Imagem mostra o padrão do campo magnético de Júpiter, com um estranho foco na região equatorial, além dos dois polos. (Crédito: Kimberly Moore et al./Nature)
Salvador Nogueira
Um estudo baseado nos dados colhidos em 8 dos 9 primeiros voos rasantes da sonda Juno por Júpiter mostra que o campo magnético do maior planeta do Sistema Solar é… esquisito.
Em órbita do gigante gasoso desde 2016, a espaçonave percorre um traçado que a leva alternadamente para perto e para longe de Júpiter. Na aproximação máxima, a cada 53 dias, a Juno chega a ficar a apenas 4.000 km do topo das nuvens jovianas.
A cada mergulho, ela atravessa o campo de radiação gerado pela magnetosfera do planeta, e sucessivas passagens vão criando um modelo 3D do campo magnético. Eis aí os dados que revelaram a bizarrice joviana nesse quesito.
Na Terra, o campo magnético é bem conhecido. Ele é gerado por correntes elétricas que se movem pelo ferro derretido da região mais externa do núcleo e funciona quase como se a Terra tivesse um ímã gigante dentro de si, com um polo magnético no norte e outro no sul. Nas demais regiões do globo, há uma homogeneidade do campo, dito não dipolar.
Em Júpiter a coisa é mais complicada. Além de um polo magnético no norte e outro no sul, há um foco parecido com o polo sul na região do equador, e o lado negativo do campo se distribui por todo o hemisfério Sul. Só no Norte há homogeneidade similar à dos dois hemisférios terrestres.
Imagem obtida pela sonda Juno em 15 de julho revela uma tempestade no hemisfério Sul de Júpiter, parecida com (mas menor que) a Grande Mancha Vermelha (Crédito: NASA/JPL-Caltech/SwRI/MSSS/Björn Jónsson)
Kimberly Moore, da Universidade Harvard, e seus colegas apostam, em artigo publicado na Nature, que a bizarrice tem a ver com a estrutura interna de Júpiter, bem diferente da terrestre. Imagina-se que o campo magnético joviano seja gerado no interior do planeta numa região em que o hidrogênio, seu principal componente, em razão da pressão, se comporta como um metal.
A configuração estranha do campo pode indicar que o dínamo do planeta não é gerado numa única camada espessa e uniforme, como na Terra. Para investigar isso, os cientistas terão de modelar esse campo em computador e deduzir qual seria a estrutura interna correspondente _ajudando assim a Juno a cumprir sua principal meta: entender como é o interior profundo do maior planeta do Sistema Solar.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras, na Folha Corrida.
FONTE: mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br
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