POR SALVADOR NOGUEIRA
Busca de sinais artificiais no ‘Oumuamua, objeto interestelar, dá em nada. Ou não?
MISTÉRIO
Dizem que a pressa é inimiga da perfeição. Ela pode também ser inimiga da boa ciência, numa sociedade afeita ao imediatismo. Menos de 24 horas depois de iniciarem uma “escuta” do objeto ‘Oumuamua, um visitante interestelar que poderia ser uma espaçonave alienígena, o projeto Breakthrough Listen informou: “não detectamos sinais artificiais”.
PRESSA
Eles certamente foram pressionados a emitir o comunicado. Eu mesmo recebi mensagens na linha: “E aí, captaram alguma coisa?” Vejam o que aconteceu: o projeto usou o radiotelescópio de Green Bank para tentar captar algum sinal vindo do objeto que adentrou o Sistema Solar em setembro e agora ruma de volta para o espaço interestelar.
PARCIAL
Era só a primeira de quatro sessões de escuta programadas. Em duas horas, foram colhidos imodestos 90 TB, em frequências que iam de 1 a 12 GHz. Até a emissão do comunicado, só havia sido possível analisar os dados da banda S (1,7 a 2,6 GHz).
COMEÇO
Nenhum sinal artificial foi detectado — mas só nessa banda. Ainda havia um bocado de dados para analisar. E outras três sessões de observação nos próximos dias. Ou seja: cedo demais para conclusões.
BOA APOSTA
Vamos tirar da frente o óbvio: provavelmente o ‘Oumuamua é só um asteroide e não tem nenhum sinal artificial para ser detectado. É uma ótima aposta julgar que a conclusão não vai mudar: “sem transmissões artificiais”. Contudo, vamos combinar que, quando você analisou uma fração de uma de quatro tomadas de dados (planejadas para levar em conta a rotação do objeto), é muito cedo para emitir conclusões. Por que então os pesquisadores fizeram isso? A resposta é: porque desaprendemos a esperar.
RELEMBRANDO
Deseducados pela rapidez da internet, esperamos sempre respostas instantâneas. Má notícia: a ciência não funciona assim. A título de exemplo, não se pode confirmar a existência de um exoplaneta até que ele complete ao menos uma órbita. A natureza é árbitra da ciência, e ela tem seu próprio ritmo. No século 21, precisamos reaprender essa lição, que os antigos já sabiam de cor.
FONTE: http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br
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