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Nova análise derruba tese controversa sobre origem da humanidade


Fósseis de Australopithecus afarensis (esquerda), Homo habilis (centro) e Australopithecus sediba (direita). Imagem: Matt Wood, UChicago

Por George Dvorsky

Os seres humanos evoluíram a partir de um grupo de hominídeos semelhantes aos macacos, conhecidos como australopitecíneos, mas os cientistas não sabem dizer quais espécies são nossos ancestrais diretos. Uma nova análise estatística mostrou ser altamente improvável que um candidato em particular, o Australopithecus sediba, seja ancestral dos humanos — uma descoberta que pode finalmente acabar com um longo debate.

A maioria de nós está familiarizada com o Australopithecus afarensis — um hominídeo do tipo macaco, melhor exemplificado pelo fóssil Lucy, de 3 milhões de anos. Mas há outra espécie importante do gênero dos australopitecíneos, descoberta há apenas 11 anos no sítio arqueológico de Malapa, perto de Johannesburg, na África do Sul.


Capa de abril de 2010 da Science, apresentando o crânio de um A. sediba. Imagem: Science AAAS

Esta espécie, chamada Australopithecus sediba, é agora conhecida a partir de centenas de elementos fósseis que datam de 1,97 milhões de anos. Esses homininos apresentavam características de macaco combinadas com algumas características modernas, semelhantes a humanos.

Posteriormente, uma equipe liderada por Lee Berger, da Universidade de Witwatersrand, passou a argumentar — e continua defendendo essa posição até hoje — que o A. sediba é a espécie ancestral direta e mais próxima da qual o gênero Homo emergiu.

Mas há um problema de linha do tempo com essa hipótese. O mais antigo fóssil Homo conhecido — um maxilar de uma espécie ainda a ser identificada dos primeiros humanos — tem 2,8 milhões de anos. Isso é 800 mil anos antes do A. sediba. Assim, é justo perguntar: Como é possível que A. sediba gerou um gênero inteiramente novo, dado que sua presença é muito mais tardia do que a mais antiga evidência de humanos?

É inteiramente possível que tenha havido um período prolongado de sobreposição durante o qual as duas espécies de hominídeos coexistiram. Mas, como uma nova pesquisa publicada na revista Science Advances sugere, este cenário, embora teoricamente possível, é excepcionalmente improvável.

Os autores do novo estudo, liderado por Andrew Du, da Universidade de Chicago, chegaram a essa conclusão realizando um exame dos períodos de tempo em questão, criando um modelo para testar a viabilidade do cenário no qual os seres humanos evoluíram diretamente de A. sediba. A matemática simplesmente não funcionou, levando Du e seus colegas a concluir que A. afarensis cabe melhor no papel de ancestral mais próximo do Homo.

Para o estudo, Du e seus colegas examinaram a literatura científica existente procurando exemplos de relações ancestrais-descendentes, coexistentes e hipotéticas, envolvendo espécies de hominídeos.

Dos 28 exemplos descobertos, apenas um caso envolveu um descendente mais velho que seu suposto ancestral — as espécies Homo H. erectus e H. antecessor. Mas esses dois homininos foram separados por 100 mil anos, muito menos do que os 800 mil anos necessários para que a hipótese do A. sediba funcionasse. É importante observar que a expectativa de vida média de qualquer espécie hominina é de cerca de um milhão de anos.

Disposta a brincar com essa possibilidade, no entanto, a equipe de Du gerou um modelo que presumiu que A. sediba é ancestral do Homo.

“Dado o modelo, calculamos a probabilidade de encontrar um horizonte fóssil de A. sediba que seja pelo menos 800 mil anos mais jovem do que um dos primeiros Homo, que é o que observamos no registro fóssil”, escreveu Du em um e-mail ao Gizmodo.

Como os modelos mostraram, as chances de isso acontecer foram em média de 0,9%. De acordo com os autores do estudo, esse número nesse nível de probabilidade é “por definição zero”. Este grau de probabilidade é muito baixo, e “como o A. sediba aparece 800 mil anos depois do que o Homo mais antigo na realidade, isso sugere que a suposição do nosso modelo — o A. sediba como ancestral do Homo — é incorreta e pode ter sido falsificada”, disse Du. Ele ainda acrescentou: “Essa é uma maneira comum de refutar rigorosamente as hipóteses.”

O A. afarensis, por outro lado, existia muito mais perto em termos de tempo e espaço em relação ao fóssil da mandíbula acima mencionada. O fóssil de Lucy, junto com os restos de uma criança de A. afarensis encontrada em 2000, localizava-se a poucos quilômetros da mandíbula humana na Etiópia. Além disso, as características físicas da mandíbula humana são mais consistentes com as observadas no A. afarensis.

“Dado o tempo, a geografia e a morfologia, essas três evidências nos fazem pensar que o A. afarensis é um candidato melhor do que o A. sediba“, disse Zeray Alemseged, paleontólogo da Universidade de Chicago e co-autor do novo estudo, em um comunicado. “Pode-se discordar da morfologia e das diferentes características de um fóssil, mas o nível de confiança que podemos depositar nas análises matemáticas e estatísticas dos dados cronológicos deste artigo torna nosso argumento muito forte.”

É importante ressaltar que os pesquisadores não estão dizendo que A. afarensis é o ancestral humano mais direto — é apenas o melhor ajuste atual, dada as evidências fósseis disponível.

“Isso é estatística probabilística em sua melhor forma”, disse Yohannes Haile-Selassie, um antropólogo físico do Museu de História Natural de Cleveland, em um e-mail para o Gizmodo.

“Eu não tinha nenhuma dúvida em minha mente — muitos em nosso campo também não têm — de que o A. sediba não poderia ter sido o ancestral do Homo, não apenas porque o mais antigo representante conhecido do Homo é 800 mil anos mais velho, mas também porque o A. sediba não tem todas as características morfológicas que se esperaria ver no primeiro Homo”, disse Haile-Selassie, que não esteve envolvido com essa nova pesquisa.

“Espero que o trabalho de Du e Alemseged sirva para descartar de vez esta questão”, escreveu ele. “Ainda temos que procurar o ancestral do gênero Homo, embora o A. afarensis pareça ser o melhor candidato por enquanto. Vamos continuar procurando, o registro fóssil é sempre cheio de surpresas!”

Fred Spoor, professor do Centro para Pesquisa de Evolução Humana (CHER, na sigla em inglês) do Museu de História Natural em Londres, também não envolvido na nova pesquisa, disse que o artigo é importante porque “testa estatisticamente manchetes infundadas” feitas sobre o A. sediba.

“É bom ver que análises estatísticas detalhadas confirmam o que sempre pareceu bom senso. É realmente improvável que o Australopithecus sediba tenha sido diretamente ancestral do gênero Homo”, disse Spoor ao Gizmodo em um e-mail.

Embora as origens do gênero Homo ainda possam ser obscuras, os cientistas estão bastante confiantes sobre quando e onde o Homo sapiens, nossa própria espécie, surgiu pela primeira vez: há cerca de 300 mil anos no noroeste da África.

FONTE: GIZMODO BRASIL

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