
Veículo não-tripulado Mars Rover na superfície do Planeta Vermelho
Uma equipe de cientistas americanos lançou uma campanha no Kickstarter para financiar um programa educacional que beneficiará a comunidade Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.
O programa se chama Mars Academy, e é um projeto educacional e um projeto de filme documentário. Quatro cientistas e um cineasta passarão duas semanas na comunidade trazendo a ciência da Nasa através de experimentos práticos e viagens de campo para a floresta tropical brasileira. A iniciativa beneficiará um grupo de crianças que de outra maneira nunca seria exposto a algo semelhante.
— Há uma estimativa de 11 milhões de habitantes morando em favelas no Brasil, e as perspectivas sombrias de futura mobilidade econômica têm como consequência um terrível desperdício de potencial humano — disse à “Wired” o astrofísico Wladimir Lyra, professor-assistente de astronomia na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Lyra, que cresceu no Rio e recebeu grande parte de sua formação científica no exterior, vê muitas falhas fundamentais no sistema educacional do Brasil — falhas que colocam empregos com altos salários fora do alcance de todos que não pertençam às famílias mais ricas.
— Temos um sistema em que praticamente as únicas crianças que têm a chance de chegar à faculdade são aquelas cujos pais podem pagar pelo ensino privado — explicou. — Quantos Newtons ou Mozarts nasceram nas favelas e nunca puderam desenvolver suas habilidades?
Dadas as condições e oportunidades cruelmente desiguais, Lyra está ansioso para ampliar o cenário educacional de crianças que vivem nas favelas e a Mars Academy pretende fazer exatamente isso.
A ideia é que a capacitação desses alunos graças a programa impulsione-os em uma busca contínua de novas perguntas e respostas perspicazes, plantando uma centelha de inspiração que vai atiçar as chamas da curiosidade dos alunos em direção a um futuro mais brilhante.
A Mars Academy avaliará a curto, médio e longo prazo a eficácia do currículo baseado na exploração, recolhendo dados sobre o quão bem um momento na vanguarda da exploração se traduzirá concretamente em lampejos inovadores na comunidade, em comparecimento mais assíduo dos alunos às aulas convencionais, e na melhoria das perspectivas econômicas.
— Se nós podemos inspirar as crianças da favela, e pudermos acender essa luz e fornecer as sementes que irão fazê-los perseguir a ciência como uma carreira e ir para a faculdade, então eles terão quebrado o ciclo — comentou Lyra. — Essas crianças se tornarão histórias de sucesso, seus pares verão que é possível alcançar uma mobilidade social através da educação e, em algum momento, poderemos virar a maré da realidade urbana no Rio.
COMO FUNCIONARÁ
Em meados de 2015, a equipe de cinco pessoas vai viajar para o Rio de Janeiro e trabalhar com professores locais na escola da Developing Minds Foundation na favela. A Fundação tem sido reconhecida pela eficácia de sua facilidade de base tecnológica, oferecendo aulas a mais de 700 alunos por ano.
Com este objetivo em mente, a turma será levada em viagens de campo para a floresta nas proximidades — uma rara oportunidade para os alunos, apesar de sua proximidade com esta maravilha natural — e da costa brasileira, onde será explorado o reino subaquático com um submersível OpenROV.
De volta à sala de aula e ao redor da favela, os alunos receberão o contexto de Marte e buscarão conexões entre a evolução do meio ambiente no planeta vermelho e a biologia das florestas tropicais do Brasil.
Armados com este conhecimento contextual e com sua própria curiosidade, os alunos vão passar os últimos dois dias desenvolvendo um objetivo experimental para a câmera HiRISE, da Nasa, que será enviado para o controle da missão no Laboratório de Propulsão a Jato em Pasadena, na Califórnia.
A HiRISE é um dos instrumentos científicos mais avançados e produtivos atualmente explorando o Sistema Solar: com a resolução espacial do diâmetro de um prato de comida, ela pode divisar estruturas geográficas em Marte, como antigos leitos de rios e lagos, campos de dunas, e até mesmo os veículos artificiais terrestres que trafegam na superfície do planeta.
Durante sua missão de 8 anos, a HiRISE tem produzido alguns dos mais belos e cientificamente valiosos dados já coletados a partir do Planeta Vermelho. No entanto, apenas uma pequena fração do planeta foi fotografada, e ainda há muito que descobrir.
Ao direcionar a câmera para uma região invisível de Marte, os alunos da Cidade de Deus farão uma contribuição real e duradoura para a exploração do espaço. Em seguida os alunos serão levados de volta para a escola, onde será mostrada a eles a imagem capturada, fazendo-os compreender o que realizaram ao expor um canto do universo nunca antes visto por olhos humanos.
FINANCIAMENTO E EQUIPE
A meta da campanha é levantar US$ 30 mil para apoiar a equipe local, a escola, os custos de materiais educacionais, arranjos logísticos para os estudantes durante a viagem dos americanos ao campo, as viagens da equipe, e os custos de produção cinematográfica. Com o financiamento integral, a equipe espera terminar o documentário até janeiro de 2016.
O projeto já tem 45 apoiadores, e já levantou US$ $4,281. O prazo para levantar o total esperado vai só até 6 de abril de 2015.
A equipe que participará do projeto contará com: a geoquímica Carolyn Crow, da Universidade da Califórnia em Los Angeles e fellow da NASA Earth and Space Sciences; o cientista planetário Paul Hayne, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA em Pasadena, Califórnia; o cineasta Hank Leukart, baseado em Los Angeles, também produtor de televisão e escritor; o geobiologista Jeff Marlow, do California Institute of Technology, que é o idealizador do projeto; e a oceanógrafa Alexis Pasulka, do Instituto de Tecnologia da Califórnia.
Para contribuir financeiramente para a campanha do projeto no Kickstarter, acesse
FONTE: O GLOBO
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