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Talvez não seja necessário bombardear (tanto) Marte para torná-lo habitável



A terraformação de Marte pode ser a nossa única escolha quando estragarmos nosso planeta de vez, mas como exatamente vamos fazer isso? Uma ideia é lançar ogivas nucleares nos polos, soltando bilhões de toneladas de dióxido de carbono congelado e desencadeando um efeito estufa.

Mas se mandar seus filhos para viver em uma Chernobyl extraterrestre soa desagradável, boas notícias! Pode haver uma maneira mais pacífica de aquecer Marte: dando-lhe um céu nublado.

Marte atualmente é um deserto congelado, mas leitos de rio antigos sugerem um passado muito mais quente, úmido e vibrante. Como exatamente o planeta vermelho poderia ter mantido um clima parecido com a Terra há 3,8 bilhões de anos?

Isso é um mistério, dado que Marte antigo recebia apenas 75% da radiação solar que Marte atual. Isso se traduz em cerca de um terço da luz solar recebida pela Terra moderna. Ainda assim, de alguma forma, isso foi o suficiente para manter a temperatura acima de zero.

De acordo com um estudo aceito para publicação na revista Icarus, uma camada de nuvens de alta altitude poderia ter ajudado. Se estiver correta, essa hipótese pode apontar novas estratégias para tornar Marte habitável mais uma vez no futuro.

“Eu acho que todo mundo está praticamente de acordo em uma coisa: CO2 e vapor de água não foram suficientes para aquecer Marte até o ponto de fusão do gelo”, diz Ramses Ramirez, principal autor do estudo, ao Gizmodo. “Para ser quente o suficiente a ponto de suportar água líquida na superfície, a atmosfera provavelmente precisava de alguns gases suplementares ou nuvens. Talvez as duas coisas.”


Ravinas geladas nas planícies do norte de Marte (NASA/JPL/University of Arizona)

O poder das nuvens
Enquanto a maioria dos pesquisadores supõe que o ar de Marte continha CO2 e vapor de água há 3,8 bilhões de anos, vem sendo sugerido que outros gases – incluindo o dióxido de enxofre (SO2), metano (CH4) e gás hidrogênio (H2) – podem ter influenciado o clima também.

Ainda assim, os modelos que dependem de gases de efeito estufa por si só têm dificuldade em produzir climas quentes e estáveis ​​em Marte a longo prazo. Um número crescente de astrobiólogos agora está migrando para explicações alternativas.

Uma dessas explicações envolve nuvens. “Nuvens absorvem e refletem a radiação”, diz Ramirez. “Dependendo de suas propriedades e localização na atmosfera, elas podem ajudar a aquecer ou resfriar um planeta.”

Na Terra, nuvens de baixa altitude tendem a dispersar mais radiação de volta ao espaço do que absorvem da superfície, produzindo um efeito geral de resfriamento. Por outro lado, cirros de maior altitude muitas vezes aquecem a atmosfera subjacente em até dez graus Celsius.

Em 2013, um estudo liderado pela NASA usou modelos climáticos globais em 3D para explorar a possibilidade de que nuvens de água em grandes altitudes poderiam ter mantido Marte quente no passado.

Os resultados iniciais foram promissores: se uma quantidade suficiente de vapor d’água chegasse à atmosfera, digamos, após o impacto de um asteroide grande vaporizar gelo na superfície, a camada de nuvem resultante poderia ter prendido calor suficiente para manter o clima quente o bastante para a água líquida. Mas esses modelos ficaram aquém de determinar quanta cobertura de nuvens seria necessária.

Estratégias de terraformação
É aí que entra o estudo de Ramirez. Usando um modelo climático simplificado que permite aos pesquisadores ajustar coisas como espessura da nuvem e tamanho das partículas de gelo, Ramirez e seu coautor James Kasting determinaram que seria necessária uma camada de cirros de 75% de cobertura ou mais.

Isso é muita nuvem. Para efeito de comparação, cerca de 50% da superfície do nosso planeta é coberta de nuvens a qualquer momento, e só metade delas são da variedade cirro de grande altitude. Ainda assim, é possível que o Planeta Vermelho tenha sido coberto, no passado distante, por uma névoa que retêm o calor? Nós não podemos descartar isso, diz Ramirez.

“Essas nuvens cirros elevadas pode parecer fora da realidade, mas também poderiam ter sido algo realmente especial sobre o passado de Marte”, diz ele. “Isso é algo que deixamos como uma questão em aberto.”

Na verdade, responder a essa pergunta vai ser difícil. Levantamentos geológicos mais detalhados de Marte ajudariam, especialmente se pudermos entrar em contato com rochas de quatro bilhões de anos atrás – que abrigam pistas sobre a atmosfera antiga do planeta – ou, melhor ainda, fósseis de vida antiga. “Nós realmente precisamos de paleontólogos indo a Marte”, diz Ramirez.

Conceito artístico de Marte durante todo o processo de terraformação (Wikimedia)

Claro, quem aspira viver em Marte está mais preocupado com o seu clima futuro do que o passado. Então semear nuvens seria uma boa estratégia de terraformação? Eu coloquei essa questão para Chris McKay, astrobiólogo no centro de pesquisa Ames da NASA, que vem liderando a discussão científica sobre terraformação de Marte desde os anos 1990.

“Esta é uma sugestão muito interessante com implicações úteis para o kit de ferramentas de terraformação”, diz McKay por e-mail. “Ela ilustra bem o argumento de que aquecer Marte no passado é o modelo para aquecer Marte no futuro.”

McKay observou que, embora o estudo de Ramirez exija um impacto para gerar a cobertura de nuvens inicial em Marte antigo, os seres humanos podem provocar o mesmo processo usando a tecnologia. “Os parâmetros para as nuvens são bastante específicos e talvez improváveis, mas poderíamos controlar ativamente este processo – uma opção não disponível em Marte antigo”, acrescentou.

É claro, nós precisamos de muita água para cobrir Marte em nuvens, e a melhor maneira de obtê-la poderia ser jogando armas nucleares nos polos congelados. Ainda assim, ao manipular com cuidado a cobertura de nuvens, é possível que não precisemos lançar tantas bombas em nosso futuro lar.

“Você poderia desencadear o efeito estufa bombardeando os polos, mas você precisa de muitas bombas, o que significa uma grande quantidade de radiação”, diz Ramirez. “Nuvens cirros provavelmente poderiam ajudar no aquecimento.”

Chasma Boreale e a calota polar norte de Marte (NASA/JPL/Arizona State University, R. Luk)

FONTE: GIZMODO BRASIL

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