A cúpula do Telescópio Canada-France-Hawaii.
Crédito: CFHT e Jean-Charles Cuillandre
A primeira evidência científica de que existe em Vénus uma circulação de vento entre o equador e os polos, ou vento meridional, foi reunida por uma equipa internacional liderada por Pedro Machado, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA) e da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). Este resultado foi publicado anteontem num artigo da revista científica Icarus, publicação de referência na área de estudo do Sistema Solar.
Através do estudo da radiação solar refletida no topo das nuvens de Vénus, Pedro Machado e a sua equipa identificaram, em ambos os hemisférios, uma componente de vento perpendicular ao equador, concordante com a circulação atmosférica característica de uma célula de Hadley (uma célula de Hadley, pela primeira vez identificada na atmosfera da Terra por George Hadley no século XVIII, é uma circulação atmosférica caracterizada pela ascensão de ar quente na região do equador e fluindo na direção dos polos rumo a latitudes médias, onde desce de novo para mais perto da superfície e regressa ao equador) e com uma velocidade média de 81 km/h.
Segundo Pedro Machado (IA e FCUL), "esta detecção é crucial para entender o transporte de energia entre a zona equatorial e as altas latitudes, trazendo luz a um fenômeno que há décadas permanece inexplicado e que é a super-rotação da atmosfera de Vénus."
A super-rotação da atmosfera de Vénus consiste no facto de os ventos paralelos ao equador, ou ventos zonais, serem responsáveis por a atmosfera completar uma volta ao planeta em apenas pouco mais de quatro dias terrestres, ou seja, 60 vezes mais rápido do que o período de rotação do globo sólido, que é de 243 dias terrestres.
Atualmente a comunidade científica procura um modelo físico capaz de explicar este fenômeno de super-rotação. Neste artigo, a equipa contribui para este modelo através de um estudo da variação do vento paralelo ao equador, ou vento zonal, ao longo do tempo e ao longo das várias latitudes, assim como com os primeiros dados sobre a existência de um vento meridional. Um dos próximos passos será identificar o ramo do vento meridional a menor altitude em que o ar regressa ao equador.
Machado e a sua equipa são também autores do único método, hoje existente, que utiliza a radiação visível para a medição, a partir de telescópios na Terra, da velocidade instantânea do vento na atmosfera de outro planeta. Baseia-se no efeito de Doppler que as nuvens, pela sua deslocação, aplicam à luz do Sol que refletem.
Pedro Machado comenta: "Vários grupos de investigação tentaram medir o vento meridional em Vénus. As tentativas feitas até agora baseadas em observações a partir do solo foram infrutíferas, enquanto que as que utilizaram dados da sonda espacial Vênus Express estavam limitadas ao hemisfério sul e revelando resultados pouco conclusivos."
Os dados deste estudo foram obtidos com observações simultâneas e coordenadas da atmosfera de Vénus realizadas com a sonda Vênus Express, da Agência Espacial Europeia (ESA), e com o Telescópio Canada-France-Hawaii (CFHT) utilizando o espetrógrafo de alta resolução ESPaDOnS.
Pedro Machado, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, junto ao Telescópio Canada-France-Hawaii.
Crédito: Pedro Machado
Aquisição sequencial de espectros do lado diurno de Vénus a partir do Telescópio Canada-France-Hawaii em 19 de abril de 2014.
Crédito: Pedro Machado et al.
FONTE: http://www.ccvalg.pt
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