
Papagaio kea ou papagaio-da-Nova-Zelândia usa a probabilidade para conseguir comida e se iguala chimpanzés e humanos em habilidade — Foto: Amalia Bastos/Acervo Pessoal
Brasileira lidera o estudo que comprovou que inteligência das aves é similar à humana.
Por Gabriela Brumatti, Terra da Gente
Imagine um pote transparente com balas de duas cores diferentes: azuis e vermelhas. As azuis são suas prediletas e estão em maior quantidade no recipiente. Você tira uma bala do pote sem olhar a cor. A chance de ter pego sua preferida é maior, já que há mais exemplares delas no pote, certo?
Você pode ter tentado tirar a matemática de sua vida, mas até o raciocínio acima leva em conta um conceito dessa disciplina: a probabilidade, ou seja, o cálculo da chance de uma situação acontecer ou não. E foi através desse conceito que a pesquisadora carioca Amalia Bastos, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, descobriu que uma espécie de papagaio com um cérebro do tamanho de uma noz, é capaz de tomar decisões depois de combinar dados dessa estatística.

O kea é uma espécie exclusiva da Nova Zelândia que mede, em média, 48 cm de comprimento e atinge cerca de 900 gramas — Foto: Amalia Bastos/Acervo Pessoal
O estudo fez um experimento muito semelhante ao exemplo das balas e os papagaios kea (Nestor notabilis) sabiam avaliar a probabilidade e fazer escolhas certas, mesmo quando os potes apresentavam divisões que poderiam enganar quanto à quantidade de objetos em seu interior. A habilidade de combinar diferentes tipos de informação ao mesmo tempo para tomar uma única decisão, até então, era conhecida apenas em humanos e chimpanzés.
"Nosso experimento simplesmente provou o que muitos de nós imaginávamos: a inteligência das aves é relativamente similar à nossa e capaz de resolver problemas de forma generalizada"
— Amalia Bastos (bióloga)

Entenda o experimento feito com os papagaios kea da Nova Zelândia que provou a capacidade do animal de calcular probabilidade — Foto: Arte/TG
O estudo foi realizado na reserva natural Willowbank Wildlife Reserve, na cidade de Christchurch, por quatro estudantes permanentes, alguns voluntários e alunos sazonais. O experimento levou em torno de três meses, mas há mais tempo pesquisas monitoram as treze aves do local que receberam nomes inspirados em vilões famosos como Moriarty (das histórias de Sherlock Holmes) e Loki (dos quadrinhos do herói Thor). Esses apelidos têm relação com a reputação do animal tida como travessa e destruidora de objetos como carros e antenas parabólicas.

Pagaios kea são bons em jogos de cálculos estatísticos e foram treinados para trocar objetos por comidas — Foto: Amalia Bastos/Acervo Pessoal
A bióloga Amalia Bastos, formada pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, admite que desde criança tinha um pequeno zoológico no quintal e, observando os pássaros que frequentavam sua casa, percebia que as aves eram inteligentes, motivo que a fez estudar a cognição animal. A pesquisa dela atualmente envolve, além do papagaio exclusivo da Nova Zelândia, o corvo da Nova Caledônia, uma pequena ilha no Pacífico onde passa três meses por ano, e o cão doméstico.
“A Nova Zelândia para mim foi uma completa surpresa. Antes do meu doutorado, só conhecia esse país pela reputação de Terra Média, dos filmes inspirados pelos livros ‘O Senhor dos Anéis’, do Tolkien. Quando me mudei para cá, conheci a incrível fauna local”, vibra a pesquisadora que admite que o kea se tornou sua espécie favorita.

O papagaio precisava apontar uma das mãos da pesquisadora com o bico para saber se adquiriu a peça certa e poderia ser recompensado com comida e, para isso, usava probabilidade — Foto: Amalia Bastos/Acervo Pessoal
E há explicações para essa espécie de papagaio ser tão inteligente: os kea enfrentam a escassez de alimentos, vivem muitas interações sociais nos grupos com mais de 50 indivíduos e evoluíram sem predadores, o que os permitiu manifestar mais comportamentos.
“Não me surpreenderia se os psitacídeos (família de araras, maritacas e papagaios) brasileiros também apresentassem o mesmo nível de inteligência. São aves que experimentam pressões evolutivas semelhantes, portanto, provavelmente evoluíram uma inteligência a um nível similar à do kea”, explica a pesquisadora que pretende continuar os estudos com a espécie.

Aves são consideradas animais inteligentes e alvo de estudos por capacidades curiosas — Foto: Arte/TG
FONTE: G1.COM
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