
COM CERCA DE METROS DE COMPRIMENTO, OSSADA FOI IDENTIFICADA COMO UMA NOVA ESPÉCIE (FOTO: XIAO-CHUN WU)
Amostra de tartaruga pode ajudar pesquisadores a determinar como e quando os bichos desenvolveram alguns aspectos
O fóssil de uma tartaruga encontrado na China preenche uma lacuna na evolução dos répteis. A descoberta vai ajudar pesquisadores a determinar quando as tartarugas mordernas adquiriram singularidades como a casca, por exemplo, além de entender as origens do grupo animal.
Publicado na revista Nature, o estudo mostrou que a ossada tinha cerca de dois metros de comprimento. Chamada de Eorhynchochelys sinensis, a espécie viveu aproximadamente 230 milhões de anos atrás. O crânio do fóssil é semelhante ao de tartarugas modernas, enquanto o resto do corpo é mais parecido com um réptil antepassado que viveu há 10 milhões de anos.
Segundo Rainer Schoch, paleontólogo do Museu Estadual de História Natural de Stuttgart, na Alemanha, esta nova espécie se encaixa quase perfeitamente no quadro evolutivo dos répteis. "Estamos muito felizes em ver isso", ele comentou.
Evolução
De acordo com a pesquisa, as tartarugas não mudaram muito nos últimos 210 milhões de anos. Todas têm uma casca superior formada a partir da fusão de sua espinha e costelas, uma concha inferior que protege sua barriga, um bico afiado e uma boca sem dentes. Mas o bicho carece de uma característica comum à maioria dos répteis modernos: dois pares de buracos no crânio, atrás dos olhos, onde os músculos da mandíbula estão presos.
A ausência desses buracos foi debatido por décadas por especialistas que tentavam entender a posição das tartarugas na árvore genealógica dos répteis. Em 2008, foi descoberta a espécie Odontochelys semitestacea. Com cerca de 220 milhões de anos, a tartaruga possuía dentes e uma concha inferior, e suas largas costelas sugeriam o começo da formação de uma casca superior. Mas faltava o bico e os pares de buracos no crânio.
Pouco tempo depois, em 2015, cientistas identificaram o Pappochelys rosinae, espécime de 240 milhões de anos que não possuía casca, mas mostrou os primeiros sinais de uma camada inferior. P. rosinae tinha dois pares de aberturas no crânio, indicando que as tartarugas estavam relacionadas com outros répteis modernos.

REPRESENTAÇÃO ARTÍSTICA DA TARTARUGA EORHYNCHOCHELYS SINENSIS (FOTO: YU CHEN)
Agora, a análise de Eorhynchochelys preenche a lacuna entre essas duas espécies. O fóssil possui um único par de buracos atrás de seus olhos, sugerindo uma transição gradual de Pappochelys para as tartarugas modernas.
A presença de um bico no esqueleto de Eorhynchochelys intrigou Xiao-Chun Wu, paleontologista do Museu Canadense da Natureza, no Canadá. Para ele, a característica sugere que a evolução do bico nas tartarugas modernas não foi um caminho reto.
Para o paleontólgo Schoch, contudo, o fóssil ainda não deixa claro o lugar de Eorhynchochelys na árvore evolucionária. Diversos estudos genéticos já classificaram os crocodilos, dinossauros e pássaros modernos como parentes evolucionários mais próximos das tartarugas.
Depois de comparar as características físicas de Eorhynchochelys com as de outros répteis fossilizados, Wu afirmou que as tartarugas não estão tão relacionadas a nenhum desses grupos. "Elas são um desdobramento de ancestrais anteriores", falou.
Mas Schoch é cético. Ele acredita que pesquisadores ainda não sabem o suficiente sobre a anatomia dos primeiros ancestrais répteis para saber com certeza o parentesco das tartarugas. "Precisamos descobrir mais sobre os primeiros ancestrais. Esse é o grande problema e o próximo passo que terá que ser dado", ressaltou.
FONTE: REVISTA GALILEU
Comentários
Postar um comentário