Uma criatura parecida com uma minhoca, com 30 membros, vasculhava o fundo do mar durante o início do período Cambriano, de acordo com uma nova pesquisa. Sua aparência bizarra e seu padrão de alimentação são diferentes de qualquer coisa já vista.
Pesquisadores escavando no Folhelho Burgess, na província canadense de Colúmbia Britânica, descobriram restos fossilizados de um lobopódio de 500 milhões de anos. Chamado de Ovatiovermis cribratus, o animal recém-descrito tinha apenas alguns centímetros de altura e se alimentava balançando seu corpo de um lado para o outro para capturar presas pequenas. Dadas sua idade extrema e suas características físicas únicas, cientistas disseram se tratar de um dos exemplos mais antigos nos registros de fósseis de artrópodes — grupo de animais que inclui insetos, aranhas, escorpiões e crustáceos.
Os lobopódios viveram durante o início do período Cambriano e são conhecidos por seus corpos com aspecto de minhoca e pernas curtas. Como outros lobopódios, o Ovatiovermis cribratus tinha algo entre 20 e 30 membros, mas era único no sentido de não ter os ferrões defensivos típicos dessas criaturas.
Os pesquisadores Jean-Bernard Caron e Cédric Aria, do Museu Real de Ontário, analisaram um par de espécimes fósseis encontradas no Folhelho Burgess, o que lhes permitiu documentar o plano de corpo distinto do animal. A parte de cima do Ovatiovermis cribratus apresenta pernas longas e esguias equipadas com uma fileira dupla de cerdas. Sua parte de baixo é mais grossa e robusta, assemelhando-se a uma raíz de gengibre. Este animal se alimentava por filtragem, ancorando-se ao fundo do mar com ganchos enquanto vasculhava a água procurando por comida, usando seus membros frontais dentados.
Os ártropodes, dos quais os lobopódios são exemplos extremamente antigos, acabaram se tornando um dos grupos de animais mais bem-sucedidos do planeta, abrangendo aproximadamente 80% de todas as espécies conhecidas. Hoje, os artrópodes estão divididos em vários subgrupos, incluindo cheliceratas (grupo que, por sua vez, inclui escorpiões e aranhas), crustáceos, insetos e miriápodes (como diplópodes e quilópodes). Antes do surgimento desses grupos, os artrópodes antigos incluíam tardígrados, onychophorans (vermes-aveludados) e os extintos lobopódios.
Juntos, esses animais compreendem um grupo conhecido como “panarthropoda”. A descoberta do Ovatiovermis cribratus — com suas pernas macias e seu padrão de alimentação por filtragem — o torna o membro conhecido mais primitivo dos panarthropoda.
Imagem: Danielle Dufault/Jean-Bernard Caron et al., 2017
Esta interpretação, segundo o paleontólogo Dave Marshall, da Universidade de Bristol (que não esteve envolvido no estudo), é significativa, já que demonstra funções de características físicas específicas na base de cada árvore genealógica. “Qualquer espécie subsequente na árvore genealógica que possua esses traços pode, então, tê-los herdado de um ancestral com ecologia similar”, escreve, no BMC Blog Network. “Podemos dizer, portanto, que os panarthropoda evoluíram de um ancestral filtrador.”
Na próxima vez em que você ver uma aranha se rastejando perto de sua banheira, talvez você queira se lembrar disso. Por mais que os aracnídeos modernos pareçam assustadores, seus vovôs da era Cambriana é que eram perturbadores de se ver.
[BMC Evolutionary Biology]
Imagem do topo: Jean-Bernard Caron et al., 2017
FONTE: GIZMODO BRASIL
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