Por: Matt Novak
Em 1999, David Bowie concedeu uma entrevista para Jeremy Paxman na BBC. Bowie explica que se fosse uma criança nos anos 1990, não teria se tornando um pop star. Em vez disso, ele provavelmente teria se tornado um obcecado em internet. Por quê? Bowie diz que era ali que as coisas potencialmente interessantes – coisas caóticas, niilistas e realmente rebeldes – estavam acontecendo.
Mas o entrevistador, Paxman, não ficou convencido. Bowie teve uma discussão com o jornalista, que em um ponto diz que as previsões feitas sobre o futuro da internet eram um “enorme exagero”. Bowie responde com um pouco de sarcasmo lembrando que as pessoas duvidavam que coisas como o telefone iriam mudar o mundo.
“Não acho que tenhamos visto sequer a ponta do iceberg. Acho que o potencial do que a internet irá fazer para a sociedade, tanto para o bem quanto para o mal, é inimaginável”, explicou Bowie à BBC. “Eu acho que na verdade estamos à beira de algo alucinante e terrível.”
Você pode assistir toda a entrevista no YouTube (em inglês), mas destaquei e transcrevi as partes mais importantes abaixo.
“A internet carrega a bandeira para o subversivo e possivelmente rebelde e caótico e niilista…”, diz Bowie antes do entrevistador começar a interrompê-lo.
“Ah sim, é. Esqueça o elemento Microsoft, os monopólios não têm um monopólio… talvez em programas…”, comenta antes que Paxman possa interromper de fato seu pensamento.
“O que você gosta é o fato de que qualquer pessoa pode falar qualquer coisa, ou fazer qualquer coisa,” diz Paxman incrédulo, mais como uma afirmação do que como uma pergunta.
E é a partir desse momento que Bowie chega num estágio das suas visões para o futuro que talvez melhor defina a segunda década do século 21 – uma era onde todos, de atores, músicos, até o presidente dos Estados Unidos, se comunicam com audiências enormes simultaneamente. Bowie fala sobre quebrar as barreiras entre artista e audiência, e o quanto isso o fascina.
“Eu realmente abraço a ideia de que há um novo processo de desmistificação entre o artista e a audiência”, conta Bowie. Ele continua falando sobre como os anos 80 e 90 touxeram uma enorme fragmentação entre os gêneros musicais, que ele vê como algo positivo para estabelecer comunidades interessantes.
“Mas o que isto tem especificamente com a internet?”, pergunta Paxman. “Qualquer pessoa pode dizer qualquer coisa, e tudo isso se resume ao quê? Parece-me que não há nada coeso sobre isso da maneira que havia algo coeso com a Youth Revolution na música.”
“Ah, absolutamente”, diz Bowie. “E eu acho que é porque na época, até pelo menos os meados dos anos 70, nós sentíamos que estávamos vivendo sob uma sociedade única, absoluta – onde haviam verdades conhecidas e mentiras conhecidas e não existia nenhum tipo de duplicidade ou pluralismo sobre as coisas em que acreditávamos.”
“Isso começou a ser derrubado rapidamente nos anos 70″, continua Bowie. “E a ideia da dualidade da maneira que vivemos – há sempre dois, três, quatro, cinco lados de cada questão. Aquela singularidade desapareceu. E acredito que isso produziu um meio como a internet, que se estabelece e nos mostra que estamos vivendo em total fragmentação.”
Paxman expressa um enorme ceticismo sobre a ideia da internet ter um grande impacto no mundo. E Bowie não deixa de ridicularizar essa linha de pensamento.
“Você tem que pensar que algumas das afirmações que estão sendo feitas para a internet são extremamente exageradas, quero dizer, quando o telefone foi inventado…” Paxman começa.
“Claro que sim,” Bowie interrompe com um sorriso sarcástico.
“… as pessoas fizeram afirmações surpreendentes…” diz Paxman tentando terminar seu ponto.
“Eu sei, o presidente na época, quando o telefone foi inventado… Era um absurdo”, continuou Bowie. “Ele disse que previa o momento em que todos os lugares da América teriam telefones. Como ele se atreveria a dizer isso. Besteira.”
“Você percebe, eu não concordo”, diz Bowie. “Acho que nem vimos a ponta do iceberg. Acho que o potencial do que a internet irá fazer para a sociedade, tanto para o bem quanto para o mal, é inimaginável. Eu acho que na verdade estamos à beira de algo alucinante e terrível”.
“É apenas uma ferramenta, não é?” Paxman diz, claramente ainda acreditando que Bowie está tirando algo do nada.
“Não, não, é uma forma de vida alienígena”, diz Bowie rindo.
“O que você acha então…”, Paxman diz.
“Existe vida em Marte?” Bowie dispara de volta. “Sim, acabou de pousar aqui.”
“Mas é simplesmente um sistema diferente”, diz Paxman. “Você está discutindo sobre algo mais profundo.”
“É, estou falando sobre o contexto real e a forma que o conteúdo irá tomar, que será tão diferente de qualquer coisa que podemos imaginar no momento”, diz Bowie. “A interação entre o usuário e o provedor será tão sincronizada que vai modificar nossas ideias sobre os meios.”
Nesta semana David Bowie completaria 70 anos e hoje (10) faz exatamente um ano que o cantor morreu. No Plan, EP que reúne as últimas gravações do artista, está sendo lançado. Há também um clipe da faixa título no YouTube.
FONTE: GIZMODO BRASIL
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