
Encontro internacional apresentou propostas para o projeto
À medida que as nações líderes em exploração espacial planejam o seu próximo grande posto avançado no espaço - um sucessor para a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês) - cientistas estão elaborando uma “lista de desejos” de experimentos para o laboratório humano mais remoto já construído. A NASA e a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) estão organizando reuniões - as primeiras aconteceram nos dias 5 e 6 de dezembro em Noordwijk, na Holanda - para discutir o planejamento científico.
Por enquanto, nenhuma nação se comprometeu a financiar totalmente o projeto, que ainda não possui custo estimado, mas está previsto para os anos 2020. Contudo, as agências espaciais estão trabalhando em um plano para construir um posto avançado em órbita ao redor da Lua. Cientistas já estão competindo por um lugar na plataforma. “Fiquei surpreso com a extensão e a qualidade das propostas”, diz James Carpenter, comandante de estratégia de exploração humana e robótica da ESA em Noordwijk, que organizou o evento da agência e teve que duplicar a sua capacidade para 250 pessoas, devido ao nível de interesse.
Conhecida como Deep Space Gateway, a plataforma é o próximo passo “comumente aceito” assim que a ISS se aposentar em meados dos anos 2020, diz David Parker, diretor de voo espacial humano e exploração robótica da ESA. As agências espaciais deixaram claro que seu principal propósito seria testar a tecnologia, a partir do quintal da Terra, para a exploração do espaço profundo e para missões de longa duração - incluindo, eventualmente, ir a Marte. “Porém, também queremos descobrir como conseguir a melhor ciência a partir disso”, diz Parker.
Projeto colaborativo
Os cientistas estão ansiosos para participar já das etapas iniciais do processo de planejamento. Fazer isso poderia ajudar o projeto a evitar o destino da ISS, que recebeu algumas críticas por ter exigido bastante tempo até que se explorasse seu potencial de pesquisa. No entanto, os cientistas devem se lembrar que o principal propósito de ambas as instalações é dar suporte a futuras explorações, diz Richard Binzel, cientista planetário do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) em Cambridge. “A estação espacial é um instrumento para a experimentos com seres humanos e - quase - para a diplomacia espacial”, ele diz. “Os cientistas tornam-se desdenhosos quando afirmam que somente a ciência justifica a estação espacial - isto não é e nem nunca foi verdade.”
Ainda assim, pesquisadores já criaram uma vasta gama de experimentos. A localização da plataforma - fora do campo magnético de proteção da Terra, tão representativa do espaço profundo e com fácil acesso à Lua - proporcionaria um ambiente único para pesquisa. Além de testar como o espaço afeta a psicologia e a tecnologia humanas para sobrevivência, os pesquisadores vão propor formas nas quais a estação poderia dar suporte a estudos planetários e permitir experimentos inovadores de física e astronomia, diz Carpenter.
O workshop mostrará uma série de experimentos de física que não só explorariam o ambiente, mas também poderiam tornar-se economicamente viáveis ao utilizarem as capacidades de energia e navegação da estação. Estas incluem um monitor para o ambiente de meteoroides, o qual estudaria a poeira interestelar à deriva que nunca atinge a Terra, devido ao campo magnético do planeta. Um observatório de rádio de baixa frequência poderia ser usado para captar radiação das "idades escuras" do Universo, entre 400 mil e 100 milhões de anos após o Big Bang - o que é extremamente desafiador de fazer na Terra, devido à interferência de fontes humanas e à ionosfera do planeta, diz Mark Bentum, físico da Universidade de Twente em Enschede, Holanda.
Ligado à Lua e além
Uma estação espacial nas proximidades da Lua daria aos cientistas lunares acesso regular à sua superfície, diz Mahesh Anand, cientista planetário da Universidade Aberta em Milton Keynes, Reino Unido. Foi confirmada a presença de água na Lua na última década, mas os pesquisadores ainda sabem pouco sobre onde ela está, quanto há e o quão viável seria extraí-la. Pesquisadores a bordo de um laboratório orbital também seriam capazes de controlar os rovers lunares em tempo real e poderiam estudar rochas do satélite sem a necessidade de levar as amostras para a Terra.
Outras pessoas buscam desenvolver tecnologias para viagens ao espaço profundo. Armin Gölzhäuser, físico-químico da Universidade Bielefeld na Alemanha, quer testar o potencial de membranas de carbono com espessura nanométrica, feitas de moléculas aromáticas fundidas, como filtros duradouros, finos e eficientes os quais poderiam reciclar água residual ou ar. Enquanto isso, a bioquímica Katharina Brinkert, do Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena, e seus colegas projetaram um dispositivo para aumentar a produção de hidrogênio e oxigênio assistida por energia solar, otimizado para utilização na microgravidade.
O interesse político em relação à plataforma está crescendo. Em setembro, a NASA assinou um acordo conjunto com a Roscosmos, sua homóloga russa, o qual estabeleceu a plataforma como parte de sua “visão comum para a exploração humana”. As agências espaciais japonesa e canadense também demonstraram interesse. Tanto a NASA quando a ESA já contrataram parceiros industriais para realizarem trabalhos preliminares. Contudo, determinar se, e quando, o projeto seguirá adiante, é algo que vai depender muito do novo administrador da NASA. James Bridenstine, republicano de Oklahoma e membro do congresso dos Estados Unidos, foi nomeado para o cargo, mas ainda precisa ser confirmado. Se a Deep Space Gateway for lançada, como planejado, em meados dos anos 2020, decisões importantes precisam ser tomadas até o final de 2019, diz Parker.
Elizabeth Gibney, Nature
FONTE: SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL
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