
MODELO DA ESTRUTURA DE MOTIVO INTERCALADO (APELIDADA DE I-MOTIF). ELA GANHOU ESSE NOME POR TER UM PADRÃO DE NÓ TORCIDO (FOTO: NATURE CHEMISTRY/ REPRODUÇÃO)
O novo formato ganhou o nome de "estrutura de motivo intercalado" (e o apelido de i-motif): a descoberta revela que o DNA das células é ainda mais complexo do que se imaginava
Aciência acaba de ganhar um novo (e inesperado) apêndice. Um grupo de estudiosos do Instituto Garvan de Pesquisas Médicas, na Austrália, descobriu uma diferente estrutura de DNA das células humanas.
Apesar de o modelo da dupla hélice, formalizado em 1953 por James D. Watson e Francis Crick, ser o mais conhecido, há outros formatos de DNA em organismos vivos.A descoberta revela que o DNA das células é ainda mais complexo do que se imaginava.
Nomeado de estrutura de motivo intercalado (intercalated motif structure, em inglês), ganhou o apelido de "i-motif”, visto seu formato de nó torcido.
“A maioria de nós, quando pensa em DNA, lembra da dupla hélice”, afirma o pesquisador de anticorpos terapêuticos Daniel Christ, do Instituto Garvan de Pesquisas Médicas. “Esse recente estudo nos mostra que existe também uma estrutura totalmente diferente e que pode ser muito importante para nossas células”, completa.
O i-motif foi descoberto em 1990, mas apenas em células in vitro. Somente agora ele foi avistado em células vivas. Ele ocorre em células humanas normais, o que significa que esse é um modelo importante para o funcionamento do organismo.
“A estrutura de motivo intercalado é um nó de quatro filamentos do DNA”, explica o geneticista Marcel Dinger, coautor do estudo. “Nesse modelo, as letras C (citosina) da mesma cadeia de DNA se ligam entre si – isso é muito diferente do que ocorre na hélice dupla, em que cadeias opostas se reconhecem e os C se ligam os G (guanina)”, completa.
Segundo um pesquisador do grupo, a i-motif é uma das várias estruturas de DNA que não possuem a forma de dupla-hélice – tais como o DNA-A, DNA-Z, a tripla hélice e o DNA cruciforme, modelos que podem existir em nossas células.
Outro modelo de estrutura de DNA é o de hélice quádrupla (G4), visualizado pela primeira vez em 2013. Esse formato foi descoberto por pesquisadores de células humanas, que fizeram uso de um anticorpo manipulado para achar o G4 dentro das células.
Nesse novo estudo, os pesquisadores do Instituto Garvan utilizaram a mesma técnica para encontrar a estrutura de motivo intercalado, utilizando apenas outro anticorpo conhecido por iMab. O iMab é capaz de reconhecer os nós torcidos, iluminando sua localização na célula com uma imunofluorescência.
“O que nos deixou mais animados é que pudemos ver pontos verdes – as estruturas – aparecendo e desaparecendo com o tempo, então sabíamos que elas estavam se formando, dissolvendo e formando de novo”, explicou um dos autores do estudo.
As estruturas i-motifs existem na região dos promotores, áreas do DNA em que é feito o controle dos genes que serão ativados e desativados. Também são encontradas nos telômeros, marcadores genéticos associados ao envelhecimento.
“É provável que as estruturas i-motifs estão ali para ligar e desligar genes e para influenciar se um gene é lido ativamente ou não”, conta um dos autores.
Agora que essa nova forma de DNA foi descoberta, os pesquisadores desejam entender o que elas exatamente fazem em nosso corpo – tanto o i-motifs quanto os outros modelos (DNA-A, DNA-Z, a tripla hélice e o DNA cruciforme).
“Essas formas alternativas de DNA podem ser importantes para as proteínas das células reconhecerem suas sequências cognatas de DNA e exerçam suas funções regulatórias.
Portanto, a formação dessas estruturas pode ser de extrema importância para uma célula funcionar normalmente. E qualquer aberração nessas estruturas pode acarretar em consequências patológicas”, afirma um dos cientistas.
A pesquisa foi publicada no periódico científico Nature Chemistry.
FONTE: REVISTA GALILEU
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