
PEQUENO CRISTAL DE HIBONITA ENCONTRADO NO METEORITO DE MURCHISON (FOTO: ANDY DAVIS/UNIVERSIDADE DE CHICAGO)
Fragmento contém gases e outras provas físicas dos primeiros anos de vida da principal estrela do Sistema Solar
Para a pediatria e a psicologia infantil – e, claro, para pais e mães – há uma fase da infância que é conhecida como “os terríveis dos anos”. Talvez você não se lembre, mas nesse período era muito provável que o seu pequeno você fizesse birras na rua, esperneasse em espaços públicos e causasse tremendos espetáculos incompreensíveis aos seus familiares.
Pois bem, assim como nós, o Sol também teve já passou por essa fase. Por ser uma estrela, o astro protagonista do Sistema Solar experimentou muitas explosões e espalhou quantidades tamanhas de radiação pelo espaço.
Talvez, agora, com seus 4,5 bilhões de anos, ele se envergonhe ou até tenha esquecido de sua fase mais juvenil. Porém, esse período intenso da vida do Sol acaba de voltar à tona após um grupo de astrônomos encontrar os resquícios das explosões solares em cristais azuis presos dentro de um meteorito espacial, o Murchison.
Murchison é tão antigo quanto o Sol; antecede a formação dos planetas de nosso Sistema. Isso quer dizer que enquanto o grandiosa estrela causava espetáculos radioativos e flamejantes no espaço, o meteorito estava ali, observando e guardando tudo.
“Essencialmente, isso é uma gravação real da atividade inicial do Sol”, explicou o cosmoquímico Philipp Heck, pesquisador do Museu Field de História Natural (EUA) e autor do estudo, que foi publicado no periódico científico Nature Astronomy.
Os estudiosos tiveram acesso às informações do Murchison quando o meteorito caiu na Austrália, em 1969. Dentro dele, foram encontrados microscópicos cristais azuis espaciais, chamadas de hibonita, os quais se acredita estarem entre os primeiros minerais que formaram o Sistema Solar.
“Desde que [o meteorito] caiu tem sido uma caça ao tesouro para a ciência, pois ele contém muitos materiais inalterados dos primeiros anos do Sistema Solar, como as hibonitas”, afirmou Heck.
Voltando ao tempo, naquele período inicial, o Sol era cerceado por um disco rotacional de poeira e gás, os quais viriam a formar os planetas no futuro. A região central do círculo registrava altas temperaturas (aproximadamente 1,482 °C). Foi só quando a temperatura do círculo começou a abaixar que as hibonitas passaram a se formar nas rochas espaciais – sendo uma delas o meteorito Murchison.

ILUSTRAÇÃO DO DISCO DE POEIRA E GÁS AO REDOR DO SOL PRIMITIVO E INSERÇÃO DO CRISTAL DE HIBONITA (FOTO: THE FIELD MUSEUM/UNIVERSIDADE DE CHICAGO/NASA/ESA/E. FEILD)
Apesar de a idade exata das hibonitas azuis de Murchison não ter sido determinada, os cientistas acreditam que, de acordo com a composição, eles devem ter surgido em um intervalo de tempo que vai entre a juventude do Sol, há algumas centenas de milhares de anos atrás, até 50 milhões de anos atrás, quando a Terra foi formada.
Ao utilizar um laser ultra vermelho para derreter as hibonitas e liberar os gases presos no interior, os pesquisadores descobriram que havia traços de hélio e isótopos de neon dentro dos cristais.
De acordo com os cientistas, os dois gases nobres indicam que o próprio mineral foi irradiado pelo Sol, o que indica que a estrela era muito ativa durante sua fase inicial.
“Deveria ser como assistir à explosão de fogos de artifício cósmicos. Essas erupções [solares] resultaram em uma fluxo de partículas carregadas, indo em diferentes direções e irradiando qualquer coisa no caminho”, explica Heck.
Como esses mesmos gases não foram encontrados em outros meteoritos mais jovens que já caíram na Terra (ou nas próprias rochas terrestres e da Lua), os cientistas acreditam que a atividade do Sol foi diminuindo com o passar do tempo.
Enquanto isso, nossa querida e calorosa estrela está prestes a completar metade do ciclo de sua vida, o que significa que teremos mais 4 bilhões de anos de muita calmaria e tranquilidade no atual Sistema Solar.

Uma amostra do meteorito Murchison, em que os cristais foram encontrados. Crédito The Field Museum, Chicago
FONTE: REVISTA GALILEU
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