
A Terra tem sete irmãos planetários (desculpa, Plutão, sentimos muito sua exclusão). Uma família que, agora se sabe, é muito grande para os padrões da nossa galáxia. O observatório espacial Kepler identificou mais de mil sistemas planetários nos últimos anos, e 80% deles é composto por estrelas de filho único. Isso mesmo, um só planeta solitário em órbita.
O mais curioso é que não há meio termo na prole de poeira e gás: os outros 20% que optaram por uma família maior não costumam possuir dois ou três planetas, mas sete ou oito. Esse problema de 8 ou 80 foi denominado “dicotomia Kepler”. Agora, os pesquisadores Christopher Spalding e Konstantin Batygin, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos, acreditam ter encontrado uma explicação para tanta solidão — e a culpa é das próprias estrelas.
A dupla de pesquisadores propôs em um artigo publicado no periódico The Astrophysical Journal que estrelas jovens de rotação muito rápida podem estar arremessando seus planetas para fora de suas órbitas.
A explicação é a seguinte: no nosso Sistema Solar, todos os astros, com exceção de Plutão, giram quase no mesmo plano. Isso significa que, em um modelo em três dimensões, as órbitas dos planetas formariam um CD, e não algo parecido com um átomo, em que cada elétron gira em um ângulo diferente.

Isso acontece porque nosso sistema nasceu de um disco protoplanetário, ou seja, um acúmulo de gás e poeira no entorno de uma estrela jovem com matéria-prima suficiente para dar à luz um novo astro.
Se uma estrela jovem gira muito rápido, ela deixa de ser perfeitamente redonda. Se ela não é perfeitamente redonda, seu campo gravitacional se torna traiçoeiro e pode dar um pontapé em escala cósmica em planetas menores, com a órbita mais fechada. Esse “peteleco” tira os pequenos rochosos do plano em que foram formados e, por consequência, do campo de visão do Kepler, que vê com mais facilidade planetas que passam diretamente na frente de suas estrelas.
Essa hipótese não é a única proposta razoável para o surto de sumiço coletivo. Também há o risco de que em pelo menos 18% dos casos de filho único registrados pelo observatório o culpado seja um gigante gasoso oculto. Uma espécie de Júpiter do lado negro da força com uma órbita grande demais para ser detectada pelo Kepler, mas massivo o suficiente para jogar futebol gravitacional com planetas menores. O bullying é grave: os pequenos podem ser arremessados na própria estrela ou exilados de vez na escuridão do espaço aberto.
Já uma terceira hipótese é um pouco mais pacífica: talvez os gigantes gasosos estejam simplesmente ocultando planetas menores atrás de si, em uma dança coordenada — compreensível, afinal, não seria fácil ver a Terra atrás de Júpiter de alguns anos-luz de distância.
Segundo especialistas, na prática é razoável pensar que as três coisas ocorram com alguma frequência. “Há tantos sistemas de um planeta só que vários mecanismos podem estar envolvidos”, afirmam os astrofísicos Dong Lai and Bonan Pu, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, em entrevista à New Scientist. “É provável que não haja uma explicação única para todos esses sistemas.”
FONTE: REVISTA GALILEU
Comentários
Postar um comentário