Uma equipe de cientistas detectou vapor de água e monóxido de carbono num planeta que tem sete vezes a massa de Júpiter. Medições dão indicações sobre formação de sistema estelar.
O planeta HR 8799c tem sete vezes a massa de Júpiter. É um gigante a girar em torno de uma estrela a 130 anos-luz de distância da Terra, descoberto em 2008. Agora, os cientistas conseguiram detectar moléculas de monóxido de carbono e vapor de água na sua atmosfera quente através de um potente espectrógrafo, algo que nunca tinha sido feito com esta precisão. Os resultados são descritos num artigo publicado nesta quinta-feira na edição online da revista Science.
Pode-se dizer que este é um sistema bebé. A estrela HR 8799a nasceu há 30 milhões de anos, muito antes da linhagem humana evoluir em África, mas há pouquíssimo tempo se compararmos esta data com os 4600 milhões de anos que o Sol tem. Conhecem-se ao todo quatro planetas gigantes a girar em torno desta estrela, todos maiores do que Júpiter. Devido ao seu tamanho e ao seu brilho foram identificados por observação directa.
“O sistema só tem 30 milhões de anos de idade o que faz com que os planetas sejam muito quentes, mais de mil graus kelvin [o equivalente a 726 graus celsius] e por isso são mais fáceis de se observarem”, explica Bruce Macintosh, do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, Califórnia, Estados Unidos. O investigador foi um dos autores do trabalho e falou numa conversa telefónica para jornalistas organizada pela Associação Americana para o Avanço da Ciência.
O planeta HR 8799c é o segundo planeta mais distante. Está, comparativamente, tão longe da sua estrela como Plutão está do Sol. É um planeta gasoso gigante, e a equipa inspeccionou a sua atmosfera no Observatório Keck no Havai, com um espectrógrafo de alta resolução chamado OSIRIS que consegue observar uma região muito localizada e distante no céu. E permite descobrir as impressões digitais de moléculas específicas.
A equipa observou a região do espectro luminoso situada no infravermelho, uma região do onde o planeta, devido às altas temperaturas, emite mais brilho. “A técnica divide a luz do planeta em muitas porções pequenas ao longo de uma região do infravermelho. E podemos medir pequenas mudanças no brilho que correspondem às propriedades da água e do monóxido de carbono”, explicou por sua vez Travis Barman, do Observatório de Lowell, Arizona, outro autor do artigo.
Ao contrário da atmosfera de Júpiter, que contém metano, no caso da atmosfera do planeta HR 8799c não foi encontrada esta molécula. Os cientistas defendem que devido às altas temperaturas o carbono tende a transformar-se em monóxido de carbono e não em metano.
O rácio das duas moléculas encontradas foi o suficiente para os investigadores compreenderem melhor como se formou este longínquo sistema estelar. As medições permitiram verificar que a atmosfera continha mais monóxido de carbono do que vapor de água. Isto significa, segundo Quinn Konopacky, a primeira autora do artigo, que a atmosfera deste planeta tem “menos vapor de água do que esperaríamos se o planeta tivesse a composição da estrela em que orbita”, explica. “Pensamos que no início haveria muitas partículas de gelo no disco [planetário] original que rodeava a estrela, depois desta formar-se, e estas partículas de gelo condensaram-se nas regiões frias do disco”, explica a investigadora da Universidade de Toronto.
Depois, estas partículas terão agregado continuamente até formarem planetas suficientemente grandes, cuja massa foi capaz de reter atmosfera pela força da gravidade. A este processo de formação de planetas chama-se acreção e é o mesmo que se pensa que tenha acontecido durante a formação do nosso Sistema Solar.
FONTE: http://www.publico.pt/
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