Estrutura mais famosa na região foi construída por índios em Calçoene (Foto: Mariana Cabral/Iepa)
Pesquisadores apontam que povos da região desenvolveram desde o ano 900 produções elevadas do solo para evitar perdas com o período chuvoso. Monumento servia de guia para épocas de plantio.
Por John Pacheco, G1 AP, Macapá
A descoberta recente de sistemas de produção agrícola bastante avançados reabrem as pesquisas sobre os povos que viveram há mais de 1 mil anos no Norte do Amapá. Os indígenas elaboraram uma técnica de plantações elevadas que garantia o plantio de grãos e raízes mesmo em áreas alagadas em função do longo período chuvoso na região, que compreende atualmente ao território dos municípios de Calçoene, Amapá, Pracuúba e Oiapoque.
Os estudos foram feitos pelo Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (Iepa), em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Os povos que elaboraram o sistema de plantio construíram vários monumentos na área para orientação pelo sol e pela lua, entre eles o conjunto de grandes rochas chamado de "Stonehenge da Amazônia".
Área no entorno do monumento de pedra que no passado foi usado para agricultura (Foto: Iepa/Divulgação)
Para o doutor em arqueologia João Saldanha, do Iepa, existe uma relação direta entre o monumento e a produção agrícola dos povos, que teria durado dos anos 900 depois de Cristo até os primeiros contatos com os europeus, a partir de 1.500.
A complexidade da técnica, para o plantio de milho, mandioca, inhame e batata doce, destacam a importância do povo para continente.
"O Amapá era mais populoso nessa época pré-colonial do que atualmente. Tem outras coisas que levantamos que o Amapá era uma grande capital na América do Sul. Elementos nos ajudam a levantar que o estado era um lugar de extrema importância para o continente. Enquanto no Sul e Sudeste, os povos eram menores e tinham uma agricultura mais simples, no Norte desenvolviam técnicas avançadas e erguiam monumentos", explicou Saldanha.
João Saldanha, pesquisador do Iepa (Foto: Mariana Cabral/Iepa)
A técnica de produção agrícola era feita pelos indígenas que usavam artefatos de madeira para erguer montes de terra circulares sobre as áreas que anualmente sofriam com os alagamentos.
A produção em larga escala seria para movimentar a economia, fortalecer a ideia de sociedade e nutrir uma população que chegava a 1 milhão de pessoas na região, dizem os pesquisadores.
"No Brasil é a primeira vez que mapeamos esse tipo de sistema agrícola. Encontramos esse tipo de técnica parecida no Suriname e na Bolívia. Era a alternativa mais avançada para o uso da terra daquela região para plantio. Inclusive hoje em dia pode ser praticado para produzir mais alimentos para a população amapaense", destacou o arqueólogo.
Stonehenge em Calçoene (em cima) e o 'original' inglês (em baixo) (Foto: Mariana Cabral/Iepa; Tahiane Stochero/G1)
'Stonehenge da Amazônia'
Apesar do nome, pesquisadores não gostam de se referir ao monumento de Calçoene como referência da famosa estrutura megalítica localizada no Reino Unido. "Porque dá a impressão de que é uma imitação, sendo que é uma criação autêntica do povo da Amazônia", diz Saldanha.
As estruturas de pedra em Calçoene estão dentro de uma área de 120 hectares que abrange um megálito maior em formato circular com outros cinco menores ao redor. A construção do espaço ainda é inconclusiva para a maioria dos estudos feitos na região.
A área foi descoberta pelos pesquisadores em 2005. À época, o monumento chamou a atenção e fez o governo do Amapá comprar os hectares para serem objeto de estudo de arqueólogos a fim de tornar a região uma atração turística.
Durante os anos de estudos, arqueólogos descobriram que a área tem urnas funerárias enterradas com restos mortais de índios. As características das esculturas feitas em cerâmica indicaram que a região foi habitada pelo povo Arawak, que tem como descendentes os indígenas da etnia Palikur, que atualmente ocupam a fronteira entre o Amapá e a Guiana Francesa.
FONTE: G1.COM
http://ufos-wilson.blogspot.com/2018/07/cientistas-descobrem-indicios-de-que.html
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