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Dias eram meia hora mais curtos há 70 milhões de anos


As camadas diárias e sazonais são visíveis nessa seção transversal do molusco rudista Torreites sanchezi. O destaque à direita mostra imagens microscópicas das lâminas diárias, em grupos provavelmente ligados aos ciclos de maré de 14/28 dias.
[Imagem: Niels J. de Winter et al. - 10.1029/2019PA003723]

Duração de um dia

A Terra girava mais rapidamente em torno do seu próprio eixo no final dos tempos dos dinossauros do que hoje.

Nosso planeta girava 372 vezes por ano, em comparação com as atuais 365 rotações. Isso significa que um dia durava apenas 23 horas e meia.

A duração de um ano tem sido constante ao longo da história da Terra porque a órbita da Terra ao redor do Sol não muda. Mas o número de dias dentro de um ano foi diminuindo ao longo do tempo porque os dias cresceram.

A conclusão foi tirada da análise de conchas fósseis de moluscos que viveram no final do Cretáceo e que foram encontradas no deserto de Omã.

O molusco, de um grupo já extinto e conhecido como rudistas, crescia rapidamente, criando anéis de crescimento diários, de forma parecida com os anéis anuais gerados pelas árvores. Os pesquisadores usaram raios laser para contar os minúsculos anéis de crescimento com mais precisão do que outros pesquisadores já haviam conseguido fazer usando microscópios.

Essa maior precisão permitiu determinar o número de dias em um ano e calcular com mais precisão a duração de um dia 70 milhões de anos atrás.

"Temos cerca de quatro a cinco pontos de dados por dia, e isso é algo que você quase nunca obtém na história geológica. Basicamente, podemos olhar para um dia há 70 milhões de anos. É incrível," entusiasma-se Niels de Winter, da Universidade Vrije de Bruxelas, na Bélgica.

Esta nova medição é importante para alimentar modelos de como a Lua se formou e a que distância ela tem estado da Terra está ao longo dos 4,5 bilhões de anos de história da dança gravitacional Terra-Lua, além de dar informações importantes para os modelos climáticos.

Distanciamento da Lua

A contagem cuidadosa de De Winter identificou 372 camadas diárias para cada intervalo anual. Isso não foi uma surpresa, porque já se sabia que os dias eram mais curtos no passado. O resultado, no entanto, é o mais preciso já disponível para o final do Cretáceo e tem uma aplicação surpreendente para modelar a evolução do sistema Terra-Lua.

Embora a duração de um ano tenha sido constante, a duração de cada dia tem crescido à medida que o atrito das marés dos oceanos, causadas pela gravidade da Lua, diminui a rotação da Terra. A interação por meio das marés acelera um pouco a Lua em sua órbita à medida que o giro da Terra diminui de forma correspondente.

Como resultado, a Lua se afasta da Terra - na atualidade, a Lua está se afastando da Terra a 3,82 centímetros por ano. Mas é fácil ver que a Lua não poderia estar retrocedendo ao ritmo atual ao longo de toda a sua história porque projetar esse distanciamento linearmente no tempo colocaria a Lua dentro da Terra há apenas 1,4 bilhão de anos.

A teoria mais aceita atualmente para a formação da Lua propõe que ela foi formada há mais de 4,5 bilhões de anos, quando um planeta hipotético chamado Teia chocou-se com a Terra e arrancou um pedaço, formando nosso satélite. Portanto, a taxa de afastamento da Lua em relação à Terra mudou ao longo do tempo e as informações do passado, como um ano na vida de um molusco antigo, ajudam os pesquisadores a reconstruir essa história e modelar a formação da Lua.


O estudo foi possível porque o molusco rudista crescia muito rapidamente.
[Imagem: Niels J. de Winter et al. - 10.1029/2019PA003723]

Oceanos mais quentes

Estudos como esse também ajudam a preencher a lacuna entre os modelos climáticos, que levam em conta intervalos temporais de eras geológicas, e os modelos meteorológicos de previsão do tempo, que levam em conta mudanças sazonais e variações nas escalas cotidianas de tempo.

Por exemplo, a análise química da concha indica que as temperaturas dos oceanos eram muito mais quentes no final do Cretáceo, atingindo 40 ºC no verão e superando os 30 ºC no inverno. Segundo Winter, as temperaturas do verão eram tão altas que provavelmente se aproximavam dos limites fisiológicos dos moluscos.

Mas novos dados serão necessários, porque a nova técnica por enquanto foi aplicada a um único indivíduo no registro fóssil, que viveu cerca de nove anos no fundo de um mar raso nos trópicos - um local que é agora, 70 milhões de anos depois, terra seca nas montanhas de Omã.

Bibliografia:

Artigo: Subdaily-Scale Chemical Variability in a Torreites Sanchezi Rudist Shell: Implications for Rudist Paleobiology and the Cretaceous Day-Night Cycle
Autores: Niels J. de Winter, Steven Goderis, Stijn J.M. Van Malderen, Matthias Sinnesael, Stef Vansteenberge, Christophe Snoeck, Joke Belza, Frank Vanhaecke, Philippe Claeys
Revista: Paleoceanography and Paleoclimatology
DOI: 10.1029/2019PA003723

FONTE: SITE INOVAÇÃO TECNOLOGICA

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