Camadas superiores do disco analógico que pode ser acessado por meio de microscópio (Foto: Arch Mission Foundation/Bruce Ha)
Por Patrícia Gnipper
A israelense SpaceIL enviou à Lua a nave Beresheet na semana passada, e assim que chegar a seu destino se tornará a primeira empresa privada a realizar uma missão presencial em nosso satélite natural, ainda que a nave não seja tripulada. E a bordo da nave, está um disco com 30 milhões de páginas de documentos que servem como uma cartilha sobre o conhecimento humano, contendo textos, fotos e símbolos.
Com isso, a ideia é criar uma "biblioteca lunar" como parte de uma iniciativa ainda maior de criar um arquivo galáctico da Terra. Se a ideia não parece lá muito original, é porque algo parecido já aconteceu antes: as sondas Voyager, enviadas pela NASA em 1977 para estudar o Sistema Solar (e hoje já estão começando a entrar no espaço interestelar), levaram consigo um disco de ouro contendo sons, imagens e mensagens da Terra como uma "mensagem na garrafa" espacial — a ideia é, caso um dia alguma civilização alienígena as encontre, que conheça um pouco da essência da humanidade, mesmo se isso acontecer quando nós já não estivermos mais por aqui.
O arquivo a bordo da Beresheet tem o tamanho de um DVD e é composto por 25 discos de filme de níquel, fabricados sob encomenda pela NanoArchival para que a Arch Mission Foundation (AMF) fizesse o armazenamento das informações em formatos analógico e digital. A ideia é que o dispositivo consiga suportar as temperaturas extremas e alta radiação do espaço por bilhões de anos — ainda que não tenhamos a certeza de que isso será possível.
As gravações analógicas podem ser acessadas por meio de um microscópio de baixa potência e, ao todo, contêm 60 mil imagens de documentos, fotografias, livros e ilustrações. Entre as milhares de páginas, consta uma cópia do disco Wearable Rosetta da Long Now Foundation, com um guia de linguística de mais de mil idiomas humanos. Também há uma cartilha com mais de um milhão de conceitos com fotografias e palavras correspondentes em vários dos principais idiomas da Terra. E, claro, as camadas analógicas trazem instruções técnicas de como acessar as camadas digitais do dispositivo, que gravam conhecimentos científicos e de engenharia necessários para decodificar os formatos dos arquivos. Ah, e o conteúdo digital inclui uma cópia completa da Wikipédia em inglês.
A ideia, ainda, é enviar mais discos do tipo para a Lua, contendo ainda mais documentações da humanidade. Outra missão do tipo acontecerá em 2020, e a fundadora da AMF, Nova Spivack, explica ainda que o envio de um "dossiê" da humanidade para o espaço não se trata apenas da possibilidade de alienígenas aprenderem sobre nós. Ela diz que "a rede interplanetária dos locais de backup que iniciamos pode até mesmo ajudar a habilitar uma internet interplanetária" no futuro. A AMF espera configurar esses tipos de bibliotecas em vários postos no espaço para que equipes as decodifiquem e as acessem como uma maneira de oferecer uma solução à demora que temos na transmissão de informações por largura de banda entre Terra e missões espaciais.
A empresa ainda não divulgou oficialmente todo o conteúdo que foi adicionado à carga, mas promete que anunciará os materiais aos poucos. "Estamos anunciando apenas alguns dos conteúdos da biblioteca agora por causa das várias parcerias que temos. Muito mais conteúdo será revelado, mas obviamente há muita coisa e seria avassalador tudo de uma vez. Nosso objetivo é ser o mais abrangente possível", declarou a empresa. Entre as parcerias que a AMF citou, estão trabalhos com organizações sem fins lucrativos, como o Project Gutenberg e a Wikimedia Foundation.
FONTE: Cnet, Gizmodo, Arch Mission via canaltech.com.br
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