Por Amy Lynn
O segredo para estabilizar o clima da Terra pode estar nas florestas do planeta. É por isso que, nesta semana, uma equipe de pesquisadores está enviando um operador de reconhecimento com tecnologia avançada para a Estação Espacial Internacional para descobrir quanto carbono é armazenado nas árvores do mundo.
Dentro da próxima espaçonave SpaceX Dragon e armado apenas com um altímetro a laser, o GEDI (Global Ecosystem Dynamics Investigation) espera por sua implantação. Lançado em 4 de dezembro, este instrumento de LIDAR, o primeiro do gênero, é projetado para mapear as florestas do mundo em 3D e, ao fazê-lo, nos dará melhores estimativas de sua biomassa e de quanto de carbono elas armazenam.
As florestas da Terra, como os oceanos, absorvem carbono da atmosfera. Mas o desmatamento e outras perturbações podem fazer com que o carbono seja liberado, e ainda temos muito a aprender sobre quais florestas são sumidouros de carbono e quais são fontes de carbono em escala global. Segundo Ralph Dubayah, professor de ciências geográficas da Universidade de Maryland e principal pesquisador do GEDI, será difícil prever futuras concentrações de CO2 na atmosfera sem essa informação.
Não só precisamos entender melhor esse equilíbrio de carbono, mas também precisamos saber como o carbono é distribuído espacialmente nas florestas. O GEDI vai ajudar a preencher essas lacunas importantes na contagem de carbono.
O instrumento Global Ecosystem Dynamics Investigation Lidar (GEDI) sendo montado no Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA. Foto: NASA
Isso será feito pesando árvores. O que soa como uma tarefa complicadíssima, mas, felizmente, Dubayah e sua equipe equiparam o GEDI com um laser poderoso capaz de fazer isso com precisão, sem derrubar nenhuma delas.
Basicamente, o equipamento parece uma peça científica de Lego: uma vez que o GEDI for removido do porta-malas da Dragon, ele será instalado por meio de um braço robótico no Exposed Facility do Módulo de Experiências Japonês. A partir de sua posição orbital elevada, o GEDI fornecerá as primeiras observações de alta resolução da estrutura vertical das florestas em escala global.
O GEDI mede essa estrutura vertical com a ajuda de três lasers que disparam pulsos 242 vezes por segundo na Terra. O instrumento então conta quanto tempo leva para que parte dessa luz retorne até ele. Um dos maiores desafios da missão foi simplesmente ter potência de laser e sensibilidade suficientes para enxergar através de dosséis densos de florestas tropicais.
Conforme os pulsos de laser viajam pelo dossel florestal, os reflexos transmitidos de volta poderão destacar a estrutura 3D da floresta, da mesma forma que um ecocardiograma mostra a um médico os vasos sanguíneos em seu coração. “Podemos ver e medir a altura da árvore e podemos ver quão densas são as folhas e os galhos à medida que descemos”, disse ao Earther Bryan Blair, cientista de instrumentos GEDI no Centro de Voos Espaciais Goddard em Greenbelt, Maryland.
Dubayah acrescentou que, até o final de sua missão planejada de dois anos, o GEDI terá coletado mais de dez bilhões de medições, que fornecerão o mapa mais detalhado das florestas do mundo.
Quando se trata de altura e peso, as árvores são parecidas com seres humanos. Se você olhasse para os humanos e fizesse um gráfico de altura versus peso, veria que pessoas mais altas tendem a pesar mais do que pessoas mais baixas. É o mesmo com as árvores. Então, se sabemos o quão altas as árvores são, podemos converter sua altura em números de biomassa e obter seu peso.
Dessa forma, saberemos quanto de carbono será potencialmente liberado quando as destruirmos. Além disso, a altura e a estrutura vertical das árvores podem nos dar informações sobre a qualidade do habitat e como as mudanças nas estruturas afetam a qualidade do habitat e a biodiversidade.
Existem vários projetos de reflorestamento em andamento em todo o mundo. Mas o quão eficazes eles são na remoção de CO2 da atmosfera? O local em que novas árvores são plantadas é tão importante quanto sua quantidade. Os dados coletados do GEDI ajudarão legisladores a entender os impactos de evitar a perda e a degradação florestais e os benefícios dos projetos de reflorestamento.
Os dados coletados pelo GEDI também podem ser bastante úteis no futuro para o combate aos incêndios florestais. Conhecer a estrutura detalhada de uma determinada floresta poderia ajudar as autoridades a prever melhor como os incêndios se espalharão.
Dubayah explicou que a estrutura vertical de um dossel florestal é como ter um mapa de combustível florestal. “A maneira como o dossel é estruturado determina como um fogo pode ir de um incêndio no solo para um incêndio na árvore”, Dubayah contou durante um comunicado de pré-lançamento. “O GEDI pode ser usado pelo serviço florestal para ajudar a produzir melhores mapas de estrutura, que então são usados na modelagem de incêndios florestais.”
Algumas coisas são certas: quando árvores são derrubadas ou queimadas, o CO2 vai para a atmosfera. O GEDI vai ajudar a nos dar informações sobre o quanto de carbono resta a ser perdido, possibilitando que tomemos decisões de políticas mais informadas quando se trata do meio-ambiente. A questão é: uma vez que os dados estejam públicos, será que as autoridades continuarão negando a necessidade de combater a mudança climática?
FONTE: GIZMODO BRASIL
Comentários
Postar um comentário