Imagem obtida às 3h01 de 1º de janeiro pela sonda New Horizons, a 28 mil km de Ultima Thule. (Crédito: Nasa)
Salvador Nogueira
As primeiras imagens obtidas durante o sobrevoo de Ultima Thule pela sonda New Horizons revelaram o que pode ser a forma típica de um cometa antes de ser “gasto” pela interação com a luz solar intensa num mergulho ao interior do Sistema Solar.
Os resultados revelaram duas bolotas coladas gentilmente, algo que os astrônomos chamam de um “binário de contato”.
“Como não somos muito criativos com nomes, apelidamos o maior de Ultima e o menor de Thule”, diz Alan Stern, cientista-chefe da missão, durante coletiva realizada nesta quarta-feira (2), no Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, em Laurel, Maryland. (Oficialmente, o objeto tem a designação 2014 MU69.)
A New Horizons continua a transmitir os dados colhidos durante um rápido encontro com esse modesto objeto do chamado cinturão de Kuiper, região além da órbita de Netuno onde estão presentes muitos objetos semelhantes, além de alguns planetas anões, como Plutão (explorado anteriormente pela mesma espaçonave em 2015).
A imagem de maior resolução disponível nesta quarta foi colhida 30 minutos antes da aproximação máxima da sonda, a 28 mil km da superfície do objeto. Nela, cada pixel representa 140 metros. Mas os pesquisadores esperam que as fotos feitas durante a fase mais aguda do rápido sobrevoo, caso o apontamento da câmera tenha sido suficientemente preciso, possam revelar até 35 metros por pixel.
Quem está familiarizado com a exploração do Sistema Solar, ao deitar os olhos sobre Ultima Thule, provavelmente se lembrará de outro objeto: o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, estudado de perto pela sonda europeia Rosetta.
Imagem obtida pela sonda Rosetta no último dia 5 mostra atividade intensa no cometa Churyumov-Gerasimenko. Um cometa, ao se aproximar do Sol, começa a se desmanchar. (Crédito: ESA)
Sabe-se que o Chury um dia foi apenas um objeto do cinturão de Kuiper. Só que ele acabou ejetado de lá por algum encontrão e atirado para dentro do Sistema Solar, onde a radiação solar intensa acabou sublimando seus gelos e erodindo a superfície.
“Toda vez que vemos cometas, eles são formas muito danificadas de objetos do cinturão de Kuiper”, explicou Jeff Moore, líder da equipe de geologia e geofísica da New Horizons.
Ao estudar de perto pela primeira vez um objeto desses em seu estado mais primitivo, é possível compreender como ele se formou, nos primórdios do surgimento do Sistema Solar.
E de fato é isso que as imagens estão revelando. Primeiro, a observação dá suporte à ideia de que o Chury e vários outros núcleos cometários já explorados são mesmo binários de contato, e não objetos que eram inteiriços e que tiveram sua superfície erodida de forma seletiva pela radiação solar.
Além disso, ao encontrar um binário que está praticamente do mesmo jeito desde que se formou, 4,5 bilhões de anos atrás, a New Horizons agora confirmar modelos de formação desses objetos. E o resultado é consistente com o que se esperava para a acreção de planetesimais, os tijolos básicos que dariam mais tarde origem aos planetas.
Combinação de imagem colorida de baixa resolução e imagem preto e branco de alta resolução revelam as cores de Ultima Thule. (Crédito: Nasa)
A primeira imagem colorida revelou também o tom avermelhado de Ultima Thule, além do baixo nível de brilho do objeto, que reflete apenas 6% a 13% da (pouquíssima) luz solar que chega até ele.
Os dados preliminares de composição do solo ainda estão sendo transmitidos pela espaçonave, e uma nova coletiva nesta quinta deve trazer novidades. Até agora, tudo que vimos é menos de 1% do total de dados colhidos pela sonda durante o encontro. O download de tudo, vindo dos cafundós do Sistema Solar, vai levar 20 meses para terminar.
O objeto encontrado promete ajudar cientistas a entenderem melhor os processos de formação de planetas
FONTE: mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br - SpaceToday
Comentários
Postar um comentário