'CABEÇA RESERVA' DA QUARTA DINASTIA DO IMPÉRIO ANTIGO ENCONTRADA EM GIZA. (FOTO: CAPTMONDO/WIKIMEDIA COMMONS)
Dezenas de esculturas de cabeças pertencentes a personalidades egípcias foram encontradas desde o final do século 19, mas o seu significado ainda é desconhecido
Era 1894, quando o arqueólogo francês Jacques de Morgan descobriu a primeira "cabeça reserva" egípcia, enquanto explorava uma tumba do reinado de Seneferu, faraó do Império Antigo que governou entre 2613 e 2589 a.C.
Mais de um século de depois, 31 desses bustos foram encontrados em condições nada convencionais para os padrões observados pelos arqueólogos e, por isso, sua função dentro das tumbas e dos processos funerários da época ainda permanece um mistério.
A localização das ‘cabeças’ dentro das tumbas, por exemplo, é um tanto inusitada. “Geralmente, estátuas funerárias ficavam sobre o solo, idealmente em uma capela que fazia parte da superestrutura da tumba ou em uma pequena sala construída especificamente para isso”, afirma Nicholas Picardo, diretor associado do Giza Project, da Universidade de Harvard. Apesar disso e ao que tudo indica, elas ficavam no subsolo, o que “é bem estranho”, nas palavras do pesquisador.
Como seu posicionamento era diferenciado, a função desses bustos provavelmente também era diferente do de outras estátuas. Mesmo assim, uma teoria teoria ultrapassada parecia explicar bem o significado dos bustos. “As ‘cabeças reservas’ receberam esse nome por causa de uma teoria antiga de que elas eram sobressalentes — ou, de novo, ‘reservas’ — para substituir a verdadeira cabeça de uma pessoa morta, em caso de que ela fosse perdida ou destruída."
Por um lado, a teoria da substituição fazia sentido porque as estátuas eram representações físicas dos falecidos, que poderiam encarná-las após a morte. No entanto, a hipótese não explicava o porquê de uma série delas terem sido propositalmente danificadas — nos ouvidos e do topo da cabeça até a nuca, principalmente.
'CABEÇA RESERVA' DO EGÍPCIO NOFER (FOTO: KEITH SCHENGILI-ROBERTS, VIA WIKIMEDIA COMMONS)
Para o pesquisador Peter Lacovara, elas eram moldes para outras estátuas, já que foram encontrado sinais de reboco em algumas delas. Já Roland Tefnin, outro especialista no Egito Antigo, defende que as ‘cabeças reservas’ tenham sido simbolicamente sacrificadas para proteger o falecido.
Picardo também acredita que os bustos estejam relacionados à proteção, mas ressalta que a localização deles pode ser vital para compreender seu real significado. Talvez, os danos e correções tenham sido feitos para impedir que algo terrível pudesse voltar à vida.
Mesmo que a função das ‘cabeças reservas’ permaneça um mistério, pelos menos elas podem nos dar um vislumbre de como eram as personalidades políticas do Antigo Egito.
Das 31 esculturas, 27 foram encontradas em tumbas de aristocratas e membros da família real do Antigo Império, enterrados na necrópole de Gizé. Entre elas, há vários traços em comum. A maioria foi esculpida em calcário e possui o final do pescoço achatado para que ela possa ficar em pé. As feições são suaves, apresentam cabelo raspado ou bem curto, remetendo à aparência da falecida pessoa a qual a tumba pertence. Evidências indicam que algumas ‘cabeças’ foram pintadas de vermelho.
https://www.atlasobscura.com/articles/reserve-heads-ancient-egypt
FONTE: REVISTA GALILEU
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