se a luz’] primordial, quando, junto com a matéria, explode do nada um mar de luz e radiação, os elementos se dividem, se agitam e formam milhões de galáxias. Assim, com as características concretas das provas físicas, a ciência confirmou a contingência do Universo e também é bem fundamentada quanto à época em que o mundo surgiu das mãos do Criador. Por isso, a Criação ocorreu. Nós dizemos: ‘Portanto, existe um Criador. Portanto, Deus existe’.”

Lemaître não gostou e tratou de convencer o papa a deixar de usar sua teoria para provar a existência de Deus: “O cientista cristão tem os mesmos meios que seu colega não crente. Também tem a mesma liberdade de espírito, pelo menos se a ideia que tem das verdades religiosas está à altura de sua formação científica. Sabe que tudo foi feito por Deus, mas também sabe que Deus não substitui suas criaturas. Nunca será possível reduzir o Ser Supremo a uma hipótese científica.”

Pio XII acatou e parou de usar o átomo primordial como bandeira criacionista. Mas a parceria do Big Bang com a Criação cristã segue tentadora. Em 2014, o papa Francisco declarou que o “Big Bang exige Deus”.

Em 1929, dois anos após a tese do belga, Hubble descobriu, com um telescópio, o espectro de luz de galáxias distantes, o que comprovou a teoria do afastamento galáctico. No embate entre o padre belga que escreveu em francês uma teoria com base matemática e o astrônomo americano que mostrou isso na prática, venceu o segundo. O distanciamento entre as galáxias passou a ser conhecido como Lei de Hubble. Perdeu o padre.

Em 1933, grandes cabeças se reuniram no Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena. Hubble estava lá. Einstein também. Convencido de que estava errado* quanto ao Universo estático após as observações de Hubble, ele ouviu com atenção Lemaître. Teria dito que “essa foi a explicação mais bonita e satisfatória sobre a criação que eu já ouvi na vida”.

Lemaître morreu em 1966, dois anos após a descoberta da radiação cósmica de fundo em micro-ondas, o ruído tido como a maior evidência do que aconteceu há 13,7 bilhões de anos, aquilo que passou a ser chamado de Big Bang. Como excepcional cientista que era, seguiu a fé católica até o fim e defendia que o Big Bang era só uma parte da busca científica pela verdade sobre o Cosmos e que não podia ser visto como prova da existência de Deus. Como bom padre que era, disse que continuaria acreditando Nele mesmo se a teoria se provasse infundada.

*Mesmo errado, o Universo estático de Einstein ajudou a explicar, décadas depois, a energia escura

FONTE: REVISTA SUPER INTERESSANTE

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